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Google usa nossos vídeos na web para melhorar IA; por que isso importa?

Este foi um dos primeiros "desafios do manequim" que viralizaram na internet - Reprodução/Twitter
Este foi um dos primeiros "desafios do manequim" que viralizaram na internet Imagem: Reprodução/Twitter

Renan Dionisio

Colaboração para o UOL

12/07/2019 04h00

Resumo da notícia

  • Desafio do Manequim, que viralizou há quase 3 anos, virou item de pesquisa para o Google
  • Empresa treinou, a partir dos vídeos, redes neurais na compreensão de cenas 3D
  • Para isso, o Google utilizou mais de 2 mil vídeos publicados no YouTube
  • Método utilizado pelos pesquisadores pode causar polêmica em relação à privacidade

Você se lembra do "mannequin challenge" (ou desafio do manequim)? O conceito da brincadeira, que viralizou no final de 2016, era filmar pessoas "congeladas" em poses inusitadas enquanto uma câmera passava filmando o ambiente de diferentes ângulos.

Com a criação de robôs com inteligência artificial que se movimentam sozinhos --como carros autônomos, por exemplo--, é preciso aprimorar a noção de espaço das máquinas. E é aí que o desafio entra na história: quase três anos depois de "estourarem" na web, milhares de vídeos do tipo no YouTube estão sendo usados em pesquisas do Google para treinar redes neurais na compreensão de cenas 3D

Uma equipe de tecnologia da companhia coletou um conjunto de mais de dois mil vídeos do desafio dos manequins. Esses vídeos foram convertidos em imagens 2D com dados de profundidade e utilizados para treinar a rede neural.

Após os testes, foi possível prever a profundidade dos objetos em movimento com muito mais precisão do que era possível através dos métodos anteriores. Não à toa, os pesquisadores receberam, durante a Conferência sobre Visão Computacional e Reconhecimento de Padrões, que aconteceu de 16 de junho a 20 de junho, a melhor "menção honrosa".

Os pesquisadores divulgaram esse compilado de dados para apoiar pesquisas futuras, ou seja, milhares de pessoas presentes nesses desafios do manequim irão, sem saber, contribuir para o avanço da pesquisa robótica e visão computacional.

Eu posso ter ajudado?

Embora isso possa ser uma surpresa estranha e até desagradável para alguns, sim: saiba que é assim que funciona a pesquisa de IA. A maioria dos dados usados em pesquisas desse tipo é extraída a partir de arquivos disponíveis publicamente, como Twitter, Wikipedia e outras fontes.

Essa prática é motivada por conta da imensa quantidade de dados necessários para treinar um algoritmo de aprendizagem profunda e, atualmente, tornou-se mais frequente graças aos projetos de modelos cada vez maiores e que alcançam resultados mais inovadores.

Isso é ético?

O procedimento de coleta de dados levanta questões sobre a indústria de tecnologia utilizar conteúdo e dados de usuários de forma ética ou consentida. À medida que essas informações são mais monetizadas, os pesquisadores precisarão refletir para evitar problemas.

O Facebook encarou e ainda encara um calvário por ter emprestado dados pessoais à consultora Cambridge Analytica há alguns anos. Já o Instagram foi alvo de uma discussão parecida com o desafio dos 10 anos, e o Google desde sempre registra os traços que você deixa na internet, e usa essas informações para finalidades diversas.

O Brasil aprovou uma lei de proteção de dados, mas que vai valer só em 2020 e que será gerida por um órgão novo chamado ANPD (Autoridade Nacional de Proteção de Dados).

"Novos escândalos de vazamentos de dados vêm ajudando a construir essa consciência, mas ainda estamos longe de equilibrar o respeito aos dados pessoais como integrantes da personalidade de seu titular, de um lado, com as possíveis aplicações econômicas que podem ser extraídas do seu tratamento, de outro", diz Carlos Affonso, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS Rio) e blogueiro do UOL Tecnologia.