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Ele tem o poder do Vale do Silício nas mãos e quer nos guiar para o futuro

Masayoshi Son tem planos e poderes para liderar a tecnologia e o futuro da sociedade - Issei Kato/Reuters
Masayoshi Son tem planos e poderes para liderar a tecnologia e o futuro da sociedade Imagem: Issei Kato/Reuters

Gabriel Francisco Ribeiro

Do UOL, em São Paulo

02/02/2019 16h09

Nem Mark Zuckerberg, nem Elon Musk, nem Jeff Bezos. O homem mais poderoso do Vale do Silício e que tem a missão de guiar o futuro da humanidade nos próximos anos é, para a revista norte-americana Fast Company, o japonês Masayoshi Son, de 61 anos.

Não, Son não tem nas mãos um Facebook, uma Tesla ou uma Amazon. Mas algo, talvez, muito mais precioso: um dos homens mais ricos do Japão, ele é o fundador e executivo-chefe do SoftBank, que mantém o fundo de investimentos Vision Fund. E é nesse fundo, com investimentos em companhias como Uber e Alibaba, que está o grande poder do bilionário japonês.

"A rede de companhias dentro do Vision Fund vai transformar aspectos críticos da sociedade, como as indústrias trilionárias de imóveis, transportes e do varejo. Não vamos poder desligar os serviços com apoio da Vision Fund como fazemos com computadores e smartphones. Eles vão, no fim, ter mentes e pensamentos próprios", cita a Fast Company.

Não há ninguém no planeta em posição melhor para influenciar a próxima onda de tecnologias como Son. Jeff Bezos, Mark Zuckerberg e Elon Musk podem ter o dinheiro, mas não a combinação de ambição, imaginação e nervos de Son

Da pobreza ao império na internet

Nem sempre Son teve esse poder. Por sinal, o japonês teve uma infância pobre na remota ilha de Kyushy, no sul do Japão, após sua família emigrar da Coreia do Sul. Seu nome Masayoshi vem da palavra japonesa "justiça" - a intenção dos familiares, ao dar esse nome, era para que fossem vistos como mais confiáveis e evitassem sentimentos e preconceitos xenófobos em relação aos sul-coreanos na época.

Acima de Son, havia o pai, que sempre achou que o filho estava destinado a grandezas. Quando o filho, então criança, contou que queria ser professor, o pai, agora com 82 anos, devolveu: "eu acho que você é um gênio e não sabe seu destino ainda", segundo o biógrafo japonês Atsuo Inoue. Mal sabia o quão certo estava o senhor Mitsunori.

Masayoshi Son, ainda jovem, deu uma ideia que salvou o negócio do pai, dono de uma cafeteria: que ele distribuísse vale-café na rua, o que faria com que as pessoas entrassem para tomar a bebida e acabassem gastando com outros produtos.

Son se formou em economia e ciência da computação na Universidade de Berkeley, na Califórnia, e retornou para o Japão. Era a hora de fundar o SoftBank, em 1981.

 

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Ainda quando poucos tinham acesso a computador, Son, então com dois funcionários e sem clientes, mapeou um plano de 50 anos para a companhia que começou vendendo softwares para computadores. Quando disse aos dois funcionários que em cinco anos ele teria US$ 75 milhões em vendas, ambos se demitiram.

Não foi tão rápido como o fundador imaginava, mas na década de 90 o SoftBank decolou já como a maior distribuidora de software do Japão e passou a investir em diversas empresas de internet no mundo, como o Yahoo. A companhia nipônica aproveitou o boom da web para se tornar uma das maiores investidoras no setor. Son tinha 7% dos valores públicos de companhias de internet e foi, por três dias, mais rico do que Bill Gates.

Mas, em 2001, a empresa que investia em 600 companhias de internet sofreu um tombo e suas ações caíram 90%, fazendo Son perder US$ 70 bilhões.

As dificuldades não impediram que a empresa investisse US$ 20 milhões por 34% de participação em um obscuro ecommerce chinês. Quatorze anos depois, quando aquela companhia, de nome Alibaba, se tornou pública, essa participação já valia nada menos do que US$ 50 bilhões.

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A frase dita por Son a investidores no último mês de novembro mostra suas intenções. A mesma atuação do bilionário há 20 anos na internet será direcionada para a inteligência artificial e às diversas maneiras que as tecnologias vão transformar nossas vidas nos próximos anos.

E é aí que entra a Vision Fund.

Com investimentos mínimos de US$ 100 milhões em startups, o fundo não economiza e atira praticamente para todos os lados. Em dois anos, desde seu início em outubro de 2016, ela já destinou mais de US$ 70 bilhões para empresas iniciantes dos mais diferentes segmentos. Duas das principais e mais proeminentes com investimentos do SoftBank são a Uber e a WeWork, esta última que chegou recentemente ao Brasil e que serve como uma espécie de aluguel de espaços compartilhados de trabalho.

