Bandeira dos EUA volta a Cuba em visita histórica de John Kerry

Em Washington

  • REUTERS/Alexandre Meneghini

A bandeira dos Estados Unidos será hasteada novamente em Havana na sexta-feira (14), em uma cerimônia que completará a aproximação diplomática entre os dois antigos inimigos, que terá como destaque John Kerry, o primeiro secretário de Estado americano a visitar a ilha em 70 anos.

A visita, de menos de doze horas, tanto histórica como simbólica, servirá também para uma discussão dos temas espinhosos da relação bilateral --proteção dos direitos humanos e os dissidentes cubanos, mas também o embargo americano-- entre países que oficialmente não tiveram contato por mais de meio século.

O hasteamento da bandeira americana será "outro passo no processo de normalização" entre Cuba e Estados Unidos, afirmou na segunda-feira Mark Toner, porta-voz do Departamento de Estado.

Os três soldados que arriaram a bandeira americana em Cuba, em 1961 acompanharão John Kerry para hasteá-la de novo, segundo anunciou a Casa Branca.

Em 4 de janeiro de 1961, o sargento Jim Tracy e os cabos Larry Morris e Mike East foram designados para a tarefa de retirar a bandeira que ondeava na embaixada americana em Havana.

Nesta sexta, os três ex-marines estarão junto a Kerry na cerimônia de hasteamento da bandeira e reabertura da embaixada.

Kerry chegará às 8h35 local (09h35 de Brasília) e permanecerá toda a sexta-feira em Havana. O ato na embaixada terá a presença de funcionários do governo e congressistas americanos.

Assim, o edifício diante do famoso Malecón da capital cubana voltará a ser a embaixada americana de fato, 54 anos depois do rompimento das relações entre os dois países.

De fato, Washington e Havana restauraram laços diplomáticos plenos em 20 de julho, após meses de negociações, depois do acordo anunciado em dezembro pelos presidentes Barack Obama e Raúl Castro para superar as hostilidades.

Os dois governos, inimigos durante a Guerra Fria, romperam relações em 1961, após a revolução castrista, mas desde 1977 mantêm Seções Interesses como embaixadas de ofício.

Após o degelo, Obama e Raúl Castro se reuniram em abril durante a Cúpula das Américas no Panamá. O chanceler cubano Bruno Rodríguez visitou Washington em 20 de julho para reabrir a embaixada do país latino-americano.

Cuba também foi retirada da lista do Departamento de Estado de países que apoiam o terrorismo.

Kerry e dissidentesApós a cerimônia, em uma recepção na residência do embaixador americano - fechada à imprensa, segundo uma fonte do Departamento de Estado -, Kerry se reunirá com representantes da sociedade civil cubana, incluindo alguns dissidentes políticos.

"Me reunirei com dissidentes. Terei a oportunidade de sentar à mesa com eles", disse o chefe da diplomacia em uma entrevista ao canal latino Telemundo.

Kerry admitiu que os opositores políticos ao governo de Castro "não foram convidados" à cerimônia de hasteamento porque será um "momento governo a governo e, de fato, com um espaço muito limitado".

Antes da reabertura da embaixada, as fachadas de edifícios antigos foram pintadas e as ruas próximas pavimentadas em tempo recorde.

O escritor americano de origem cubana Richard Blanco, que recitou um poema na cerimônia de posse do segundo mandato de Obama, lerá um poema no evento.

Preparado especialmente para a ocasião, o texto cita as histórias de indivíduos dos dois lados do Estreito da Flórida "separados por 90 milhas (150 km) de mar, mas conectados por vínculos emocionais complexos", informaram os representantes do poeta em Miami.

Kerry se reunirá depois com Bruno Rodríguez para avançar na agenda bilateral: a luta antinarcóticos, segurança e meio ambiente, entre outros temas.

Mas as autoridades americanas descartaram um encontro com o presidente Raúl Castro ou seu irmão Fidel, que completa 89 anos nesta quinta-feira.

Apesar de algumas críticas nos dois países, a aproximação diplomática e o fim do embargo são cada vez mais populares. De acordo com uma pesquisa do Pew Research Institute, 72% dos americanos apoiavam o fim das sanções em julho, acima do resultado de 66% registrado em uma sondagem similar de janeiro.

Perdas e danosDesde que Washington anunciou em dezembro a retomada de suas relações com a ilha, o tom entre os Estados Unidos e Cuba melhorou substancialmente.

Mas os antigos e complexos temas de fundo prenunciam um longo processo de normalização entre as duas nações.

O líder cubano Fidel Castro, por exemplo, comentou os "muitos milhões de dólares" que os Estados Unidos supostamente devem a Cuba pelos danos causados por anos de embargo, em um artigo que foi publicado na imprensa local nesta quinta-feira, dia em que completa 89 anos.

"Enquanto isso, eles devem a Cuba as indenizações equivalentes a danos, que chegam a muitos milhões de dólares, como denunciou nosso país com argumentos e dados irrebatíveis ao longo de suas intervenções ante as Nações Unidas", escreve Fidel.

O pai da revolução cubana não abordou a fundo o delicado tema das indenizações que Cuba e Estados Unidos reclamam reciprocamente pelos bens americanos desapropriados depois da vitória da revolução cubana ou os danos provocados pelo embargo vigente contra a ilha desde 1962, que o presidente Barack Obama deseja que o Congresso americano suspenda.

Também fez poucas referências à histórica visita que o secretário de Estado americano.

Em seu artigo, o primeiro que publica desde 8 de maio, Fidel enfatizou que "escrever é uma forma de ser útil se for considerado que nossa sofrida humanidade deve ser mais e melhor educada ante a incrível ignorância que nos envolve, com exceção dos pesquisadores que buscam nas ciências uma resposta satisfatória".

"Não deixaremos jamais de lutar pela paz e o bem-estar de todos os seres humanos (...) os mesmos direitos que proclamamos quando iniciamos nossa luta", acrescentou.

O aniversário de Fidel, afastado do poder desde 2006 por razões de saúde, é festejado nesta quinta-feira com inúmeras atividades, apesar de ofuscadas pela histórica visita de Kerry.

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