Sucessão de Hugo Chávez

Maduro pede diálogo à oposição ao assumir Presidência da Venezuela

Em Caracas (Venezuela)

Nicolás Maduro pediu diálogo à oposição ao assumir nesta sexta-feira a Presidência da Venezuela com a promessa de preservar o legado do falecido líder Hugo Chávez, em um ambiente mais tranquilo após a grave crise política desencadeada quando seus adversários rejeitaram sua apertada vitória eleitoral.

Junto a um enorme retrato do falecido presidente, Maduro, de terno escuro e gravata vermelha, prestou juramento diante da Assembleia Nacional para governar por seis anos e recebeu a faixa presidencial das mãos de María Gabriela, uma das filhas de Chávez, falecido no dia 5 de março vítima de um câncer.

"Juro pelo povo da Venezuela, juro pela memória eterna do comandante supremo que cumprirei e farei esta Constituição ser cumprida", disse Maduro, com a Carta Magna na mão esquerda, em pé diante do presidente do Parlamento, Diosdado Cabello, enquanto em Caracas os opositores faziam um 'panelaço' e os seguidores de Maduro lançavam fogos de artifício.

Maduro, um ex-motorista de ônibus e ex-sindicalista de 50 anos que chegou a ser chanceler e vice-presidente, venceu por apenas 1,8% as eleições de domingo, o que fez o opositor Henrique Capriles não reconhecer o resultado, provocando uma tempestade política.

"Peço àqueles que sejam políticos da oposição, social-democratas, social-cristãos, de centro-direita, de centro-esquerda (...) Os convoco a conversar nos diferentes cenários em que se possa conversar. Estou disposto a conversar até com o diabo", disse Maduro em seu discurso.

Quando começava a discursar, um homem vestido de vermelho burlou a segurança e pegou o microfone de Maduro, gritando "Nicolás, meu nome é...", antes que a transmissão fosse cortada.

O incidente provocou por alguns segundos a suspensão da transmissão televisiva do ato e, após alguns momentos de confusão, o presidente voltou a falar ao microfone, criticando a segurança e repreendendo o desconhecido por sua quebra de protocolo.

"A segurança falhou absolutamente, poderiam ter me dado um tiro aqui", disse o novo líder.

"Qualquer cidadão tem que entender que este é um evento que tem suas regras", completou.

O sucessor de Chávez tomou posse em um clima mais tranquilo depois que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) aceitou na quinta-feira ampliar para 100% a auditoria das urnas, o que deixou, por ora, a oposição satisfeita.

Muitos governantes compareceram à cerimônia de posse, entre eles a presidente Dilma Rousseff, o cubano Raúl Castro, a argentina Cristina Kirchner e o iraniano Mahmud Ahmadinejad.

Milhares de seguidores do governo, vestidos de vermelho festejavam fora da Assembleia. "Chávez vive, a luta continua!", gritava a multidão.

"É o legado do presidente, apoiá-lo é apoiar o 'Comandante Supremo'. Maduro é a continuidade do processo revolucionário", declarou José Rendó, um eletricista de 38 anos.

O herdeiro de Chávez tomou posse depois de receber em Lima o apoio dos presidentes membros da União das Nações Sul-Americanas (Unasul).

Apesar dos questionamentos da oposição, a América Latina, à exceção do Paraguai, endossou sua vitória. Sem reconhecer o resultado das eleições, os Estados Unidos defendem uma recontagem de votos, embora tenham defendido que as portas entre os dois países não sejam fechadas.

Tensão diminui

Após uma semana de alta tensão, com episódios de violência que deixaram oito mortos, o CNE, que por lei verificou 54% das urnas no dia da eleição, decidiu que realizará uma auditoria sobre as 46% restantes.

Embora a recontagem total voto a voto, exigência da oposição, não seja realizada, Capriles, governador do estado de Miranda (norte) de 40 anos, celebrou a decisão do CNE.

"Vamos Venezuela, a luta segue pela verdade!", escreveu em sua conta no Twitter Capriles, que perdeu por 11 pontos para Chávez nas eleições de outubro e contra Maduro conseguiu captar o voto de centenas de milhares de chavistas.

Capriles nunca falou de fraude, mas de irregularidades em 3.200 casos. Se forem encontradas anomalias de peso na auditoria, que levará 30 dias, ele pode optar por impugnar a eleição.

"A tensão passou, em um primeiro round vencido pela oposição porque a oposição conseguiu pressionar o governo por uma auditoria que não estava prevista, embora, ao mesmo tempo, o governo tenha ganhado legitimidade", declarou à AFP o analista Luis Vicente León.

Maduro, que acusou a oposição de orquestrar um golpe de Estado ao não reconhecer sua vitória, venceu as eleições com 50,8% dos votos contra 49% de Capriles, após uma campanha veloz e agressiva de dez dias.

Um dia após as eleições, os ânimos se acirraram em protestos de opositores e confrontos com chavistas, que deixaram oito mortos, cerca de 60 feridos e mais de uma centena de detidos.

Primeiro presidente chavista

Autoproclamado filho do homem forte que governou a Venezuela por 14 anos, Maduro enfrenta o desafio de preencher o vácuo deixado pelo líder, cuja revolução socialista partiu politicamente em dois o país, já dividido entre ricos e pobres.

"Eu sou o primeiro presidente chavista, sou o primeiro presidente operário", exclamou Maduro ao concluir seu discurso.

Sem o carisma de Chávez e diante de uma oposição fortalecida - em seu melhor momento nestes 14 anos - Maduro tem como tarefa urgente organizar a economia, dependente da renda petroleira e das importações, afetada pela inflação, pela escassez de produtos básicos e pela falta de divisas, além de combater a insegurança no país sul-americano com recorde de homicídios - 54 por cada 100.000 habitantes.

Maduro casado com Cilia Flores, mulher forte do governo de Chávez, promete manter os programas de seu mentor a favor dos pobres - 30% dos 29 milhões de venezuelanos - custeados com as receitas do petróleo deste país com as maiores reservas do mundo.

Mas, além disso, enfrentará o desafio de garantir a lealdade das Forças Armadas, divididas política e ideologicamente, segundo os analistas. Como prova de apoio, após a cerimônia de posse haverá uma parada cívico-militar.

Receba notícias do UOL. É grátis!

UOL Newsletter

Para começar e terminar o dia bem informado.

Quero Receber

Veja também

UOL Cursos Online

Todos os cursos