Como controlar o braço de outra pessoa com o poder da sua mente?
O neurocientista Greg Gage ficou famoso por apresentar ao público experiências que parecem tiradas de filmes de ficção científica. Um dos seus vídeos mais populares é uma conferência do TED gravada em 2015 em que uma garota consegue replicar os seus movimentos, executando-os também no braço de outro participante. Os dois estão ligados a um sistema elétrico e conectados a um computador.
Mas como isso é possível?
O cientista Edgard Morya, coordenador de pesquisas do IIN-ELS (Instituto Internacional de Neurociências Edmond e Lily Safra), diz que o experimento é simples e funciona da seguinte forma: primeiro o aparelho registra a atividade elétrica do músculo da garota e, em seguida, o cientista usa a informação captada pela máquina para estimular o músculo do segundo participante.
"Imagina que aquele eletrodo seja um microfone que está captando o sinal do músculo. Então eu amplifico o sinal e uso isso como um estímulo elétrico no braço da segunda pessoa. Desse modo, assim que a primeira contrai músculo, o braço da segunda se mexe simultaneamente" afirma Morya.
Ali, os eletrodos estão dispostos no braço dos participantes, mas há também outra forma de fazer isso: captando as informações diretamente do cérebro de um indivíduo.
A vantagem, nesse caso, é que o estímulo poderia ser realizado à distância, como mostra um estudo publicado em 2013 no periódico Scientific Reports. A pesquisa foi realizada em uma parceria entre a Universidade Duke, dos Estados Unidos, e o IIN-ELS, sediada no Rio Grande do Norte.
No experimento, os pesquisadores registraram a atividade elétrica do cérebro de um rato e, depois, essas informações eram "decodificadas" pelo animal na outra universidade, que executava ações envolvendo o sistema sensório-motor.
No futuro, essa tecnologia poderia ser usada em pessoas com perda de funções cerebrais.
É como se a gente pudesse colocar informação dentro de um cérebro, implantar uma memória externa para recuperar a sua capacidade de funcionar normalmente
Morya
Não é coisa de ficção científica
Se você pensava que isso era coisa de filme ou de grandes empresas que investem milhões em tecnologia de ponta, saiba que já é possível fazer o experimento do vídeo com pouco dinheiro.
"Hoje você pode montar esse sistema de registro e estimulação com cerca R$ 200. Fazemos isso com alunos do ensino médio, da iniciação científica", diz Morya, que pesquisa esse tipo de tecnologia no instituto localizado na desconhecida Macaíba, a 14 km de Natal.
Para tanto, ele explica, são necessários itens como eletrodos, um hardware e um celular.
O próprio Gage vende kits com preços que variam entre 150 e 250 dólares. "O que temos feito nos últimos anos é treinar a próxima geração para pensar como um cientista", explicou ele em entrevista ao UOL Tecnologia em 2018.
A ideia é que quanto mais gente tiver acesso à tecnologia mais rápido teremos opções baratas de reabilitação para pacientes com alguma restrição motora.
"Essa é uma área de grande impacto, pois possibilita que uma pessoa que não consegue mexer o braço, por exemplo, use um estímulo externo para fazer o músculo funcionar", explica o cientista brasileiro.
Além da saúde, essa tecnologia pode ser bem útil para outras finalidades no nosso dia a dia.
"Imagina agora você não tenha lesão nenhuma, mas gostaria de ensinar um movimento para alguém. Com essa metodologia, simultaneamente é possível fazer o movimento, registrar a atividade do músculo e executá-lo em outra pessoa. É uma técnica parecida com realidade virtual", diz Morya.
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