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TV inglesa: Por dinheiro, Facebook não excluiu páginas que violaram regras

Rodrigo Trindade

Do UOL, em São Paulo

18/07/2018 17h16

A moderação de conteúdo do Facebook não avalia violações idênticas da mesma maneira. É o que apurou um documentário do Channel 4, canal de TV britânico que infiltrou um repórter na Cpl, uma empresa irlandesa terceirizada responsável por ajudar na análise de conteúdos que podem (ou não) estar em desacordo com as regras de uso da rede social.

No período em que o jornalista trabalhou dentro da Cpl, ele constatou que páginas costumavam ser deletadas pelo Facebook se postassem cinco ou mais conteúdos que violassem os termos do serviço. Só que tal procedimento não era adotado em casos de páginas populares.

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O documentário cita duas páginas de extrema-direita, a do ativista Tommy Robinson e a do ex-partido político Britain First, como exemplos. Ambas quebraram as regras do Facebook em múltiplas ocasiões, porém por serem populares, receberam um tratamento especial: tiveram seus materiais repassados a uma moderação interna por funcionários do Facebook, que daí tomavam ou não a decisão de excluir a página.

A página do Britain First foi banida e março de 2018, seis meses depois de o partido ter seu registro político cancelado uma semana após seus líderes irem para a cadeia por uma série de crimes de ódio contra muçulmanos - Robinson também está preso.

O repórter infiltrado do Channel 4 ouviu de moderadores do Cpl que a página do Britain First foi mantida no ar porque "eles tinham muitos seguidores, então eles geram muita receita para o Facebook". A empresa negou, por meio de seu chefe de políticas públicas, Richard Allan.

"Quero ser claro que isso não é uma discussão sobre dinheiro. É uma discussão sobre discurso político. Pessoas estão debatendo questões sensíveis no Facebook, inclusive imigração. E esse debate político pode ser inteiramente legítimo", explicou. "Eu acredito que ter revisores extra quando o debate está ocorrendo faz todo sentido e acho que as pessoas esperariam cautela e cuidado da gente antes que derrubássemos seu discurso político."

Outro detalhe mencionado pelo documentário é que os moderadores deveriam fazer vista grossa a evidências visuais que sugerissem que certos usuários teriam menos do que 13 anos, idade mínima para usar a plataforma nos Estados Unidos e Europa. Allan também negou essa política, afirmando que, se um usuário é denunciado como menor de 13 anos, os moderadores devem analisar o perfil e tentar estimar a idade.

"Se eles acreditarem a pessoa tem menos de 13 anos, a conta será suspensa. Isso significa que eles não podem usar o Facebook até provarem a idade", comentou o diretor de políticas públicas, que ainda disse que a empresa irá investigar porque os moderadores ou treinadores da Cpl sugeriram o contrário.