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Refugiados sírios comemoram primeiro Ano Novo em seu restaurante na França

30/12/2016 13h10

Tournus, França, 30 dez 2016 (AFP) - Para César e Rima, um casal de refugiados sírios, esta festa de fim de ano será muito especial. Eles receberão seus convidados no "Delícias de Aleppo", o restaurante que acabam de inaugurar na França.

"As especialidades culinárias de Aleppo são conhecidas em todo o mundo", conta, orgulhoso, César Asfar, cujo restaurante abriu suas portas na quarta-feira em Tournus, região de Burgundy, centro-oeste do país.

Na cozinha, César prepara tabule, baba ghanush, falafel, shawarma e kanafeh. Sua esposa, Rima, se encarrega de servir as mesas.

As paredes do restaurante estão decoradas com fotos de sua cidade de origem, uma das mais bonitas da Síria antes de ser devastada pela guerra civil.

Em Aleppo, Rima era professora de artes plásticas e seu marido era diretor comercial de uma empresa japonesa. Mas no final de 2014, a vida se tornou muito complicada na cidade, divida entre bairros rebeldes e zonas controladas pelo governo do presidente Bashar al-Assad.

"Perdemos nosso emprego e a casa que estávamos construindo", explica Rima, que também relembra o perigo diário dos bombardeios que atingiam a cidade, inclusive contra hospitais e escolas.

Assim, o casal de 30 anos viajou para a França com seus dois filhos, levando consigo um simples visto de turismo. No avião, não tinham ideia do que o futuro os reservaria. "Só queríamos uma coisa: encontrar um trabalho, qualquer um que fosse, para oferecer um futuro melhor para nossos filhos".

A família Asfar ficou várias semanas na região parisiense, e depois em Nancy, leste da França, antes de encontrar um alojamento em Toul. Várias associações ajudaram estes cristãos do Oriente e, seis meses após sua chegada à França, obtiveram o estatuto de refugiados.

"Graças a Deus!"Rima aprendeu francês na Síria, mas César teve que aprender no dia a dia.

Os meses se passaram e eles não encontravam trabalho. "Estávamos cansados de procurar e angustiados pelo futuro", recorda Rima.

Em agosto, o casal descobriu na internet um anúncio para assumir um restaurante. Os proprietários buscavam pessoas que estivessem precisando de trabalho para reabri-lo.

Houve muitos candidatos, mas "a resposta foi positiva para nós, graças a Deus", explica o casal sírio.

Logo depois, tudo aconteceu muito rápido.

A família precisava de um local para morar. O padre Jacky da catedral de Toul entrou em contato com seu homólogo da Abadia de São Felisberto, em Tournus, o padre Oudot, para pedir ajuda.

"Uma senhora da paróquia possuía justamente um alojamento vazio para alugar", disse o padre Oudot.

A família se mudou para Tournus em dezembro e seus filhos gêmeos, com três anos, foram matriculados na escola.

Após algumas obras, o restaurante, que comporta 20 pessoas, ficou pronto em três semanas. Desde os primeiros dias, o estabelecimento teve uma boa recepção: uma vendedora os levou um buquê de flores e dois clientes saíram da cidade vizinha de Chalon-sur-Saône com o único objetivo de provar seus pratos.

Para as festas de fim de ano, os pais de Rima conseguiram viajar para Tournus. Eles continuam vivendo na parte oeste de Aleppo, sob controle do governo, mas seus três filhos moram no exterior: "Temos um filho vivendo em Toulouse (sul da França) e outro no Beirute", contam.

Apesar da distância, não se arrependem do caminho que seus filhos escolheram. "Sabemos que estão seguros. Na Síria não era assim. Rima e César viram um obus cair a 40 metros deles".

Mas hoje César e Rima já deixaram para trás aquela angústia. "Estamos muito felizes. Agora temos a esperança de uma vida melhor", afirma o casal.