Nora da presidente do Chile vai à justiça por crimes tributários

Rancagua, Chile, 29 Jan 2016 (AFP) - A nora da presidente chilena, Michelle Bachelet, livrou-se nesta sexta-feira de ser enviada para a prisão, mas não poderá deixar o país e terá que comparecer a uma delegacia uma vez por mês devido a acusações por delitos tributários, um duro golpe para a presidente, que admitiu sentir-se profundamente magoada pelo caso.

Após manter silêncio ao longo do ano sobre o caso que afeta a esposa de seu filho, Sebastián Dávalos, Bachelet admitiu, em declaração à TV depois de divulgada a decisão da justiça que todo o processo está sendo "muito doloroso" para ela e sua família, embora isto não tenha "nublado" suas "responsabilidades como presidenta".

Com a voz embargada e à beira das lágrimas, disse: "Quis falar porque este é um caso que concentrou a atenção das pessoas, que espera que a justiça atue sem dúvidas, com imparcialidade, neste e em outros casos".

Sua nora, Natalia Compagnon - que não poderá deixar o país enquanto a investigação durar - é acusada de sonegação de impostos em um caso que envolve 13 pessoas, acusadas de tráfico de influência, delitos fiscais e suborno.

A decisão do tribunal gerou críticas na população e em políticos da oposição que esperavam medidas cautelares mais contundentes.

Ao contrário, Mauricio Valero, sócio de Compagnon na empresa Caval, que é investigada pela compra e venda supostamente irregular de terrenos terá que permanecer em prisão domiciliar por um ano.

O 'caso Caval', revelado há um ano, suscitou comoção em um país que até pouco tempo era considerado um exemplo na região de transparência e escassa corrupção.

Suavidade da justiçaA formalização das acusações suscitou a ira de uma parte da população, que esperava medidas mais sevreas, como a prisão provisória para a nora da presidente.

Na saída do tribunal, Compagnon Soto teve que ser escoltada pelas forças de segurança até o carro para não ser agredida por um grupo de pessoas que gritava "ladra" em sua passagem.

Durante todo o dia, o tema foi tendência entre os internautas chilenos, que condenaram as sanções a Compagnon, a cumplicidade de seu esposo e o silêncio presidencial.

Além disso, criticaram as medidas cautelares com mensagens como o de Cata, que publicou no Twitter: "#NataliaCompagnon que piada de condenação, assinatura mensal e residência dixa".

A decisão judicial teve eco imediato no governo, que manteve o discurso de destacar que a justiça fuciona para todos os cidadãos por igual.

"Nós não temos nada a ver com relação às decisões tomadas pelo Poder Judiciário, são dois poderes autônomos e independentes do Estado, isto todos sabem. Consequentemente, não há nada que nós como governo possamos apontar a esse respeito", afirmou o porta-voz do governo, Marcelo Díaz.

O estilo de vida do filho da presidente, Sebastián Dávalos - que até a revelação do caso trabalhava (sem receber salário) no Palácio de La Moneda como encarregado da agenda social da mãe - levantou suspeitas da imprensa.

Assim, o semanário Qué Tal revelou em fevereiro do ano passado o caso da compra e venda de 44 hectares efetuada pela semana Caval em uma operação que reportou aos dois sócios cinco milhões de dólares de lucro, após obter um emprésimo milionário do Banco do Chile.

Dano irreparávelEste caso afundou a popularidade de Bachelet, que ronda apenas 20%, e minou a confiança da população na dirigente, que chegou ao poder pela segunda vez há quase dois anos com a promessa de combater a corrupção.

O cientista político Mauricio Morales disse à AFP que a situação de sua nora representa um atraso para a popularidade de Bachelet, ofuscando reformas como a educacional, para a gratuidade do ensino superior, a tributária ou a trabalhista.

"A única pessoa que pode colocar um dique" para delimitar o caso ao âmbito judicial e afastá-lo do político, onde está começando a rachar a coalizão governamental, é a presidente, afirmou.

No entanto, Bachelet optou pela estratégia do silêncio neste caso que, segundo fontes de seu círculo mais próximo, também atingiu seriamente as relações familiares.

No fim do ano reconheceu em uma entrevista que o ano de 2015 havia sido o pior de seus dois mandatos.

A presidente decidiu cancelar uma viagem que planejava nesta sexta-feira a Cabo de Hornos para participar das cerimônias de celebração dos 400 anos de sua descoberta, e permaneceu em Santiago.

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