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Entenda o que acontecerá com o Brasil após o impeachment

31/08/2016 18h42

Rio de Janeiro, 31 Ago 2016 (AFP) - Dilma Rousseff foi destituída nesta quarta-feira da Presidência e em breve deixará o Palácio da Alvorada, a residência oficial, para iniciar um novo capítulo de sua história.

E como ficará o Brasil? Michel Temer, ex-vice de Dilma Rousseff e agora seu arqui-inimigo, foi empossado para governar um país castigado por uma recessão galopante, um desemprego crescente (mais de 11 milhões de pessoas) e um megaescândalo de corrupção que respinga em toda a classe política, tanto da esquerda quanto da direita.

Ele concluirá o mandato até 2018. Quais serão seus principais desafios? E como fica a esquerda que começou a governar com Lula em 2003? Qual é o próximo passo na carreira de Dilma Rousseff?

Um mar de perguntas ronda o Brasil, a principal economia da América Latina.

O que será de Dilma Rousseff?Depois de perder a faixa presidencial, Dilma Rousseff terá que entregar as chaves do Palácio da Alvorada, a residência presidencial, onde esteve praticamente isolada após ter sido suspensa, em maio.

Está previsto que ela deixe Brasília nas próximas horas e parta para Porto Alegre (sul), onde moram sua filha e seus netos.

Dilma, no entanto, salvou-se da inelegibilidade por oito anos, que ela mesmo tinha decretado como "uma pena de morte política". Depois de um esmagador placar de 61 a 20 votos para destituí-la, o Senado não conseguiu os votos para tirar dela o direito de exercer cargos públicos.

Desta forma, Dilma pode exercer e se apresentar, inclusive, a cargos eletivos, embora não possa se apresentar nas presidenciais de 2018, já foi eleita e reeleita nas últimas eleições.

"Ouçam bem: eles pensam que nos venceram, mas estão enganados. Sei que todos vamos lutar. Haverá contra eles a mais firme, incansável e enérgica oposição que um governo golpista pode sofrer", afirmou Dilma, em seu primeiro discurso após sua destituição, no qual se despediu com um "até daqui a pouco".

Presidir sem o apoio das urnasTemer insiste em que é a Constituição a que lhe dá legitimidade, mas carrega nos ombros o peso de não ter sido eleito para este cargo.

De fato, as pesquisas têm demonstrado que este advogado constitucionalista tem baixíssimos níveis de intenção de voto se disputasse eleições.

Temer assegurou até agora que não se candidatará nas presidenciais de 2018.

Ele tampouco escapa das revelações dos maciços escândalos de corrupção. E se for considerado culpado de violar regras do financiamento de campanha, pode ser impedido de se apresentar a um cargo eletivo por oito anos.

O presidente recém-empossado também enfrenta uma investigação no Tribunal Superior Eleitoral sobre suposto financiamento ilegal de campanha na chapa que integrou com Dilma Rousseff.

Se forem considerados culpados, a vitória de 2014 seria anulada e seriam celebradas novas eleições. Se ocorrer este ano, o presidente da Câmara dos Deputados assumirá o poder e convoca eleições. Se ocorrer nos próximos dois anos de mandato, é o Congresso que deverá escolher o presidente de forma indireta.

A linha de governo vai mudar?Já mudou. Desde que assumiu a Presidência interinamente, Temer, um astuto negociador político dos bastidores, montou um governo pensando que Dilma seria destituída.

Seu gabinete não tem mulheres e é formado por homens brancos e conservadores. Mas tem o aval do mercado e mais importante, do Congresso, que já aprovou a revisão da meta fiscal - 170,5 bilhões de reais em 2016 - e está aberto a aprovar o ajuste rejeitado quando Dilma o apresentou.

O foco do novo governo será a economia e Temer tem dito que não hesitará em aprovar medidas impopulares, como novos impostos. A política, desenhada pelo ortodoxo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, começou com a redução de ministérios e o estabelecimento de um teto para o gasto público.

A crise econômica tem como pano de fundo, ainda, a queda dos preços do petróleo, do minério de ferro e outras commodities.

E como fica a esquerda?A chegada de Temer ao poder supõe o fim de 13 anos de governo de esquerda no Brasil, que começaram com Lula em 2003.

Lula e Dilma mudaram a imagem da velha esquerda latino-americana, combinando políticas ortodoxas e amigáveis ao mercado com programas sociais revolucionários, que tiraram milhões de pessoas da pobreza e impulsionaram uma classe média de consumo.

Mas a crise jogou tudo por terra e em meio ao desemprego, à inflação e a altas taxas de juros, cresceu o descontentamento e a rejeição ao governo, com gigantescas manifestações que pediam a saída da primeira mulher presidente do Brasil.

Alguns protestos contra Temer foram convocados também, mas ainda longe de ser maciços.

A imagem do PT e Dilma e Lula, assim como do PMDB de Temer, foi afetada pelo megaescândalo da Petrobras.

A esquerda agora passa à oposição, onde já foi feroz e fará de tudo para voltar ao poder em 2018, tendo em Lula seu principal expoente, se ele não for condenado pela Justiça, que o transformou em réu por obstrução da Justiça.