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Emitida ordem de prisão contra Eike Batista por lavagem de dinheiro

26/01/2017 18h44

Rio de Janeiro, 26 Jan 2017 (AFP) - A Polícia Federal executou uma operação nesta quinta-feira para cumprir um mandado de busca e apreensão na residência de Eike Batista, no Rio de Janeiro, mas não conseguiu detê-lo, porque o empresário suspeito de lavar milhões de dólares partiu para Nova York.

A Operação Eficiência é um desdobramento da Lava Jato, que investiga o pagamento de propinas por grandes empresas a partidos políticos para conseguir contratos.

O Ministério Público emitiu nove mandados de prisão, seis deles contra pessoas que já estão detidas por causas relacionadas, tais como o ex-governador do Rio Sérgio Cabral (2007-2014) e dois de seus assistentes.

Entre as pessoas cujo mandado de prisão foi cumprido está Flávio Godinho, braço-direito de Eike na empresa EBX, hoje vice-presidente de futebol do Flamengo.

Esquema de corrupção "sofisticado e reiterado"O caso está relacionado ao esquema de lavagem de dinheiro usado por Sérgio Cabral e demais investigados em obras públicas no Rio de Janeiro no valor de 340 milhões de reais remetidos para o exterior.

Os suspeitos também devem responder às acusações de corrupção ativa ou passiva e de pertencer a organização criminosa.

Segundo o Ministério Público, Eike Batista é suspeito de pagar propinas no valor de 16,5 milhões de dólares em 2010 a Sérgio Cabral por meio de uma operação que fictícia de compra e venda de uma mina de ouro.

Esse valor foi depositado na conta Golden Rock no TAG Bank, no Panamá, para a empresa Arcadia Asociados, que "recebeu os valores ilícitos em uma conta no Uruguai, em nome de terceiros, mas à disposição de Sérgio Cabral", segundo as autoridades.

"Eike Batista, de forma sofisticada e reiterada, utiliza a dissimulação de negócios jurídicos para pagar e ocultar valores ilícitos, o que demonstra a necessidade de sua prisão para garantir a ordem pública", acrescentou.

Pedido à InterpolO advogado do empresário indicou que seu cliente se encontra em viagem de trabalho em Nova York, mas que retornará ao país para se entregar à Polícia Federal.

"Agora à tarde, vamos combinar como tudo será realizado, mas não posso afirmar se o Eike volta ainda hoje. Nos falamos algumas vezes hoje e ele está à disposição para esclarecer tudo", disse o advogado Fernando Martins ao portal G1.

Segundo a Polícia Federal, Eike teria deixado o Brasil pouco antes da meia-noite de terça-feira, usando um passaporte alemão (nacionalidade da sua mãe).

No fim da tarde, a Polícia Federal informou à AFP que o juiz encarregado do caso pediu à Interpol uma "notificação vermelha" para Eike, usada para solicitar a detenção de uma pessoa visando sua extradição, e que só faltam concluir alguns "trâmites burocráticos" para que a sede da Polícia internacional, em Lyon (França) a estabelecesse.

Quando isto acontecer, Eike será considerado foragido, informou a assessoria de imprensa da PF.

Ascensão e queda de EikeEike Batista, de 60 anos, chegou a ser o homem mais rico do Brasil e o sétimo do mundo na lista das grandes fortunas da revista Forbes em 2012, mas seus projetos ruíram a partir da quebra de sua empresa OGX, em 2013.

Em 2011, o empresário tinha uma fortuna estimada em 30 bilhões de dólares, que no período de um ano e meio caiu para 1 bilhão.

O empresário, que construiu um enorme patrimônio graças a seus negócios na mineração e petróleo, responde a várias ações na Justiça, que o acusa de ter manipulado o mercado mediante o uso indevido de informações privilegiadas para vender ações da OGX.

Esta semana, a Grande Corte de Justiça das Ilhas Cayman bloqueou 63 milhões de dólares de Eike, a pedido de fundos que investiram em seus negócios de exploração de petróleo.

A Operação Lava Jato já levou à prisão dezenas de empresários e políticos de quase todos os partidos brasileiros.

Um número que poderá aumentar consideravelmente se o Supremo Tribunal validar as "delações premiadas" de 77 ex-executivos da construtora Odebrecht, uma das principais envolvidas no escândalo de licitações fraudulentas na Petrobras.

Esse processo deveria ser concluído em fevereiro, mas sofrerá atrasos devido à morte, na semana passada, do juiz responsável, Teori Zavascki, na queda de um avião na costa do Rio de Janeiro.