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A ameaça dos ciberataques extremistas

26/01/2017 12h18

Lille, França, 26 Jan 2017 (AFP) - Um ataque cibernético de grande porte que provoque danos ou inclusive mortos não está, no momento, ao alcance de grupos extremistas, mas isso pode mudar em breve e devemos estar preparados, estimam as autoridades.

Estes grupos podem encontrar a tecnologia que precisam solicitando-a a hackers ou mercenários da era digital dispostos a tudo por dinheiro.

"Acreditamos que o Daesh (acrônimo árabe do grupo Estado Islâmico), a Al-Qaeda e todos os grupos terroristas não têm por enquanto competências cibernéticas ofensivas", indicou na quarta-feira à AFP Guillaume Poupard, diretor da Agência Nacional de Segurança de Sistemas de Informação (ANSSI).

"Não é fácil adquirir estas competências, embora não estejamos falando de uma bomba atômica. Com uma dezena de pessoas, um pouco de dinheiro, podem ser eficazes. Podem ir adquirindo competências. Acreditamos que, por enquanto, não as possuem", acrescentou Poupard em Lille (norte da França), onde participou na quarta-feira do 9º Fórum Internacional de Segurança Cibernética.

"Não acreditamos que no curto prazo sejam capazes de realizar ataques informáticos de grande envergadura. Mas isso pode mudar rapidamente. O que mais tememos, e talvez já estejam fazendo, é que solicitem os serviços de mercenários. Pessoas capazes de tudo por dinheiro", acrescenta.

- Inscrito em seu DNA -O diretor da Europol, Rob Wainwright, se referiu à possibilidade de que grupos extremistas recorram a consultores informáticos para realizar ciberataques, como ataques ao sistema bancário ou ao sistema elétrico de um país, na semana passada no Fórum Econômico Mundial de Davos.

"Embora ainda não tenham as competências, podem adquiri-las na darknet (parte encriptada e subterrânea da internet), onde o comércio de instrumentos de cibercrime está florescendo", disse Wainwright.

Grupos de hackers ou cibercriminosos de vários países, frequentemente relacionados com máfias, oferecem seus serviços no darknet. Alguns podem ajudar um grupo extremista sem saber quem estão ajudando.

"Mais que um desenvolvimento rápido do Daesh em termos de ciberataques, tememos que passem por intermediários", acrescenta Guillaume Poupard.

A França, que foi alvo de uma onda de ataques extremistas nos últimos dois anos, aumentou, assim como outros países, seus recursos para lutar contra a "ameaça cibernética", seja o cibercrime, a ciberespionagem ou o ciberterrorismo.

"Os grupos terroristas que utilizam a internet com fins de planejamento, propaganda e recrutamento podem se converter em figuras plenas no mundo cibernético", disse em dezembro o ministro francês da Defesa, Jean-Yves Le Drian, ao revelar a política francesa em matéria de cibersegurança militar.

"As operações assimétricas estão inscritas em seu DNA, e por isso o ciberespaço abre a eles um campo de ação, onde podem provocar danos importantes com recursos limitados", acrescentou.

Alguns atos recentes despertaram preocupação, como a entrada em redes estrangeiras de hackers que não roubam ou destroem nada, mas parecem estar localizando os lugares, preparando as ferramentas de ataque, para estar prontos no momento em que decidirem passar à ação.

"Este tipo de ataques começou em alguns países", afirma o diretor da ANSSI. "Estamos seguindo de perto o que está acontecendo na Ucrânia, onde ocorreram várias avarias estranhas, com modos de ação muito sofisticados".