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Google, Samsung e Apple vendem menos celulares, mas não é um problema ainda

Fachada de loja da Apple na Turquia - Chris McGrath/Getty Images
Fachada de loja da Apple na Turquia Imagem: Chris McGrath/Getty Images

Márcio Padrão

Do UOL, em São Paulo

01/05/2019 17h48

Se há três empresas em que devemos prestar atenção quando o assunto é celular, estas são Samsung, Apple e Google. As duas primeiras são as tradicionais gigantes na fabricação de celulares, enquanto a terceira é dona do sistema operacional Android, que por sua vez ocupa a grande maioria dos aparelhos de outras empresas.

Por isso os balanços trimestrais e anuais dessas empresas sempre dão pistas de como esse mercado poderá se comportar a curto e longo prazo. Colocando os números no devido contexto, dá para brincarmos de futurologia e ter uma noção dos próximos passos delas, que por sua vez poderão influenciar toda a concorrência.

Como as três divulgaram seus balanços nesta semana, juntamos tudo aqui e dizemos o que pode sair dos escritórios e laboratórios de Google, Samsung e Apple para driblar a atual estagnação no mercado de celulares.

O que Google, Samsung e Apple dizem em seus balanços?

Google: Apesar de estar presente em 2,3 bilhões de aparelhos em todo o mundo com o Android, está vendendo cada vez menos celulares da sua linha própria, a Google Pixel, atualmente na terceira geração. Os EUA são o principal país de atuação desses celulares, que não estão à venda no Brasil.

Sundar Pichai, executivo-chefe do Google, mencionou "ano a ano com ventos contrários" nas vendas do Google Pixel no balanço trimestral da Alphabet, divulgado nesta semana. Mas o balanço em si não detalhou vendas de produtos de hardware do Google --essa área inclui ainda o alto-falante inteligente Google Home.

Ruth Porat, diretora financeira do Alphabet, disse que as vendas do Pixel foram menores no primeiro trimestre de 2019 comparadas com o mesmo período do ano passado, citando especificamente "algumas das pressões recentes no mercado de smartphones premium". Ela não disse, mas sabemos que está falando da Apple, Samsung e chinesas (Huawei, Xiaomi etc).

Samsung: A maior fabricante de smartphones do mundo disse que seu negócio de telefonia móvel registrou uma queda de 40% no lucro operacional do primeiro trimestre de 2019 para o mesmo período em 2018; Foi de 3,77 trilhões de won (a moeda sul-coreana) para 2,27 trilhões de won (ou US$ 1,9 bilhões).

A empresa espera recuperar seu crescimento em celulares com seu aparelho mais recente, o dobrável Galaxy Fold. Mas a Samsung atrasou as vendas globais do aparelho depois que os analistas descobriram problemas com a tela.

Apple: As receitas com as vendas de iPhone caíram 17%, de US$ 37 bilhões para US$ 31 bilhões --esses são os números do segundo trimestre fiscal em 2018 e 2019, respectivamente. A Apple deixou de informar a quantidade de aparelhos vendidos.

A empresa relatou uma queda de 16% em seus lucros trimestrais, que foram de US$ 11,6 bilhões. O volume de receitas caiu 5%, a US$ 58 bilhões de dólares no seu segundo trimestre fiscal, concluído em 30 de março. Mas o resultado de novos produtos e serviços --como artigos vestíveis (como relógios inteligentes), domésticos e acessórios-- superou expectativas, fazendo suas ações subirem mais de 5% no fechamento dos mercados.

O que isso significa para o mercado dos celulares?

A busca do modelo perfeito pode ser lenta: o primeiro iPhone já tem quase 12 anos de vida, mas desde então estamos em busca do "novo iPhone", isto é, do gadget que vai superá-lo em importância nas nossas vidas. Os celulares de hoje são apenas melhorias pontuais do conceito do iPhone original.

A Samsung tentou o próximo passo com o Galaxy Fold, mas os problemas na tela geraram dúvidas sobre o seu sucesso. Com boa saúde financeira, a Apple se mantém cautelosa e dificilmente anunciará um iPhone dobrável neste ano. Em vez disso, espera a resposta do público e a maturidade dessa tecnologia para ver se a tendência vai pegar.

Serviços melhores: Já se fala há algum tempo que essas empresas poderão migrar seu foco de atuação do produto para o serviço. A Apple desta vez se adiantou sobre a Samsung, divulgando uma série de serviços de assinatura, como a sua "Netflix", a Apple+. Já o Google, você sabe, tem os serviços online como sua grande vedete desde sempre. A Samsung não dá sinais de que pretende mexer nisso... pelo menos por enquanto.

A dura vida do Pixel: quando o primeiro Google Pixel estreou, em 2016, muitos ficaram animados com a qualidade do telefone. Mas sua pequena disponibilidade --está à venda em 13 países atualmente, incluindo EUA, Canadá, parte da Europa e Ásia-- e o preço alto --só nos EUA custa US$ 799, ou R$ 3.275-- estão minando as intenções do Google de ser um "player" global nesse mercado.

Acessórios aqui e ali: A alardeada internet das coisas está andando devagar, mas está. Samsung e Apple ainda fabricam smartwatches, e a Apple está satisfeita com seus relógios. E Apple e Google já têm seus alto-falantes inteligentes --Homepod e Home, respectivamente. "Estamos satisfeitos com o contínuo impulso dos dispositivos domésticos habilitados para o Assistente, particularmente os dispositivos Home Hub e Mini", disse Ruth Porat, do Alphabet/Google. Cadê o seu, Samsung?

Em resumo...

A estagnação do mercado de smartphones é uma realidade nos últimos anos, mas os modelos dobráveis podem dar um novo frescor, se se provarem confiáveis.

Em paralelo, essas empresas continuam discretamente achando que o futuro não será "celularcêntrico", pois nos conectaremos com outros aparelhos e com novas experiências. Ainda que os relógios inteligentes continuem sendo aparelhos de nicho, outros produtos podem surgir.

O grande desafio será fazer ajustes de estratégia para seus braços atuais de smartphones para mitigar a desaceleração e saber os momentos certos para virar a chave aos poucos, convencendo o mundo para comprar outros trecos online enquanto os celulares ainda satisfazem quase todas as suas necessidades.