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Colômbia atenta ao início de cessar-fogo definitivo com as Farc

28/08/2016 18h53

Bogotá, 28 Ago 2016 (AFP) - A Colômbia se preparava neste domingo para iniciar o cessar fogo definitivo com as Farc, depois do histórico acordo alcançado entre o governo e essa guerrilha para por um fim a 52 anos de conflito.

"Amanhã mesmo começa o cessar-fogo e das hostilidades bilateral e definitivo", disse o presidente Juan Manuel Santos durante a abertura da Caminhada pela Solidariedade em Bogotá, onde pediu aos colombianos que votem pelo "sim" no plebiscito para referendar o acordado com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc, marxistas), principal e mais antiga guerrilha do continente.

O presidente assinou na sexta-feira o decreto para deter a ofensiva militar contra a guerrilha. A medida começará a valer à 00H000 local (02H00 de Brasília) de segunda-feira, cinco dias depois do encerramento das negociações de paz, que se desenvolveram desde novembro de 2012 em Cuba sem uma trégua armada na Colômbia.

Santos sempre se opôs a suspender a atividade militar contra as Farc, oficialmente com cerca de 7.500 combatentes, por considerar que fortaleceria os rebeldes.

Contudo, como gesto de compromisso com os diálogos, desde 20 de julho de 2015, as Farc mantém um cessar-fogo unilateral, ao qual o governo respondeu com a suspensão dos bombardeios aéreos, embora sem deixar de combater grupos armados ilegais como esta guerrilha.

Mas neste domingo, em Havana, o líder máximo das Farc, Rodrigo Londoño, mais conhecido pelo nome de guerra, Timoleón Jimenez, ou 'Timochenko', decretou o cessar-fogo e de hostilidades definitivo às suas tropas.

"Ordeno a todos os nossos comandos, a todas as nossas unidades, a todos e a cada um dos nossos combatentes, a cessar o fogo e as hostilidades de forma definitiva contra o Estado colombiano a partir das 24 horas da noite de hoje", disse à imprensa, em Havana, o líder supremo das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, Timoleón Jiménez, aliás "Timochenko".

O líder rebelde afirmou que com o que foi pactuado e o fim das ações armadas entre as partes, "acabou a guerra na Colômbia".

"Hoje, mais do que nunca, lamentamos tanta morte e dor provocados pela guerra", afirmou.

Os guerrilheiros que não cumprirem com o acordado em Havana "serão perseguidos com toda a contundência da Força Pública", assegurou Santos em uma entrevista publicana neste domingo pelo jornal El Espectador.

'Um selo a mais no final do conflito'"O cessar-fogo implica que realmente é colocado um selo a mais no final do conflito. É uma prova de fogo", disse à AFP Carlos Alfonso Velásquez, especialista em segurança da Universidade de La Sabana.

Para o acadêmico, contudo, "é praticamente um fato há um ano".

O último choque entre membros da força pública e guerrilheiros das Farc foi registrado no último 8 de julho, segundo o centro de análise Cerac, que monitora a violência de grupos armados na Colômbia.

"As Farc preparadas para o Dia D", informa o Cerac em seu último relatório.

Segundo o negociado em Cuba, o Dia D marca o cessar-fogo e o cessar das hostilidades bilateral e definitivo, assim como o início do processo de concentração e deposição de armas dos rebeldes, que devem ser realizadas em um prazo máximo de seis meses sob supervisão e verificação das Nações Unidas.

O Dia D será o dia da "assinatura solene" do acordo entre Santos e Timochenko, explicou no sábado o ministro da Defesa, Luis Carlos Villegas.

Em uma entrevista ao jornal El Tiempo divulgada neste domingo, Santos afirmou que a assinatura ocorrerá "entre 20 e 30 de setembro" e poderá ser em Cartagena, Bogotá ou Nova York, na sede das Nações Unidas. Anteriormente, o chefe de Estado havia dito que também poderia ser em Cuba.

Afirmou que convidará, entre outros, os presidentes de Estados Unidos, França e Equador. Além desses, os presidentes de países garantidores do processo, Cuba e Noruega, e os acompanhantes, Venezuela e Chile.

Villegas assegurou que, nesta segunda feira, já começarão a identificar os "corredores" por onde circulam os guerrilheiros até as 22 zonas e os seis acampamentos em todo o país onde se reunirão para seu desarmamento e posterior reinserção social.

Fim das Farc como guerrilhaMas antes de se reunirem, as Farc compartilharão com suas tropas o acordo em sua décima e última conferência antes de se tornarem "um movimento político legal", segundo a convocação divulgada no sábado.

A conferência ocorrerá entre 13 e 19 de setembro em Llanos del Yari, em San Vicente del Caguán, ex-reduto da guerrilha no sul da Colômbia, e na presença de 200 delegados das Farc, entre eles os 29 membros de seu comitê central.

A conferência que, excepcionalmente, incluirá convidados internacionais e jornalistas, será realizada antes do plebiscito fixado para 2 de outubro, no qual os colombianos deverão se pronunciar sobre o acordo com as Farc.

Para ganhar, o "Sim" precisa de ao menos 4,4 milhões de votos (13% do padrão eleitoral), que não podem ser superados pelo "Não". A pergunta pontual que será feita aos colombianos será conhecida "nos próximos dias", informou Santos ao El Espectador.

"A vitória do 'sim' será um mandato cidadão para os próximos governos", declarou o chefe de Estado ao tal jornal ao ser perguntado sobre a possibilidade de seu eventual sucessor se mostrar em desacordo com o que foi negociado.

Além das Farc, do conflito colombiano de mais de meio século participaram outras guerrilhas, como o Exército de Libertação Nacional (ELN), ainda ativo, paramilitares e agentes do Estado, com um balanço de 260.000 mortos, 45.000 desaparecidos e 6,9 milhões de deslocados.

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