"São pessoas como Masa que aceleram o mundo", afirma o CEO da Uber, Dara Khosrowshahi, que diz que Son é seu principal investidor e o elemento principal para transformar o aplicativo na "Amazon do transporte".

Masayoshi Son lidera o SoftBank, que tem investimentos em inúmeras empresas e startups - Kazuhiro Nogi/AFP - Kazuhiro Nogi/AFP
Masayoshi Son lidera o SoftBank, que tem investimentos em inúmeras empresas e startups
Imagem: Kazuhiro Nogi/AFP

 A maneira como Son atua também é impressionante. A compra da Arm, uma empresa que desenvolve chips, envolveu um jantar em San Francisco, uma interrupção de férias na costa turca após uma ligação do japonês e uma refeição às margens do Mediterrâneo. Em duas semanas, o negócio de US$ 32 bilhões foi concluído e Wall Street ficou chocada.

Atualmente, o espectro de negócios que a Vision Fund apoia é grande e isso faz diferença para a empresa. Um elemento chave dentro do fundo é a conexão entre as empresas para que uma ajude a outra a crescer. Por meio de jantares e eventos, rola uma ligação entre companhias que até então poderiam nunca se cruzar - algo que, vale dizer, outras aceleradoras do Vale do Silício e fundos de investimentos também fazem.

É por meio disso que a Uber e a Compass alugam espaços da WeWork e a Mapbox, uma empresa de navegação amparada por inteligência artificial, selou um negócio com a Uber.

As principais obsessões

Son delimita algumas áreas vitais para sua atuação. E as principais são as seguintes:

  • Imóveis: Son acredita que há uma oportunidade para consolidar e automatizar o mundo fraturado dos imóveis. E para isso já investiu US$ 13,2 bilhões em companhias como WeWork, Compass (serviço de corretagem), Sofi (empréstimos hipotecários), Oyo (hospitalidade), OpenDoor (vendas de casas) e Katerra (construção de software).
  • Mobilidade: a indústria dos transportes está se movimento de algo que os indivíduos possuem para um serviço que alugam sob demanda por tecnologias. Seus principais investimentos, na casa dos US$ 30 bilhões, envolvem a Uber, a DiDi (chinesa dona da 99), GM Cruise (tecnologia de carro autônomo), Parkjockey (reservas de estacionamentos), entre outras.
  • Comércio: o bilionário crê que compras online de mercadorias e serviços vai explodir no mundo turbinado pela inteligência artificial. Já investiu US$ 13,2 bilhões em empresas como Flipkart (ecommerce indiano), Zume Pizza (entrega de comida com robôs), Alibaba (entrega de comida) e Brandless (mercadorias de consumo), entre outras.
  • Indústria do futuro: Son acredita que a simbiose de humanos com computadores vai levar a uma felicidade para todos. Foram feitos US$ 36,6 bilhões em investimentos em companhias como Arm (fabricante de chips), Nvidia (fabricantes de chips e especializada em gráficos), Slack (mensagens entre colegas de trabalho), Light (tecnologia de câmeras), entre outras.

Escândalo com árabes

O primeiro investidor do Vision Fund foi o Fundo Público de Investimentos da Arábia Saudita, que se comprometeu com nada menos que US$ 45 bilhões. O significado desse investimento logo no estágio inicial foi enorme e atraiu empresas como Apple, Foxconn e Qualcomm a investirem também. Mas levaria a problemas.

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Entenda

Mais tarde, surgiu o escândalo da morte do jornalista árabe residente nos Estados Unidos Jamal Khashoggi. O assassinato foi comandado pelo governo saudita e tem ligações íntimas com o príncipe Mohammed bin Salman, segundo investigações. Apenas um mês antes do caso, bin Salman havia dito à Bloomberg que sem o dinheiro saudita "não haveria Vision Fund".

A pressão sobre Son se tornou intensa e até mesmo as companhias apoiadas pelo Vision Fund ficaram na berlinda, já que ninguém queria estar conectado com um dinheiro envolvido em sangue. Companhias como a Compass, Uber e Arm tentaram se distanciar do caso, assim como Son - o japonês, contudo, acabou se encontrando secretamente logo depois com o príncipe. Temendo a influência nos negócios, o bilionário não rompeu laços com os sauditas.

Como a Fast Company aponta, Son não é uma força que não pode ser parada e está sujeito a diversos fatores econômicos, geopolíticos, regulamentações governamentais ou investimentos errados que podem minar seus planos. Mas, por enquanto, ele é o homem do momento e o líder de um futuro cada vez mais conectado e liderado pelas máquinas.