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Bombardeios e penúria em Aleppo sob as bombas; Rússia é acusada de barbárie

26/09/2016 12h35

Alepo, Síria, 26 Set 2016 (AFP) - Alimentos e medicamentos são cada vez mais escassos nos bairros rebeldes de Aleppo, submetidos a intensos bombardeios do regime sírio e de sua aliada Rússia, país acusado de "crimes de guerra" e "barbárie" pelas potências ocidentais.

"Nos últimos anos suportamos os bombardeios e não abandonamos Aleppo. Mas agora não há pão, água, nada nos mercados. A situação piora a cada dia", afirmou nesta segunda-feira Hassan Yasin, de 40 anos.

Este pai de quatro filhos teve que abandonar com a família o apartamento no terceiro andar de um prédio e buscar refúgio em uma barraca no térreo, para evitar os ataques contra o bairro de Ferdus.

Pela quarta noite consecutiva, as bombas voltaram a atingir o leste de Aleppo, segunda maior cidade síria, controlada pelos insurgentes desde 2012.

A ONG Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH) informou que o balanço de mortos subiu a 128 - em sua grande maioria civis - desde quinta-feira à noite, quando o exército sírio anunciou uma ofensiva mais intensa para reconquistar a totalidade de Aleppo.

Os aviões russos e do regime realizaram "dezenas de ataques" a partir da meia-noite no leste da cidade controlada pelos rebeldes, segundo o OSDH. Ao amanhecer os bombardeios se intensificaram e provocaram incêndios.

Entre os mortos estão 20 crianças e nove mulheres, afirmou Rami Abdel Rahman, diretor do OSDH. Além disso, 36 civis morreram nas zonas rurais da província de Aleppo e 400 pessoas ficaram feridas em toda a província.

- 'Esgotados' -Os quase 250.000 habitantes dos bairros rebeldes de Aleppo não recebem ajuda externa há dois meses. Desde os bombardeios de sábado, a população não tem água, de acordo com o Unicef.

"Os hospitais se encontram sob forte pressão com o número elevado de feridos e a falta de sangue disponível, além da ausência de cirurgiões especializados em transfusões", afirmou uma fonte médica à AFP.

"Por isso, as pessoas gravemente feridas são imediatamente amputadas", completou a fonte.

"Os pacientes são colocados no chão e as equipes médicas trabalham no limite da resistência humana" contou o médico Abu Rajab, da ONG Save the Children.

Ele disse que quase metade dos pacientes nos hospitais são crianças.

A AFP constatou que o preço de sete porções de pão árabe passou de 350 libras sírias (70 centavos de dólar) na semana passada, antes da ofensiva, para 500 libras sírias (1 dólar).

"Agora comemos apenas uma vez por dia. Meus filhos e eu não conseguimos acabar com nossa fome há duas semanas", conta Hassan Yasin

Por sua vez, as associações beneficentes deixaram desde sexta-feira de distribuir alimentos à base de arroz ou lentilhas por medo dos bombardeios. Um deles atingiu uma fila de habitantes que esperavam para receber estes alimentos.

- Tensão entre Rússia e Ocidente -Em Nova York, as potências ocidentais criticaram a Rússia no domingo em uma reunião urgente do Conselho de Segurança da ONU, com acusações diretas a respeito da ofensiva contra Aleppo.

"O que a Rússia apoia e faz não é luta antiterrorista, é barbárie", disse a embaixadora americana Samantha Power.

O Kremlin respondeu nesta segunda-feira e criticou "o tom e a retórica inadmissíveis" dos Estados Unidos e do Reino Unido.

"Consideramos o tom e a retórica dos representantes do Reino Unido e Estados Unidos inadmissíveis e, inclusive, suscetíveis de prejudicar nossas relações", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.

O embaixador britânico Matthew Rycroft citou a possibilidade de levar a questão ao Tribunal Penal Internacional, competente para os crimes de guerra. A última tentativa do Conselho de Segurança esbarrou no veto da Rússia.

Neste contexto, uma ajuda chegou no domingo pela primeira vez em seis meses a quatro regiões sitiadas: Madaya e Zabadani, cercadas por tropas do regime na província de Damasco, e Fua e Kafraya, pelos rebeldes na de Idleb (noroeste), de acordo com a Cruz Vermelha.

O conflito sírio provocou mais de 300.000 mortes desde 2011, segundo o OSDH, e resultou na maior crise humanitária desde a Segunda Guerra Mundial.