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Neurocientista de "Westworld": é possível comportamento humano em androides

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Imagem: Reprodução

Rodrigo Trindade

Do UOL, em São Paulo

06/05/2018 04h00

A inteligência artificial está no centro da história da série "Westworld", cuja segunda temporada começou há apenas duas semanas. Com esse elemento importante de ciência e tecnologia na narrativa, a série da HBO contratou um “assessor científico” para garantir que o roteiro e ações de seus personagens tivessem alguma lógica, sem cair para questões incompreensíveis.

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A revista “Science” conversou com o neurocientista David Eagleman, que trabalha na universidade Stanford e acabou, por acaso, ajudando na construção da segunda temporada da série. Ele inaugurou o cargo dentro do programa, para sua própria surpresa, já que a temporada inaugural não tinha um conselheiro científico. Na conversa falou, claro, sobre androides com nível de consciência e como isso pode estar atrelado ao comportamento humano. Veja as principais revelações feitas por ele:

A criação de androides "calmos"

Acho que podemos criar androides que se comportam como humanos, mas que não sejam agressivos. Muito do comportamento humano tem a ver com questões evolucionárias. Coisas como competição pela sobrevivência, para acasalar, para comer. Isso forma toda nossa psicologia.

Então androides, não possuindo essa história, certamente apareceriam com uma psicologia totalmente diferente. Eles não teriam os mesmos tipos de emoção que nós, se eles tiverem elas, ponto. E isso está ligado à questão se eles sequer terão consciência – qualquer experiência interna.

A vantagem dos robôs com memória

Humanos têm memória para que possamos usar nossa experiência para evitar repetir erros. Mas memória é também o que nos permite simular o futuro, como mostraram as décadas recentes de pesquisa na neurociência. Memória nos permite escrever esses blocos de fundação para construir nosso modelo do que acontece depois. Então uma das vantagens de dar aos robôs memórias vívidas, em teoria, seria para direcionar melhor como eles constroem futuros.

Incertezas: coisa de humano

Em meu livro "Incognito", eu descrevo o cérebro como um time de rivais, com o que eu quero dizer que você tem todas essas redes neurais competidoras que querem coisas diferentes. Se eu te ofereço um sorvete de morango, parte do seu cérebro quer comê-lo, parte do seu cérebro diz, “não coma, você vai engordar”. Somos máquinas construídas de muitas vozes diferentes e isso é o que torna humanos interessantes, complexos e cheios de nuances.

No final da primeira temporada, um dos androides, Maeve, finalmente entra no trem para fugir de "Westworld" e ela decide que irá voltar atrás de sua filha. Ela está dividida, conflitando. Se os androides têm uma única voz interna, eles perderão muito da coloração emocional que humanos têm, como arrependimento e incerteza e assim por diante. 

O que aprendeu com Westworld

O programa me força a considerar qual nível de inteligência é necessário para nos fazer acreditar que um androide é consciente. Como humanos, estamos prontos para antropomorfizar qualquer coisa. Considere o último episódio, em que os androides em uma festa e enganam uma pessoa a pensar que eles são humanos, simplesmente porque eles tocam o piano de uma forma, ou tiram os óculos para limpá-los, ou apenas fazem expressões faciais engraçadas. Assim que robôs passarem o teste de Turing, vamos provavelmente reconhecer que não é tão difícil nos enganar.