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EUA sancionam Rússia por ingerência nas eleições à Casa Branca

29/12/2016 21h25

Washington, 29 dez 2016 (AFP) - O presidente americano, Barack Obama, anunciou nesta quinta-feira (29) a adoção de sanções contra duas agências de Inteligência russas e a expulsão de 35 agentes, em investida maciça contra Moscou, acusada de interferir nas eleições presidenciais vencidas por Donald Trump.

"Ordenei um número de ações em resposta ao agressivo assédio do governo russo contra funcionários americanos e operações cibernéticas contra a eleição americana", explicou Obama em um comunicado da Casa Branca.

"Estas ações se seguem às repetidas advertências públicas e privadas que demos ao governo russo e são uma resposta necessária e apropriada aos esforços para prejudicar os interesses americanos, em violação às normas internacionais", destacou Obama.

O governo russo refutou categoricamente as ações dos Estados Unidos, tachando-as de "infundadas".

"Rejeitamos categoricamente as afirmações e as acusações infundadas sobre a Rússia", disse Peskov, citado pela agência de imprensa russa Ria-Novosti.

As medidas elevaram as tensões entre Washington e Moscou, a poucas semanas de Trump receber o bastão das mãos de Obama.

As agências de Inteligência americanas concluíram há semanas que a pirataria e a difusão de e-mails do Partido Democrata e da equipe de sua candidata à Presidência, Hillary Clinton, foi planejado para beneficiar a eleição do republicano Trump, um novado da política, que tem elogiado o presidente russo, Vladimir Putin.

Obama, que contesta a ideia de que funcionários russos tentaram trapacear o processo eleitoral americano sem o conhecimento de Putin, reiterou nesta quinta-feira que o "roubo e a difusão de informação só pode ter sido dirigido pelos mais altos níveis do governo russo".

Entre as ações ordenadas por Obama estão sanções contra os serviços secretos militares russos (GRU) e o Serviço Federal de Segurança (FSB), a antiga KGB soviética, a expulsão de 35 agentes de Inteligência declarados "persona non grata" e o fechamento de duas instalações russas nos estados de Nova York e Maryland, que os Estados Unidos afirmam serem usadas para "propósitos de Inteligência".

O presidente pediu aos americanos que estejam alerta ante as ações russas.

"Além disso, nossos diplomatas experimentaram um inaceitável nível de assédio em Moscou de parte de serviços de segurança russos e da polícia no último ano", acrescentou.

"Essas atividades têm consequências", disse Obama.

Ações futuras, algumas secretasOs Estados Unidos acusam os serviços secretos militares russos (GRU) de se infiltrarem para conseguir informação com o objetivo de influenciar no resultado das eleições presidenciais, sob a supervisão do FSB.

As duas agências enfrentam sanções, assim como quatro funcionários do GRU, incluindo o diretor da agência, Igor Valentinovich Korobov, e três companhias que apoiavam a ciberespionagem.

Uma ordem em separado do Departamento do Tesouro sancionou dois indivíduos - Evgeniy Mikhailovich Bogachev e Aleksey Alekseyevich Belan - por se infiltrar em bancos, universidades, corporações e outras organizações.

As sanções congelam os bens que estas pessoas possam ter nos Estados Unidos e impedem as companhias americanas de fazer negócios com eles.

Um total de 35 agentes de Inteligência credenciados na embaixada russa em Washington e no consulado em San Francisco foram declarados "persona non grata" e ordenados a abandonar o país nas próximas 72 anos.

O governo americano também desclassificou informações técnicas sobre as atividades informáticas russas para ajudar as empresas a se defender de futuros ataques.

Mas faltando menos de quatro semanas para deixar a Casa Branca, Obama anunciou que seu governo continuará tomando outras medidas, algumas das quais manterá em sigilo.

"Estas ações não são a soma total da nossa resposta às agressivas atividades da Rússia. Continuaremos tomando uma variedade de ações, no momento e no lugar que escolhermos, algumas das quais não serão divulgadas".

Obama chamou os amigos e aliados dos Estados Unidos no mundo a "trabalhar juntos para nos opormos aos esforços da Rússia para solapar as normas internacionais estabelecidas e interferir no processo democrático".

"Seguir com nossas vidas"As relações entre Washington e Moscou estão em um de seus piores momentos desde o fim da Guerra Fria, mas Donald Trump, que prometeu uma aproximação com a Rússia, desconsiderou as acusações de interferência eleitoral.

"Já é hora de o nosso país seguir adiante para coisas maiores e melhores", afirmou o magnata, nesta quinta.

"No interesse do nosso país e de seu grande povo, porém, eu vou me encontrar com líderes da comunidade de Inteligência na próxima semana, para ser atualizado sobre os fatos dessa situação", completou.

Mas legisladores dos partidos Democrata e Republicano pediram uma investigação no Congresso sobre as ações russas.

"Há 100 senadores (...) Eu diria que 99% de nós acreditam que os russos fizeram isso e vamos fazer algo a respeito", disse o republicano Lindsey Graham, ex-adversário de Trump.

Obama disse que o Congresso receberá um relatório nos próximos dias sobre a interferência de Moscou.