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EUA e Rússia reivindicam morte de al-Adnani

31/08/2016 16h13

Beirute, 31 Ago 2016 (AFP) - O porta-voz do grupo extremista Estado Islâmico (EI) e principal estrategista do mesmo, Abou Mohammed al-Adnani, morreu no norte da Síria, confirmou o EI, porém tanto os Estados Unidos com a Rússia reivindicavam nesta quarta-feira o crédito de tê-lo abatido.

Em Washington, o Pentágono afirmou que as forças da coalizão lideradas pelos Estados Unidos mataram na terça-feira al-Adnani em um ataque aéreo na província de Aleppo, norte da Síria, mas não confirmou imediatamente sua morte.

Da mesma forma, um militar russo disse que um de seus ataques aéreos matou al-Adnani, durante um bombardeio também na terça-feira, que matou 40 extremistas. Essa reivindicação é desconsiderada pelas autoridades americanas, que a consideram "uma piada".

Entretanto, o Ministério de Defesa russo afirmou que "entre os terroristas liquidados se falava, segundo informações confirmadas por vários canais, no chefe de guerra Abou Mohammed al-Adnani, mais conhecido como o porta-voz do grupo terrorista Estado Islâmico", em um comunicado.

Independentemente de quem seja o autor, os analistas afirmam que sua morte significa um duríssimo golpe para o EI, que já sofreu uma série de reveses esse ano, incluindo a perda de territórios que controlava na Síria e no Iraque, assim como a morte de outras figuras principais do grupo.

"Arquiteto" dos atentadosAl-Adnani era "o líder mais visceral e agressivo do EI aos olhos do público", opinou Charles Lister, investigador principal do Instituto do Oriente Médio.

"Sem sua voz explosiva, pode ficar difícil para o EI conseguir inspirar os níveis de violência que havia conseguido alcançar nos últimos tempos", acrescentou.

O propagandista dos atentados no Ocidente, cuja verdadeiro nome era Taha Sobhi Falaha, foi abatido com 39 anos.

Sua morte, anunciada na noite de terça-feira pelo EI, é a terceira em cinco meses de um extremista importante e isola ainda mais o chefe do grupo, o autoproclamado "califa" Abu Bakr ao Baghdadi, em paradeiro desconhecido.

"O assassinato de Al Adnani é um sinal de que o EI não pode proteger seus líderes mais importantes", afirma à AFP Hisham al Hashemi, especialista de movimentos extremistas na Síria e no Iraque.

"Os Estados Unidos podem estar muito próximos de eliminar Baghdadi da próxima vez (...) Ao seu lado restam apenas dois dos fundadores do EI: o iraquiano Abu Abdel Rahman Iyad al Ubeidi e o saudita Abu Mohamed al Shemali", segundo o especialista.

"Está muito claro que o EI está infiltrado em nível de seus dirigentes e que os serviços de inteligência conhecem a maioria de seus deslocamentos", estima Hashemi.

Em Washington, o porta-voz do Pentágono, Peter Cook, estimou que a morte de Al Adnani é um "novo golpe importante contra o EI" porque ele era o "principal arquiteto das operações exteriores do EI e porta-voz" do grupo.

Segundo Cook, al-Adnani "coordenou os movimentos de combatentes do EI, convocando de maneira direta os ataques de lobos solitários contra civis e membros das forças armadas, e recrutou de maneira ativa novos combatentes".

Declínio do EI?Para Aymenn Jawad al Tamimi, outro especialista em movimentos extremistas, a morte de Al Adnani é "simbolicamente importante e, de maneira geral, um indício do declínio do Estado Islâmico".

O EI indicou que seu porta-voz morreu "enquanto controlava as operações para repelir as campanhas militares contra Aleppo", informou a agência Amaq, vinculada ao grupo.

"Al-Adnani se movia sobretudo entre Bukamal e Deir Ezzor (no leste da Síria), mas parece que a importância da batalha de Aleppo o obrigou a supervisionar pessoalmente o combate", afirma Hashemi.

Em agosto, o EI sofreu duros golpes nesta província: foi expulso da cidade de Manbij pelas forças anti-extremistas, apoiadas por Washington, e perdeu a localidade de Jarablos diante das forças turcas.

Al-Adnani convocou os partidários do EI para passar à ação em seus países de origem utilizando qualquer arma disponível, facas, pedras ou veículos, contra os cidadãos dos países membros da coalizão anti-extremista, em um chamado que, aparentemente, inspirou vários atentados, especialmente na Europa.

Um comandante americano de alto escalão disse que esteve envolvido em ataques importantes, como os atentados de Paris, de Bruxelas e a operação contra o aeroporto de Istambul, na ação contra um café em Bangladesh e na queda de um avião russo no Sinai. Estes ataques deixaram, segundo esta fonte, mais de 1.800 mortos e cerca de 4.000 feridos.

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