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Fim da lua de mel de Macri: explodem protestos sindicais na Argentina

Imagem de Anne Frank de arquivo e sem data - AP
Imagem de Anne Frank de arquivo e sem data Imagem: AP

Em Haia

31/03/2015 11h37

Buenos Aires, 31 Mar 2016 (AFP) - Demissões no setor público e aumentos de tarifas de até 100% no transporte, somados a altas em outros serviços básicos e alimentos, multiplicam nesta quinta-feira os protestos na Argentina, onde sindicalistas advertem sobre o final da "lua de mel" com o governo de Mauricio Macri.

Os aumentos incluem a alta de 500% na eletricidade e na água, cerca de 300% no gás, além de um crescimento de 6% ao mês, desde dezembro, nos preços dos combustíveis.

Os preços crescentes também atingem os alimentos básicos, pesando no bolso dos argentinos, e desafia a paciência das centrais sindicais, em meio a uma inflação que deve superar os 30% ao ano.

"Acabou a lua de mel com o governo", alertou Pablo Moyano, dirigente do poderoso sindicato de Caminhoneiros e filho de Hugo Moyano, líder da mais influente das cinco centrais sindicais.

Centenas de funcionários públicos se reuniram nessa quinta-feira na frente de vários ministérios. "Sim, podem-se frear as demissões", afirmavam cartazes que também pediram o fim das tarifas.

"Isso tinha que ser feito", justificou o ministro da Fazenda, Alfonso Prat-Gay ao advertir que essas decisões faziam parte "da plataforma de campanha" com a qual Mauricio Macri chegou à presidência em 10 de dezembro.

Protestos e demissõesEm frente ao ministério de Prat-Gay, trabalhadores da pasta e membros do sindicato de estatais denunciaram centenas de demissões em seu barulhento protesto.

O sindicato das estatais (ATE) aponta que 9.000 demissões no setor público nacional e 25.000 com o setor provincial e comunal.

Nessa quinta-feira, vence o prazo do decreto de emergência anunciado por Macri em dezembro para revisar 64.000 contratos temporários, particularmente 25.000 incorporados desde 2013.

O protesto obrigou a mudar para a sede do governo uma coletiva de imprensa do ministro do Transporte, Guillermo Dietrich, em que anunciou o aumento de 100% nos bilhetes de trem e ônibus da populosa região metropolitana de Buenos Aires.

O aumento será a metade para a chamada tarifa social, que beneficiará 6 milhões de pessoas, segundo afirmou o ministro.

"Ajuste brutal"A extensão e a quantia dos aumentos levou a deputada Elisa Carrió, aliada de Macri, a demonstrar suas divergências com o governo em que votou.

"Não compartilho ajustes brutais de água, gás, transporte em meio a uma inflação tão alta. Não se pode sufocar a sociedade que nos apoia", disse Carrió.

O ministro Prat-Gay demonstrou surpresa. "Diferente de outros processos políticos, fomos muito explícitos durante a campanha, o que nos confere a autoridade que de outra maneira não teríamos tido", disse.

O ministro argumentou que os aumentos na inflação é "algo estritamente transitório", embora os sindicatos digam o contrário.

Por parte dos caminhoneiros, Moyano antecipou "greves e mobilizações nas ruas", em meio ao início das negociações entre sindicatos e empresas a instâncias do Estado por aumentos salariais anuais.

Na estatal Aerolíneas Argentinas os trabalhadores anunciaram uma greve para essa sexta-feira que o governo se propõe a frear mediante uma medida de urgência do ministério de Trabalho.

A ATE, com o apoio das duas centrais sindicais, denunciou à Organização Internacional do Trabalho (OIT) "a perseguição sofrida pelos trabalhadores públicos em seus setores de trabalho e as demissões em massa".

Telegramas"Os trabalhadores ficam sabendo que não têm mais emprego quando o controle de entrada lhes dizem que deram baixa em sua permissão de entrada. É uma estratégia perversa de demissão", explicou à AFP Pablo Anino, delegado da ATE na pasta da Fazenda.

Por isso, a ATE organizou "entradas conjuntas" em todos os ministérios em meio a assembleias e mobilizações de ruas em um dia-chave, em que se suspeita que haverá centenas de baixa nos contratos, como aconteceu antes na Biblioteca Nacional (240) e no ministério de Cultura (500).

No ministério de Trabalho o ambiente era de angústia.

"Ligo para casa a cada cinco minutos para saber se chegou o telegrama", relatou uma trabalhadora social de 39 anos que há uma década trabalha ali.

"Os diretores da área fizeram listas onde nos classificam de 'prescindibilidade' e se estamos afiliados a um sindicato", disse.

A metros dela, em uma assembleia barulhenta, uma mulher chora. Por telefone acabam de confirmar que ela ficou sem emprego.