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Rússia e Turquia fecham acordo para cessar-fogo em toda a Síria

28/12/2016 15h56

Istambul, 28 dez 2016 (AFP) - Turquia e Rússia alcançaram um acordo para um plano de cessar-fogo em todo o território da Síria, que deve entrar em vigor à meia-noite, noticiou nesta quarta-feira a agência turca Anadolu, o que não foi confirmado nem pela Rússia, nem pelos rebeldes sírios.

O plano tem como objetivo estender ao território sírio o cessar-fogo instaurado há duas semanas em Aleppo, após negociações apoiadas por Moscou e Ancara, que permitiu a retirada de milhares de combatentes e civis dos bairros rebeldes da segunda maior cidade da Síria.

O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, afirmou que não tem "informações suficientes" para confirmar este acordo. O presidente turco, Recep Taiyyp Erdogan, que fez um discurso pela manhã, tampouco mencionou o cessar-fogo.

Uma autoridade rebelde síria afirmou à AFP em Beirute, sob a condição de manter sua identidade preservada, que os detalhes não foram submetidos aos grupos rebeldes e, portanto, não há acordo.

Labib Al Nahhas, que administra as Relações Exteriores do poderoso grupo islamita rebelde Ahrar al-Charm, também anunciou no Twitter à tarde que os grupos revolucionários armados não receberam "proposta oficial a propósito de um cessar-fogo". "Dizer que aprovaram o cessar-fogo é incorreto", afirmou.

Turquia e Rússia estão trabalhando para que o plano entre em vigor nesta quarta-feira à meia-noite, ressaltou a Anadolu, sem revelar mais detalhes.

O acordo, que ainda não foi confirmado oficialmente por fontes turcas ou russas, exclui os "grupos terroristas".

O plano russo-turco ainda não foi apresentado aos grupos armados da oposição e, portanto, ainda não há acordo, afirmou em Beirute à AFP uma fonte ligada aos rebeldes que pediu anonimato.

Em caso de sucesso, o acordo servirá de base para as negociações políticas entre o regime sírio e a oposição, que Moscou e Ancara desejam organizar em Astana, capital do Cazaquistão.

A Anadolu também não informa onde e como o plano foi negociado, mas nas últimas semanas aconteceram reuniões entre Turquia, Rússia e representantes da oposição síria em Ancara.

Um novo encontro entre representantes russos, turcos e da oposição síria armada acontecerá na quinta-feira em Ancara, informou o canal Al-Jazeera.

Rússia e Turquia têm grande participação no conflito sírio, com apoio a forças adversas.

Ancara apoia a oposição e pede a saída do poder do presidente sírio Bashar al-Assad, que conta com o respaldo veemente de Moscou, assim como do governo do Irã.

Mas nos últimos meses, depois de superar a crise provocada pela derrubada de um caça russo pela Força Aérea da Turquia no fim de 2015, os dois países iniciaram uma cooperação estreita na Síria.

'Determinação'Até o momento não foi estabelecida uma data para a reunião de Astana, mas a porta-voz do ministério russo das Relações Exteriores, Maria Zakharova, disse que o encontro ainda está sendo negociado e, de todos os modos, não substitui as negociações de Genebra, previstas para o início de fevereiro.

Os acordos precedentes de cessar-fogo na Síria, negociados por Rússia e Estados Unidos, não foram consolidados.

Até o momento não há informações sobre se o acordo envolve o grupo Fateh al-Sham (ex-Frente Al-Nusra, braço da Al-Qaeda na Síria).

Na terça-feira, o presidente turco Recep Tayyip Erdogan criticou a política do Ocidente na Síria, caracterizada, segundo ele, por promessas não cumpridas.

Erdogan também acusou os países ocidentais de apoiar não apenas as milícias curdas sírias, que Ancara considera terroristas, mas também o Estado Islâmico (EI).

Mas em uma agressiva reação, a embaixada americana na Turquia rejeitou a "considerável desinformação que circula nos meios" de comunicação sobre as operações contra o EI na Síria.

"Afirmações de que o governo dos Estados Unidos apoia o Daesh (EI) não são verdadeiras", acrescentou.

Enquanto isso, nesta quarta-feira, incluindo 10 crianças, morreram em ataques aéreos contra uma cidade sob poder do Estado Islâmico (EI) na região leste da Síria, informou o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).

Desde 2011, a guerra na Síria provocou a morte de mais de 310.000 pessoas.