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2016, o ano do declínio do 'califado' do Estado Islâmico

27/12/2016 10h43

Bagdá, 27 dez 2016 (AFP) - Ofensivas terrestres contra seus redutos, ataques aéreos contra suas bases, combatentes dizimados: o "califado" do grupo Estado Islâmico (EI) sofreu suas maiores derrotas em 2016, mas continua representando uma ameaça global.

Os extremistas islâmicos não controlam mais do que metade do território que haviam tomado em 2014 no Iraque e na Síria e sofreram suas piores derrotas este ano frente a uma infinidade de forças e países aliados contra eles.

"Quase três milhões de pessoas e mais de 44.000 km2 de território foram libertados" da influência do EI em 2016, anunciou na quarta-feira o general americano Steve Townsend, que lidera a coalizão anti-jihadista internacional.

O grupo ultrarradical sunita perdeu Fallujah, cidade símbolo do Iraque, e até mesmo Dabiq, cidade síria e pedra angular da sua mitologia. Em termos estratégicos, foi expulso de Ramadi, capital da vasta província de Al-Anbar no Iraque, e de Minbej na Síria, crucial para a continuidade territorial de seu "califado".

O EI também teve de abandonar no início de dezembro Sirte, sua fortaleza na Líbia, um país onde esperava construir a sua expansão fora da sua base no Oriente Médio.

Sua prioridade agora é defender Mossul, a grande cidade do norte do Iraque, onde seu líder Abu Bakr al-Baghdadi declarou-se "califa", em junho de 2014.

Esta tarefa se anuncia difícil, frente à ofensiva lançada em outubro por dezenas de milhares de policiais, soldados e milicianos iraquianos, apoiados pelos ataques aéreos da coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos.

O avanço destas forças, já esgotadas por dois anos e meio de luta contra os jihadistas, tem sido retardado pela bombas, carros-bomba e ataques suicidas do EI.

Mas se o calendário é incerto, a balança pesa favoravelmente para as forças iraquianas, que há dois meses avançam rua por rua na segunda cidade do Iraque, esquadrilhada por franco-atiradores do EI.

RaqaUma vez que Mossul for retomado, restará apenas mais uma grande cidade nas mãos do EI: Raqa, na Síria.

A batalha para expulsar os extremistas desta cidade já foi lançada e poderia ser a última deste tipo para o EI, explica o especialista em grupos jihadistas Mathieu Guidere.

"A perda de Raqa significaria o fim do projeto de construção de um Estado do EI e vai deixar o grupo sem símbolo territorial para justificar seu nome de Estado Islâmico", diz ele.

Apesar dos impressionantes estoques de armadas que colocou as mãos e de seus abusos, destinados a semear o terror, o EI está agora cercado.

De acordo com o Pentágono, pelo menos 50.000 de seus combatentes foram mortos desde 2014, o dobro do número de jihadistas que a coalizão creditava ao EI em 2014.

Apesar dos resultados obtidos, a coordenação entre as várias forças anti-EI, por vezes rivais, continua a ser complicadas e os extremistas provaram, especialmente em Mossul, que não vão desistir facilmente.

Suas táticas de guerrilha são extremas e, acima de tudo, sua reserva de suicidas parece inesgotável, um trunfo importante para enfrentar as forças mais bem treinadas e melhor equipadas.

Semear o terrorO grupo extremista sunita também aplica a arte da distração, para esgotar as fileiras inimigas, mas também para afirmar, pelo menos midiaticamente, que mantém a iniciativa.

Neste sentido, lançou recentemente um grande ataque contra a cidade petrolífera de Kirkuk, controlada por combatentes curdos no norte do Iraque, e retomaram o oásis de Palmira, no centro da Síria, das tropas do regime de Bashar al-Assad.

O ano de "2016 foi o ano de declínio" para o EI, diz Guidère. Mas, ressalta ele, o grupo "mantém enorme influência porque nenhuma solução política está à vista (...) especialmente para os sunitas no Iraque e na Síria".

Então, impulsionados à clandestinidade e voltados para a insurgência por meio de ataques para semear o terror, o EI poderia tornar-se uma ameaça ainda mais difícil de combater.

O temido retorno de combatentes estrangeiros é também um importante tema de preocupação no exterior, na sequência de ataques reivindicados ou inspirados pelo EI nos Estados Unidos, França e Bélgica.

"O grupo preparou o terreno, antecipando derrotas e apresentando suas perdas de território como meros retrocessos temporários no Iraque e na Síria. Também promove o fato de que EI é tanto um estado de espírito do que um Estado que governa", afirma em um relatório recente o Grupo Soufan.