Em sede da ONU, papa denuncia "especulação" ditada pela "ditadura do lucro"

Em Roma

  • AFP/FAO

    O papa Francisco assinou, nesta quinta-feira (20), o 'Livro de Ouro' da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) após a 2ª Conferência Internacional sobre Nutrição, organizada pelo órgão. Ele foi acompanhado pelo diretor-geral da FAO, José Graziano

    O papa Francisco assinou, nesta quinta-feira (20), o 'Livro de Ouro' da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) após a 2ª Conferência Internacional sobre Nutrição, organizada pelo órgão. Ele foi acompanhado pelo diretor-geral da FAO, José Graziano

O papa Francisco declarou nesta quinta-feira (20) em um discurso na FAO (sede da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) que teme que o planeta se autodestrua pela superexploração dos recursos naturais, lembrando aos Estados sobre seus deveres para com quem tem fome.

"Precisamos mais uma vez proteger a Terra para impedir sua autodestruição", afirmou, diante dos ministros reunidos na FAO, por ocasião de uma conferência internacional sobre nutrição.

"Enquanto falamos de novos direitos, os famintos continuam nas esquinas pedindo para serem incluídos na sociedade e terem o pão de cada dia. Esta é a dignidade que eles pedem e não esmolas", acrescentou o papa, que faz sua primeira visita à FAO, com sede em Roma.

"As pessoas que não têm o pão de cada dia são obrigadas a lutar para sobreviver, a ponto de não mais se preocupar com a vida social ou com as relações familiares", observou, referindo-se à dissolução dos laços sociais resultantes da fome.

A Igreja Católica, segundo ele, espera "ajudar a adotar critérios capazes de desenvolver um sistema global justo", que, "no plano jurídico, devem priorizar a alimentação e ao direito à vida, o direito a uma existência digna, o direito à proteção jurídica (...), mas também a obrigação moral de compartilhar a riqueza".

"Há o suficiente para alimentar a todos, mas nem todos conseguem se alimentar, enquanto o excedente e os resíduos, o consumo excessivo e uso indevido de alimentos são comuns", acrescentou, denunciando a "especulação" ditada pela "ditadura do lucro".

Pedindo para que se abandone a arma da fome, o papa também considerou injusto "todo condicionamento político e econômico" ao acesso aos alimentos.

"Nenhum sistema discriminatório, de fato como de direito, quanto ao acesso ao mercado de alimentos, não deve ser encarado como modelo de modificação das normas internacionais destinadas à eliminação da fome no mundo", insistiu.

"Infelizmente, há poucos temas como a fome em que aplicamos tantos sofismas, manipulamos dados e estatísticas em função da segurança nacional, por corrupção ou por referência à crises inexistentes", lamentou.

Francisco também enfatizou a gravidade da situação do meio ambiente, por falta de uma exploração adequada e equilibrada dos recursos naturais.

"Deus perdoa sempre, os homens às vezes, mas a natureza nunca perdoa", disse ele, enquanto prepara para o próximo ano uma encíclica sobre a proteção do meio ambiente e respeito pela natureza.

Durante a primeira conferência organizada pela FAO sobre a nutrição, em 1992, mais de um bilhão de pessoas não tinham o suficiente para comer. Hoje, esse total caiu para 805 milhões, enquanto a população mundial aumentou.

Esta é a quarta visita de um papa à FAO, depois de Paulo 6º, em 1970, para marcar o 25º aniversário de sua criação, João Paulo 2º, em 1992, e Bento 16, em 2003.

Veja fotos do papa Francisco
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