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Até 430 km/h! O que faz um trem-bala tão rápido?

Trens de alta velocidade estão em quase todos os continentes - Arte UOL/iStockphoto
Trens de alta velocidade estão em quase todos os continentes Imagem: Arte UOL/iStockphoto

Rodrigo Trindade

Do UOL, em São Paulo

25/10/2018 04h00

Promessa de governantes recentes, o trem de alta velocidade, apelidado de trem-bala, é uma realidade distante do brasileiro, mas não deixa de ser um meio de transporte fascinante do ponto de vista tecnológico. Capaz de levar centenas de passageiros em composições que se deslocam a partir de 150 km/h, esse tipo de trem é uma peça-chave nos sistemas ferroviários de países europeus e asiáticos.

Milhões de pessoas usam esses sistemas mundo afora, podendo viajar em altíssima velocidade com mais conforto (e menos burocracia) do que em aviões e levando menos tempo para chegar no destino do que em um ônibus de turismo.

Mas qual a diferença dessas composições supervelozes, se comparadas com as tradicionais? Em teoria, não é tão grande assim.

É uma questão de qualidade dos trilhos e das rodas, do alinhamento da estrutura

Joseph Youssif Saab Junior, coordenador do curso de engenharia mecânica do Instituto Mauá de Tecnologia

"No Brasil temos uma quantidade enorme de linhas férreas da época do império, em que você tem que limitar a velocidade dos trens a 30 ou 40 km/h. Já o metrô tem uma fundação bem apropriada, trilhos alinhados e consegue em geral a 70, 80 km/h, mas conseguem chegar a mais", explica.

"É sempre uma questão de precisão do alinhamento dos trilhos e do contato das rodas. Você não compra um trem bala e põe na estrutura que tem no Brasil."

Quando o trem-bala surgiu?

A revolução dos trens de alta velocidade, nome oficial do trem-bala, veio um pouco antes da Olimpíada de 1964, realizada em Tóquio. O primeiro Shinkansen, como o trem é chamado no Japão, foi inaugurado no início de outubro de 1964, dias antes do início dos Jogos Olímpicos. Ele foi construído para realizar o trajeto entre Tóquio e Osaka, as maiores cidades do país, separadas por mais de seis horas de viagem nos trens tradicionais.

ENTENDA A TECNOLOGIA POR TRÁS...

O tempo para percorrer os 397 km que separam as duas cidades caiu para a casa de quatro horas com a primeira versão do Shinkansen, que um ano depois, em 1965, já foi aprimorado para realizar a viagem em pouco mais de três horas. Embora diferente para época, o exemplo japonês não serviu tanto de influência para o resto do mundo, que correu atrás de tecnologias semelhantes.

Países europeus e os Estados Unidos desenvolveram suas próprias versões de trens de alta velocidade, sendo que a França foi quem se destacou como referência para os demais. "Um padrão mais comum (que o Shinkansen) é o da Alstom, que surgiu na França (em 1981) e se espalhou mais. O caso japonês é mais isolado e de butique", diz Saab.

Uma outra fronteira de velocidade

Em paralelo ao desenvolvimento de trens de alta velocidade que circulam por trilhos tradicionais estão as pesquisas e testes com os comboios de levitação magnética, conhecidos como maglev.

Os experimentos com essa tecnologia datam do início do século 20, mas a aplicação em trens comerciais só ocorreu no Reino Unido em meados de 1980, com composições que circulavam com velocidades baixas.

O maglev é, no entanto, responsável pela linha comercial de maior velocidade na atualidade. Ela tem 30 quilômetros de extensão e está localizada nos arredores de Xangai, na China, trajeto que é realizado em apenas oito minutos, durante os quais o trem alcança a velocidade de 430 km/h.

Movido a base de ímãs de um lado e eletroímãs do outro, o maglev já teve testes realizados no Japão que passaram da barreira dos 600 km/h.

A tecnologia ainda não está madura o suficiente para ser implementada em larga escala, por isso ela ainda não tem uma presença significativa nos rankings de linhas mais rápidas do mundo. Mas além da velocidade, a levitação magnética tem outras vantagens.

Não tem atrito direto com o trilho, simplesmente não encosta. Toda aquela energia que você gastava está disponível para acelerar o trem

Saab

"Uma primeira vantagem é que não tem muito desgaste para manutenção constante", detalha. Este tipo de trem, conta o especialista, não é adotado em larga escala por questões tecnológicas. "Os eletroímãs não funcionam bem quando aquecidos e, como o trem é muito longo, ele acaba aquecendo os eletroímãs."

Quem vive no futuro?

O coordenador do curso de engenharia mecânica aponta os japoneses como os mais avançados nas pesquisas desta área na atualidade, embora a China seja o país com a maior extensão de trilhos de alta velocidade no mundo. Tanto que é no Japão onde os testes com maglev estão mais avançados, com projetos de adoção em grande escala.

A vantagem de apostar em um sistema ferroviário robusto e bem servido de trens de alta velocidade, sejam eles maglev ou não, é principalmente a eficiência energética, que chega a ser melhor até do que a do avião.

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