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Ofensiva contra Raqa, 'capital' do EI na Síria, será mais complexa que no Iraque

27/10/2016 19h33

Bruxelas, 27 Out 2016 (AFP) - Imersa na batalha de Mossul, no Iraque, a coalizão internacional também quer atacar a segunda "capital" do Estado Islâmico (EI), Raqa, na Síria, mas a operação parece que vai ser muito difícil pelo grande número de grupos antagonistas no conflito.

A ofensiva para retomar Raqa das mãos do EI começará "nas próximas semanas", disseram na quarta-feira (26) o secretário americano da Defesa, Ashton Carter, e seu homólogo britânico, Michael Fallon.

"É nosso plano há muito tempo, e somos capazes de manter" ao mesmo tempo as ofensivas contra Mossul e contra Raqa, garantiu Carter.

Até agora, os membros da coalizão internacional contra o EI não deram informações sobre quando atacariam os extremistas na Síria. Pelo "avanço considerável" conseguido na ofensiva no Iraque, porém, os militares falam agora de "concomitância" entre as operações em Mossul e Raqa.

Apesar disso, no anonimato, as afirmações são menos otimistas.

"Hoje em dia, seria difícil para a coalizão sincronizar, organizar" os movimentos entre as duas batalhas, assim como dividir de forma eficaz os meios aéreos, reconhece um alto responsável militar americano.

"Está claro que não estão preparados para amanhã para Raqa", considera uma fonte francesa que admite que, na luta contra o EI, a conjuntura síria é "muito mais complexa".

Caos sírioRecentemente, o jornal libanês L'Orient le Jour publicou que, "em comparação com o caos sírio, o quebra-cabeças iraquiano parece quase brincadeira de criança".

A ofensiva contra Mossul, tomada pelos extremistas em junho de 2014, foi planejada durante mais de um ano, entre a coalizão, Bagdá e as autoridades do Curdistão iraquiano. É realizada pelas forças iraquianas e os peshmergas curdos, apoiados pela coalizão.

Como e com quem fazer uma ofensiva na Síria? O país está totalmente devastado por uma guerra civil que deixou mais de 300.000 mortos desde 2011, e se encontra dividido em múltiplos grupos antagonistas, que contam com o respaldo direto, ou indireto, de potências regionais e internacionais.

"Há uma diferença essencial entre Iraque e Síria. No Iraque, intervimos pelo pedido das autoridades de Bagdá", lembra a fonte francesa.

Os países que formam a coalizão contra o Estado Islâmico se opõem ao regime sírio de Bashar al-Assad e querem evitar qualquer tipo de operação que possa favorecê-lo.

Quem pode liderar a batalha em Raqa? De que forças dispõem?

"Assim como em Mossul, o princípio estratégico é que devem ser forças locais eficazes e motivadas", alega Ashton Carter.

"Tem que ser uma força árabe para retomar Raqa", comentou um alto responsável americano, que pediu anonimato.

Raqa, uma cidade de 200.000 habitantes de maioria sunita, não pode ser reconquistada pelos curdos, insistem várias fontes.

"Nesse momento, há somente duas forças na Síria que lutam contra o Daesh (acrônimo do EI em árabe) - as Forças Democráticas Sírias (uma coalizão árabe e curda apoiada pelos Estados Unidos) e os rebeldes sírios do ASL (Exército Sírio Livre, apoiado pela Turquia)", completou a fonte francesa.

O efetivo é suficiente? Os militares afirmam que sim, mas as estimativas vão de 10.000 a 30.000 homens, segundo as fontes consultadas pela AFP.

O papel da TurquiaO antagonismo entre as milícias curdas e a Turquia, que lançou uma operação terrestre no norte da Síria em agosto para impedir a formação de um território autônomo curdo, torna impossível uma colaboração entre essas duas forças.

Na quarta-feira (26), Washington parecia ter uma inclinação por Ancara.

"Trabalhamos de forma importante com o Exército turco na Síria. Isso deu resultados muito significativos com a tomada de controle de Dabiq" nesse mesmo mês, declarou Carter, em Bruxelas, após se reunir com seu homólogo turco, Ismet Yilmaz.

"Buscamos outras ocasiões para colaborar na Síria e incluir Raqa", acrescentou o secretário americano.

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