Haiti tenta se reerguer quatro anos após terremoto devastador
As ruínas do palácio presidencial e da catedral de Porto Príncipe, capital do Haiti, refletem os passos lentos da reconstrução do país mais pobre do continente americano, devastado há quatro anos por um terremoto que matou cerca de 300 mil pessoas.
"Nós vamos pisar no acelerador para avançar os projetos que estão em curso, e os haitianos vão ficar orgulhosos da reconstrução", afirmou na sexta-feira o primeiro-ministro haitiano, Laurent Lamothe, ao apresentar à imprensa os projetos de prédios públicos que estão em construção.
Diante de críticas sobre a lentidão dos trabalhos de reconstrução de edifícios administrativos, como o da Assembleia Legislativa, o chefe de governo pediu a ajuda de todos. "A reconstrução é uma missão de todos nós, e não somente do presidente Michel Martelly e do governo", ressaltou.
Vítimas de terremoto são despejadas de campos de desabrigados
"O regime atual deixou completamente de lado a reconstrução ao jogar fora o plano de refundação do país negociado com os investidores internacionais", denuncia Dieudonné Saincy, porta-voz de um partido da oposição. Assim como o premiê, ele lamenta que boa parte (42%) da ajuda internacional tenha sido gasta de forma emergencial no pós-terremoto, e não com a reconstrução do país.
"Nós fomos muito sortudos de termos tido a ajuda da Venezuela. A maior parte dos projetos que nós fazemos são feitos com o dinheiro venezuelano. Com meios escassos, fizemos muito", disse Lamothe à AFP, esperando que a comunidade internacional contribua com a outra parte da ajuda prometida.
Saincy também lamenta a crise política atual. "Nós estamos patinando numa crise política. Os três poderes estão paralisados e os projetos de reconstrução saíram do foco", diz.
Após o terremoto, diversos projetos de arquitetura para a reconstrução de Porto Príncipe foram apresentados ao público, mas ainda não há vestígios dos canteiros de obra pela cidade.
"A reconstrução da capital vai passar pela criação de um novo centro da cidade e pela construção de uma cidade administrativa. Foi o que nós aproveitamos do projeto apresentado pela organização do Príncipe Charles", respondeu o primeiro-ministro haitiano.
Mais de um milhão de pessoas ficaram desabrigadas e 42 edifícios públicos foram destruídos pelo terremoto que abalou o país em 12 de janeiro de 2010.
"O país foi profundamente atingido. Realocamos as pessoas sem lar e já iniciamos a construção de sete ministérios e prédios públicos", destacou o premier do Haiti, em entrevista à AFP.
No entanto, cerca de 200 mil pessoas ainda moram em abrigos provisórios e os habitantes do acampamento do Canapé Vert - à beira de uma avenida de Porto Príncipe - denunciam a condição de vida cada vez mais degradante desde a saída das ONGs.
Organizações da sociedade civil pedem para que o governo não continue com as expulsões que se multiplicaram nos últimos tempos.
O premiê do Haiti também fez um apelo à comunidade internacional para que envie a contribuição prometida na época do desastre - quase 9 bilhões de dólares - durante um encontro em Nova York.
"Se a comunidade internacional tivesse respeitado seu compromisso, nós já teríamos feito dez vezes mais do que pudemos fazer", garante Lamothe, acrescentando que "devemos fazer com que a comunidade internacional tome consciência da situação".
"É preciso continuar a sensibilizar a comunidade internacional, mas o Haiti está melhor quatro anos após o terremoto, ainda que exista muito a ser feito", conclui o primeiro-ministro.
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