Como a marca do celular que você usa pode queimar seu filme no crediário
Resumo da notícia
- Sistema operacional e email dos usuários podem indicar propensão à inadimplência
- Pesquisadores analisaram compras em site de móveis entre 2015 e 2016
- Foram analisados dez tipos de dados informados passivamente pelo cliente
- Credores podem considerar aspectos como raça, altgo proibido por lei
Uma pesquisa feita a partir da análise de 270 mil compras online revelou que as informações digitais deixadas por um consumidor enquanto navega pela internet podem ser decisivas para que ele encontre, no futuro, facilidades ou dificuldades na hora de obter crédito.
Isso ocorre porque os seus "rastros digitais", informações aparentemente sem serventia, como o sistema operacional usado durante a compra ou o uso de endereços de email desatualizados, podem sinalizar uma maior ou menor propensão à inadimplência.
A constatação está em um novo estudo do The National Bureau of Economic Research, organização privada norte-americana sem fins lucrativos que realiza pesquisas econômicas.
Os pesquisadores analisaram as compras feitas em um site alemão entre outubro de 2015 e dezembro de 2016. Escolheram a dedo uma loja online que vende móveis e permite pagamentos a prazo.
Ao todo, foram analisados dez tipos de informações relacionadas à compra e fornecidas de maneira passiva pelo cliente, como:
- Tipo de dispositivo;
- Sistema operacional do aparelho usado;
- Maneira com que os clientes chegaram ao site (pelo clique em um anúncio, por exemplo);
- Horário do dia em que acessaram o site;
- Provedor de email utilizado.
Outros dados ficaram de fora, como a concessão de empréstimos feita pela mesma empresa àquele cliente no passado. Para os pesquisadores, as variáveis coletadas ajudam a estimar se alguém pode se tornar inadimplente tão bem quanto uma contagem Fico (sigla para Fair, Isaac and Company, nome da empresa norte-americana que a criou).
A pontuação de crédito Fico leva em conta informações de crédito e ajuda credores a prever o comportamento do consumidor, como a probabilidade de pagar suas contas no prazo ou lidar com uma linha de crédito maior.
Usuários de iPhone tendem a pagar em dia
Segundo o estudo, é possível verificar as taxas de inadimplência de usuários apenas verificando qual é o sistema operacional usado: Android ou iOS.
Detentores de iPhones tendem a ser melhores pagadores. Pesquisas passadas revelaram que ser proprietário de um aparelho iOS é um dos melhores indicativos para sinalizar se alguém está na parcela dos 25% mais ricos.
O estudo mostrou ainda que detalhes mais sutis podem trazer resultados surpreendentes: clientes que haviam feito pedidos por meio de celulares, e não por computadores de mesa (desktops), tinham maior probabilidade de serem inadimplentes. Usar serviços de email desatualizados, como Hotmail ou Yahoo, também indicam chance alta de não pagarem suas dívidas.
O caminho digital trilhado por um usuário até chegar ao site também pode ser um bom indicativo: aqueles que chegaram à loja eletrônica a partir de um site de comparação de preços tinham apenas a metade da probabilidade de atrasar o pagamento das contas do que as pessoas que haviam clicado em um anúncio segmentado.
Não é difícil de entender o porquê: consumidores cuidadosos e preocupados em manter as finanças em dia, em geral, pesquisam diferentes varejistas antes de efetuar uma compra.
A partir desse estudo, os pesquisadores descobriram que a análise dessas "pegadas digitais" pode ter poder profético equivalente ou até maior que o das pontuações de crédito tradicionais. Assim, os dados digitais podem ser usados por empresas de fora do sistema bancário tradicional, que muitas vezes não têm em mãos pontuações como a Fico.
Implicações sérias ao usuário
Nesse contexto, como fica a liberdade online de alguém, já que seu comportamento pode ser usado para concluir uma conta não será paga?
De acordo com a pesquisa, as implicações tendem a ser sérias. Imagine clientes que falsifiquem suas pegadas digitais e, com isso, obtenham empréstimos sem poder pagá-los de volta.
Para Tobias Berg, principal autor do estudo e professor associado da Escola de Finanças e Gestão, em Frankfurt, a maioria dos consumidores na Alemanha não está ciente de que informações como o tipo de dispositivo que eles usam às vezes são levadas em conta nas aprovações de empréstimos, embora isso seja explicado nos termos dos contratos de serviços dos varejistas.
"Quase ninguém lê isso, e ninguém realmente entende o que significa literalmente", afirmou, em entrevista ao site "Wired".
Berg também alerta: os credores podem se valer das tais pegadas digitais para considerar, na cessão de empréstimos, aspectos como raça, ainda que isso seja proibido por lei. Sobre isso, o estudioso diz acreditar que há pessoas que "sem dúvida" serão prejudicadas por isso.
Entre elas, aponta, há desde indivíduos classificados inadvertidamente como arriscados, mesmo quando não são, até pessoas que usem celulares Android, ainda que possam comprar um iPhone.
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