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Extremistas fazem a barba em Mossul diante de avanço de tropas

26/10/2016 19h55

Khazir, Iraque, 26 Out 2016 (AFP) - Diante do avanço das forças iraquianas e curdas, os combatentes do Estado Islâmico (EI) em Mossul começam a mudar de aspecto, com a barba aparada e roupas diferentes, em uma tentativa de passar desapercebidos na cidade.

Os países ocidentais envolvidos na ofensiva contra os extremistas estão satisfeitos diante de seu início promissor, e já debatem como lançar a reconquista de Raqa, o último reduto do EI na Síria.

"Vi integrantes do Daesh (acrônimo do EI em árabe) e seu aspecto mudou completamente", afirmou um morador de Mossul, que se apresentou como Abu Saïf, à AFP.

"Cortaram a barba e mudaram as roupas para se misturar entre a população", completou Saif, ex-empresário, no 10º dia da ofensiva de Mossul.

Nesta quarta-feira, as unidades de elite iraquianas estavam a cinco quilômetros dos bairros da zona leste de Mossul, a segunda maior cidade do Iraque, com 1,5 milhão de habitantes.

Nas outras frentes, as tropas estão mais afastadas, em particular no sul.

Cerca de dez mil pessoas fugiram da região desde o início da ofensiva, segundo dados das Nações Unidas. Só nesta quarta-feira foram 3.300 civis, informou um ministro iraquiano.

Para Abu Saif, os jihadistas mudam de aspecto "porque têm medo dos franco-atiradores ou porque se preparam para abandonar a cidade".

Outro morador disse que não observou nos hotéis de Mossul os comerciantes sírios que faziam vários negócios na cidade com a anuência do EI.

Muitos extremistas abandonaram a zona leste de Mossul para retornar à margem oeste do Tigre, o rio que atravessa a cidade, onde o EI tem um reduto, indicaram moradores e fontes americanas.

Os habitantes de Mossul têm acesso estritamente limitado à televisão e internet, mas escutam com clareza o som dos combates nas zonas norte e leste da cidade.

- Desequilíbrio entre as forças -Eles contam ainda que os aviões da coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos sobrevoam a cidade com altitude menor que nos dias anteriores.

A ofensiva acontece de acordo com o planejado, afirmou na terça-feira o ministro francês da Defesa, Jean-Yves Le Drian, anfitrião de uma reunião de ministros de 13 países da coalizão.

"O Daesh não caiu, mas o Daesh balança", declarou Le Drian.

Apesar do desequilíbrio de forças no campo de batalha - entre 3.000 e 5.000 combatentes do Estado Islâmico entrincheirados em Mossul, 10 vezes menos que o número de soldados mobilizados pelo governo e seus aliados -, o avanço iraquiano acontece de forma prudente e lenta, em consequência das táticas de guerrilha do EI e do espírito de sacrifício de seus homens.

"Há uma semana o EI utiliza uma quantidade extraordinária de armas de tiro indiretas (morteiros, foguetes, etc) e de carros-bomba", afirmou na terça-feira o general Stephen Townsend, principal comandante militar da coalizão.

Os homens-bomba refinaram a técnica dos atentados. Eles posicionam os carros-bomba atrás de muros ou dentro de residências, à espera da passagem das tropas para provocar uma surpresa de último momento, disse o general americano.

Como temiam as organizações de defesa dos direitos humanos, à medida que os combates se aproximam de Mossul aumenta o número de civis deslocados.

Na terça-feira, o governo deu abrigo a mais de 3.300 deslocados, o maior número desde o início da ofensiva em 17 de outubro.

A ONU calcula que o número de deslocados pelo conflito pode chegar a quase um milhão.

Desde o início da ofensiva terrestre contra Mossul, foram registrados 8.940 deslocados, de acordo com os números da ONU.

"Ainda temos poucos refugiados porque a batalha de Mossul não começou até o momento. Mas a nossa previsão é de um fluxo enorme e a ajuda da comunidade internacional não está à altura das promessas. Se nada mudar, caminhamos para uma catástrofe", advertiu esta semana um oficial do exército iraquiano.

Quanto à Síria, "esperamos uma operação similar nas próximas semanas rumo a Raqa", explicou o ministro da Defesa britânico, Michael Fallon, pouco antes de uma reunião da Otan em Bruxelas.

Em um acampamento perto de Khazir, o número de deslocados recentes é maior que o de costume.

"Estamos melhor aqui. Éramos bombardeados de quase todos os lados, por aviões e tanques", disse um homem que fugiu do povoado de Bazwaya e disse se chamar Abu Ahmad.

As famílias chegaram a um acampamento onde se veem centenas de barracas de camping azuis e brancas, cobertas pela poeira trazida pelo vento, enquanto os trabalhadores humanitários distribuem colchões, travesseiros, comida e água engarrafada.

As organizações humanitárias temem que o acampamento fique lotado quando o milhão de pessoas que estão presas atualmente em Mossul consiga sair.

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