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Trump fala com líderes mundiais após gerar alarme com decreto anti-imigração

EUA: Donald Trump assina ordem para barrar a entrada de refugiados

Band News

Em Washington

28/01/2017 21h52

Após uma semana como presidente, Donald Trump falou neste sábado (28) por telefone com vários líderes mundiais, em meio a um crescente alarme internacional gerado por seus anúncios para limitar drasticamente a imigração de muçulmanos aos Estados Unidos. Trump falou com o premiê japonês, Shinzo Abe; a chanceler alemã, Angela Merkel; o presidente francês, François Hollande; e o presidente russo, Vladimir Putin.

A Presidência francesa informou em um comunicado que Hollande solicitou a Trump que respeite o princípio de acolhida dos refugiados e advertiu para as consequências do protecionismo comercial que impulsiona.

Segundo a nota oficial, Hollande "lembrou sua convicção de que a luta para a defesa das nossas democracias" só é eficaz se baseada no "respeito aos princípios que as fundamentam, em particular a acolhida aos refugiados". Além disso, o presidente francês "advertiu para as consequências econômicas e políticas de uma abordagem protecionista", como a adotada por Trump.

O Kremlin, por sua vez, destacou que Putin e Trump acordaram na conversa por telefone desenvolver relações "de igual para igual", dando prioridade à luta contra o terrorismo e estabelecendo uma "real coordenação" no combate ao grupo Estado Islâmico na Síria.

Após veto dos EUA, passageiros são barrados em aeroportos

AFP

"O telefonema positivo foi um começo significativo para melhorar a relação entre os Estados Unidos e a Rússia, a qual precisa ser reparada", destacou em um comunicado a Casa Branca, segundo a qual a conversa entre os dois presidentes durou uma hora.

Trump e a chanceler alemã, Angela Merkel, destacaram "a importância fundamental da Otan", durante uma longa conversa telefônica, informou a Casa Branca em um comunicado.

Mais cedo, o presidente americano também conversou com o premiê japonês, a quem ratificou o "ferrenho compromisso" de seu país com a segurança do Japão, segundo informou a Casa Branca em um comunicado. Shinzo Abe será recebido por Trump em 10 de fevereiro, em Washington, para avançar em suas conversas.

Essas conversas deram a Trump uma oportunidade de explicar suas novas políticas contra refugiados e imigrantes, que geraram comoção em grande parte do mundo, em particular o seu decreto para frear temporariamente a entrada de refugiados e a imposição de controles estritos para viajantes de sete países muçulmanos.

"Investigações extremas"

A medida sobre a imigração muçulmana cumpre com uma das promessas mais polêmicas da campanha,quando Trump disse que iria frear a imigração de cidadãos de vários países muçulmanos que, segundo ele, são uma ameaça terrorista para os Estados Unidos, e submeter viajantes estrangeiros dessas nações a "investigações extremas".

"Isso é muito importante", disse o presidente na sexta-feira, no Pentágono, depois de assinar a ordem executiva intitulada "Proteção da nação contra a entrada de terroristas estrangeiros nos Estados Unidos".

O decreto suspende o programa americano de acolhida de refugiados durante, pelo menos, 120 dias, enquanto se concretiza o futuro sistema de verificação de vistos. Também proíbe a entrada nos Estados Unidos de viajantes procedentes de países de maioria muçulmana - Irã, Iraque, Líbia, Somália, Sudão, Síria e Iêmen - durante 90 dias.

Retenções em curso

As autoridades não perderam tempo em implementar a ordem de Trump para frear a chegada de muçulmanos, retendo viajantes em aeroportos americanos poucas horas depois da assinatura das novas medidas, informou a imprensa local neste sábado. O jornal The New York Times assinalou que agentes aeroportuários começaram na sexta-feira à noite a barrar viajantes depois do anúncio do decreto.

Durante a renovação do sistema de vistos serão feitas algumas exceções a pessoas pertencentes a "minorias religiosas", que favorecerão principalmente os cristãos.

O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, se mostrou esperançoso de que estas medidas sejam "temporárias" já que "a necessidade de proteger os refugiados nunca foi tão grande como agora", segundo expressou seu porta-voz Stéphane Dujarric.

28.jan.2017 - Manifestantes protestam contra o banimento de imigrantes muçulmanos no aeroporto JFK, em Nova York - Stephanie Keith/Getty Images/AFP - Stephanie Keith/Getty Images/AFP
Imagem: Stephanie Keith/Getty Images/AFP

Recurso judicial contra o decreto

Várias associações americanas de defesa dos direitos civis apresentaram um recurso judicial contra o decreto assinado por Trump. A ação foi apresentada em um tribunal federal de Nova York pela União Americana das Liberdades Civis (ACLU) e outras associações depois que dois iraquianos foram detidos na sexta-feira à noite no aeroporto JFK (Nova York) com base no decreto recém promulgado.

Um deles trabalhou para o governo americano no Iraque durante 10 anos e o outro foi para os Estados Unidos para se encontrar com sua esposa, que trabalha em uma empresa americana, afirma a ação.

O ex-funcionário do governo, Hameed Khalid Darweesh, foi liberado pouco mais tarde e falou com os jornalistas no aeroporto. Questionado sobre o que diria a Trump afirmou: "Gosto dele, mas não sei. Essa tem uma política que não conheço. Ele é um presidente. Eu sou uma pessoa comum".

Mark Doss, advogado supervisor do International Refugee Project e do Urban Justice Center, afirmou que a detenção e posterior liberação de Darweesh demonstram que a nova política está sendo feita "sem nenhuma orientação" em sua aplicação.

As organizações de direito solicitaram que o recurso receba o status de demanda coletiva para poder representar todos os refugiados e viajantes retidos com base na ordem executiva. 

"'Investigações extremas' é apenas um eufemismo para discriminar os muçulmanos", considerou Anthony Romer, diretor-executivo da ACLU. Romer assinalou que o decreto viola a proibição constitucional à discriminação religiosa ao escolher países com maioria muçulmana para um tratamento mais restrito.

Ahmed Rehab, diretor da seção de Chicago do Conselho de Relações Islâmico-Americanas, disse à AFP que seu grupo ia empreender ações legais para lutar contra o decreto "com unhas e dentes". "Está dirigido a pessoas se baseando em sua fé natural e em sua origem nacional, e não em seu caráter ou criminalidade", afirmou.