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YouTube vira "centro de estudos" para socorrer alunos fora da escola

Produzidos por professores, vídeos com conteúdo educativo fazem cada vez mais sucesso no YouTube - Getty Images
Produzidos por professores, vídeos com conteúdo educativo fazem cada vez mais sucesso no YouTube Imagem: Getty Images

Bruno Madrid

do UOL, em São Paulo

31/07/2019 04h00

Resumo da notícia

  • Antes só disponíveis em escolas e livros, conteúdos educativos agora ganham força no YouTube
  • Professores decidiram investir em canais próprios na plataforma com conteúdos gratuitos
  • Qualidade no vídeo, regularidade e paciência são fatores para crescimento dos canais
  • Para criadores dos vídeos, site ajuda a complementar o que foi passado em sala de aula

Cada vez mais popular, o YouTube não serve apenas para assistir a conteúdos musicais ou canais de influenciadores digitais sobre entretenimento. O que se vê como tendência na internet, também, são os espaços educativos.

Isso mesmo. Segundo uma pesquisa feita pela própria empresa, nove em cada dez pessoas no Brasil utilizam a plataforma de vídeos para estudar.

Apesar de a maioria de vídeos deste tipo não ultrapassar o número de visualizações de músicas, memes e produções infantis, há vários canais que dão técnicas gratuitas para que o usuário melhore seu desempenho - em diferentes áreas - na escola ou na faculdade. E eles estão cada vez mais em alta.

O UOL Tecnologia conversou com alguns proprietários de canais deste segmento - protagonizado por professores e especialistas de áreas específicas, que entenderam a demanda e decidiram entrar no mundo virtual para chegar aos estudantes de outra maneira.

Foco nos estudos!

Vídeos destinados a quem quer organizar os estudos vêm ganhando cada vez mais espaço na plataforma. São dicas que vão desde métodos para melhorar a concentração até a maneira de organizar o tempo livre.

Estudar em julho ou tirar férias? Como começar a fazer as provas anteriores do Enem? Como ser mais inteligente nas aulas? Estas são apenas três das inúmeras perguntas que Susane Ribeiro responde em seu canal no YouTube.

Aprovada em engenharia aeronáutica no ITA e em medicina na USP, a professora está na plataforma há um ano e já conta com mais de 85 mil inscritos. "Falo sobre motivação para estudar, técnicas de estudos e como aprender mais rápido. Respondo também às dúvidas mais comuns dos estudantes nos comentários dos vídeos", disse.

Ribeiro revelou o "segredo" para ser aprovada em testes tão difíceis. Para ela, o essencial é resolver as provas anteriores. "As questões de provas são parecidas de ano a ano, e aprender como resolvê-las é a melhor estratégia".

Outro canal do gênero é o "Estudante Eficiente". Sem usar a imagem de um professor específico, a página disponibiliza conteúdos que vão desde dicas de estudo até assuntos aprofundados, como as características do feudalismo - este, entre os mais populares já publicados pela página.

Canais, canais e canais...

A demanda, claro, não é apenas focada em "como" estudar, mas sim, nas próprias matérias. Temas que assombram os alunos, como matemática e física, por exemplo, são amplamente explicados no YouTube por vários proprietários de canais.

O professor Rafael Procopio é um deles. Há nove anos no site, o especialista em ensino de matemática pela UFRJ tem mais de 1.700 vídeos dedicados aos números, equações e frações. Publicações sobre raiz quadrada e tabuada estão entre os mais populares do canal de Procopio, que possui mais de 1,6 milhão de inscritos.

"O canal surgiu, entre outras coisas, para eu não perder o conhecimento matemático adquirido. Sempre gostei de fazer vídeos", disse o professor.

Marcelo Boaro, responsável pelo Canal Física, é outro que resolveu mergulhar na plataforma. "A ideia veio do interesse de disponibilizar um recurso para meus alunos estudarem em casa e da necessidade de recolocação no mercado de trabalho, pois a empresa em que trabalhava faliu", declarou Boaro, que possui mais de 620 mil inscritos em seu espaço no YouTube, criado há quase seis anos.

Função exige (muita) paciência

Se a procura é alta, a oferta também é. Hoje, centenas - talvez milhares - de professores tiram um tempo para desenvolver produtos educativos no YouTube. Como viralizar e ganhar inscritos - e dinheiro?

"Para começar um canal, você precisa falar naturalmente com a câmera. Isso foi muito difícil para mim no começo. Com o tempo, vi que é preciso fazer um vídeo mais dinâmico, então passei a contar histórias e falar mais sobre minhas superações nos estudos. Esses vídeos fizeram muito mais sucesso porque as pessoas passam pelas mesmas coisas", disse Ribeiro. Até o início do ano, seu canal tinha 1000 inscritos. Em apenas sete meses, fez esse número multiplicar 85 vezes.

Já Procopio citou a paciência como item vital para o sucesso no segmento. "A dinâmica em canais educativos é diferente. Em entretenimento, você publica um vídeo e ele pode viralizar imediatamente, fazendo com que o autor ganhe muitos inscritos de uma vez. No meu caso, o usuário só vai acessar um conteúdo quando ele precisar. Ou seja, o canal cresce devagar, mas com maior constância. Se não houver paciência no primeiro ano, a tendência é o fracasso."

Publicar constantemente também é fundamental para o sucesso. "É preciso ter cuidado com a qualidade do vídeo e a regularidade de publicações. A dica consiste em sempre manter um calendário de, pelo menos, um vídeo por semana", opinou Boaro.

YouTube x sala de aula

Inevitavelmente, o assunto traz à tona uma pergunta: a quantidade de conteúdos de educação disponíveis no YouTube pode atrapalhar o rendimento em sala de aula? A ideia quase unânime é de que a plataforma ajuda e democratiza o aprendizado, mas é preciso "saber usar" o material.

"Antes, os alunos só aprendiam na sala ou em livros específicos. Hoje, é possível estudar o conteúdo inteiro do ensino médio na plataforma, entendendo exatamente o assunto em que há dúvidas ou avançando ainda mais do que exposto nas aulas", explicou Ribeiro. "Mas o excesso de liberdade e de distrações como vídeos sugeridos, comentários e redes sociais podem atrapalhar o estudo", completou.

Procopio disse que seus vídeos são utilizados dentro da escola. "Recebo depoimentos de professores que usam meu canal para aprofundar algum tema ou até para dar tarefa de casa. É uma forma de ensinar conhecida como "sala de aula invertida", onde o aluno busca o conhecimento em casa antes e, quando chega no colégio, já tem noção do que será aplicado. Cabe ao docente fazer a lapidação".

"Um trabalho em sala associado com um bom recurso de revisão é muito bacana. Quando o aluno perde uma aula, por exemplo, consegue achar o conteúdo no YouTube. É bastante útil", lembrou Boaro.

Estude comigo!

Não são só canais próprios que dão uma forcinha na hora de estudar: assuntos bem específicos também são ensinados.

Há, no próprio YouTube, inúmeros vídeos que começam com as seguintes palavras: "Estude comigo". O título geralmente termina com algum tema específico: "estude comigo para a prova da OAB", "estude comigo para prova de ciências" e "estude comigo isomeria plana" são alguns exemplos.

A função é simples: um youtuber - muitas vezes que não têm um canal especializado - publica um vídeo ensinando, voluntariamente, aquilo que deseja e que tenha domínio ao internauta. Em alguns casos, quem assiste ao conteúdo passa a seguir o criador do conteúdo.