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Steven Mnuchin, um ex-Goldman Boy sem complexos, assume o Tesouro americano

30/11/2016 12h55

Nova York, 30 Nov 2016 (AFP) - Desconhecido do público em geral, Steven Mnuchin, o novo secretário americano do Tesouro, é um ex-Goldman Sachs cuja proximidade com os mercados poderia ser tanto uma vantagem como uma desvantagem em plena ascensão do populismo.

Ex-doador do Partido Democrata, de 53 anos e olhar esbelto surpreendeu sua comitiva quando tornou-se diretor financeiro da campanha de Donald Trump em abril passado.

"Por quê?", lembra de ter questionado Ben Bram, seu amigo e ex-colega no Goldman Sachs.

Especialmente quando o magnata imobiliário tornou-se presidente dos Estados Unidos e ameaçou Mnuchin com processos judiciais por uma disputa relacionada com o financiamento de um de seus arranha-céus em Chicago.

É um suicídio profissional, perguntam-se aqueles nos círculos financeiros, confusos com a retórica inflamada do candidato Trump contra os imigrantes e de livre-comércio.

A imprensa econômica aposta que este pai de três filhos, duas vezes divorciado, tem a intenção de se instalar o Tesouro para adicionar o toque final a um caminho que o levou às principais esferas de poder nos Estados Unidos: Wall Street, Hollywood e agora Washington.

Steven Mnuchin é assim recompensado por se juntar a Donald Trump quando os grandes doadores tradicionais do Partido Republicano, como o bilionário Koch irmãos, viraram as costas.

HollywoodEle tem um cúrriculo atípico: estudos na Universidade de Yale, Goldman Sachs, a criação de um fundo de investimento com o apoio do financista democrata George Soros, a produção bem-sucedida de blockbusters de Hollywood como "Avatar" e "Esquadrão Suicida".

Cabe agora a este veterano de Wall Street realizar as promessas que levaram Donald Trump à Casa Branca em meio a um crescimento modesto e crescente desigualdade social.

Trump prometeu cortes de impostos, uma reforma tributária para incentivar as multinacionais de repatriar lucros e o desmantelamento da Lei Dodd-Frank, aprovada depois da crise de 2008 para proteger o sistema financeiro e os consumidores dos abusos dos banqueiros.

O novo ministro da Economia também é esperado no cenário internacional, onde os parceiros do país temem uma guerra comercial.

"Há muito a fazer, mas as prioridades são claramente os impostos, a regulamentação, o comércio e infraestruturas", listou recentemente, dizendo esperar começar a trabalhar nessas prioridades nos primeiros 100 dias de governo.

"Ele é a favor do livre-comércio. Favorável à livre circulação de capitais. É um globalista", diz à AFP Jeffrey Sonnenfeld, professor da Universidade de Yale.

Mnuchin é o terceiro dirigente do Goldman Sachs no comando do Tesouro desde os anos 1990.

Dentro do banco, foi testemunha do surgimento dos polêmicos produtos financeiros CDO e CDS, que na época chamou de "desenvolvimentos extremamente positivos" e que desempenharão um papel importante na crise de 2008.

ExpropriaçõesEle deixou o banco em 2002 e dois anos depois fundou o fundo de investimento Dune Capital, que investe em cinema e produção de filmes via os estúdios 20th Century Fox e Warner Bros.

A crise de 2008 o trouxe de volta ao banco: convenceu os bilionários George Soros e John Paulson a comprar em leilão por 1,5 bilhão de dólares o banco falido IndyMac, especializado em hipotecas "subprime".

Mnuchin conseguiu obter do regulador bancário FDIC que assumisse quase todas as perdas em caso de falta de pagamento dos clientes.

Renomeado OneWest, o estabelecimento se recuperou rapidamente graças a expropriações. De acordo com o site especializado Foreclosureradar, a taxa de apreensão do OneWest foi de 59% em 2009 contra 54% em outros bancos.

Estas expropriações também foram destinadas, de acordo com os sites Think Big Work Small e IamFacingForeclosure, a descontar as garantias prestadas pelo Estado Federal, o que Mnuchin sempre rejeitou.

Ele e seus parceiros revenderam OneWest em 2014 por 3,4 bilhões de dólares, mais do que duplicando a sua aposta original, para o grupo CIT, do qual se tornou um dos acionistas.

Uma coalizão de associações na Califórnia (California Reinvestment Coalition) acaba de acionar as autoridades para denunciar práticas "discriminatórias" do antigo OneWest contra negros e hispânicos.

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