O longo e sinuoso caminho para o 'American Dream'
Seattle, Estados Unidos, 3 Fev 2017 (AFP) - Na primavera de 2013, Buta Singh, um sikh de 34 anos do estado indiano de Punjab, fugiu do seu país por medo da perseguição política e religiosa, com o sonho de uma nova vida nos Estados Unidos.
Sua viagem se transformou em uma extenuante e brutal odisseia que se prolongou durante 10 semanas, depois em uma prisão de 11 meses, e há vários anos Singh vive em um limbo legal e com a perspectiva assustadora da presidência de Donald Trump.
Dias atrás, em um tribunal de imigração de Seattle (Washington, oeste dos Estados Unidos), a sentença sobre a solicitação de asilo de Singh foi marcada para 8 de outubro de 2020.
"Sem paciência, não posso conseguir nada", disse. "Só quero um lugar seguro, minha vida na Índia terminou".
Trump iniciou seu mandato com uma posição em política migratória sem precedentes, bloqueando temporariamente a chegada de refugiados e cidadão procedentes de sete países de maioria muçulmana e começando o processo de construção de um muro ao longo da fronteira com o México.
A história de Singh ilustra um novo e complexo aspecto da contínua evolução da estratégia migratória americana, que a nova administração, com sua posição rígida, pode ter dificuldade para manejar no âmbito das obrigações legais de asilo do país.
Singh é uma das dezenas de milhares de pessoas que tentaram entrar nos Estados Unidos nos últimos anos, realizando perigosas travessias pelo hemisfério.
Embora estejam em menor quantidade do que os centenas de milhares de mexicanos e centro-americanos que chegam por ano aos Estados Unidos, estes imigrantes econômicos e refugiados representam uma significativa e crescente proporção dos que alcançam a fronteira sul do país.
No ano passado, os Estados Unidos detiveram nessa fronteira 75.778 pessoas provenientes de países não centro-americanos, que tentavam entrar ilegalmente ou que foram consideradas inadmissíveis, um aumento de 59% em relação ao ano anterior, segundo dados da autoridade fronteiriça (Customs and Border Protection, CBP).
A maioria deles vinha de Cuba (43.304) e do Haiti (6.503), seguidos pelo Brasil (4.665), Índia (3.622), Equador (2.996), China (2.595) e Romênia (2.569).
"Onda" de migrantes"Sempre representei pessoas introduzidas clandestinamente pela América Latina. O que era um gotejamento muitos anos atrás, agora é uma onda", disse John Lawit, advogado do Texas que representa Singh e dezenas de outros solicitantes de asilo.
O grupo inclui emigrantes de países citados em uma lista de países que inclui a Somália, Síria e Iraque, que não podem entrar nos Estados Unidos, considerados por Washington particularmente vulneráveis à atividade terrorista, assim como o Paquistão.
A maioria se apresentou em postos fronteiriços oficiais onde podiam solicitar asilo - em vez de tentar entrar ilegalmente. Até agora, nenhum incidente relacionado ao terror em solo americano foi associado a essas chegadas.
Mas uma ordem executiva emitida na semana passada por Trump, ordenando que as autoridades começassem a construir um muro na fronteira com o México, caracteriza a fronteira sul como "um perigo claro e atual", acrescentando que "entre aqueles que entram ilegalmente estão aqueles que procuram prejudicar os americanos através de atos de terror ou conduta criminosa".
Especialistas afirmam que redes criminosas e emigrantes sul-americanos estabeleceram nas últimas décadas rotas cada vez mais eficientes, e atribuem o aumento atual da emigração ao "boca a boca", a recrutamentos por parte de traficantes, assim como à recessão no Brasil e aos desastres naturais no Haiti.
"Pensei que ia morrer"A viagem de Singh põe em evidência os perigos no caminho dos que sonham em se estabelecer nos Estados Unidos.
Depois que seu pai vendeu terras e pagou cerca de US$ 40.000 a traficantes na Índia, ele voou através da Europa e da América do Sul até a Nicarágua.
Lá, foi escondido em sufocantes caminhões de carga, atravessou rios em botes periclitantes e caminhou através de florestas.
Um traficante roubou seu passaporte no Suriname, e militares de Honduras lhe exigiram propina, contou. Sendo vegetariano, era difícil encontrar comida, e ele passou longos períodos sem água.
"Acho que ninguém trata um animal assim. Pensei que ia morrer", lembra emocionado.
Singh chegou finalmente à cidade fronteiriça de El Paso, no Texas, onde solicitou asilo. Segundo a lei americana, os que entram no país sem visto se juntam aos que cruzam a fronteira ilegalmente nos processos de remoção acelerada.
No entanto, os funcionários entrevistam individualmente qualquer pessoa que expresse medo de perseguição em seu país de origem. Se seu depoimento é considerado verdadeiro, eles podem apelar contra a ordem de deportação, em um longo processo de asilo.
Aqueles que podem provar sua identidade e seus laços com uma comunidade - através de um parente ou empregador - também podem obter a realocação do seu caso.
O Serviço de imigração e naturalização americano registrou em 2016 o dobro de solicitações que no ano anterior, segundo um porta-voz.
Isto implicou em um aumento de 25% nas solicitações de asilo remetidas a tribunais de imigração, segundo dados do Departamento de Justiça.
Os tribunais dos estados fronteiriços do sul do país registraram um aumento de 21% nos casos de imigrantes não centro-americanos no ano passado, de acordo com a mesma fonte.
Sua viagem se transformou em uma extenuante e brutal odisseia que se prolongou durante 10 semanas, depois em uma prisão de 11 meses, e há vários anos Singh vive em um limbo legal e com a perspectiva assustadora da presidência de Donald Trump.
Dias atrás, em um tribunal de imigração de Seattle (Washington, oeste dos Estados Unidos), a sentença sobre a solicitação de asilo de Singh foi marcada para 8 de outubro de 2020.
"Sem paciência, não posso conseguir nada", disse. "Só quero um lugar seguro, minha vida na Índia terminou".
Trump iniciou seu mandato com uma posição em política migratória sem precedentes, bloqueando temporariamente a chegada de refugiados e cidadão procedentes de sete países de maioria muçulmana e começando o processo de construção de um muro ao longo da fronteira com o México.
A história de Singh ilustra um novo e complexo aspecto da contínua evolução da estratégia migratória americana, que a nova administração, com sua posição rígida, pode ter dificuldade para manejar no âmbito das obrigações legais de asilo do país.
Singh é uma das dezenas de milhares de pessoas que tentaram entrar nos Estados Unidos nos últimos anos, realizando perigosas travessias pelo hemisfério.
Embora estejam em menor quantidade do que os centenas de milhares de mexicanos e centro-americanos que chegam por ano aos Estados Unidos, estes imigrantes econômicos e refugiados representam uma significativa e crescente proporção dos que alcançam a fronteira sul do país.
No ano passado, os Estados Unidos detiveram nessa fronteira 75.778 pessoas provenientes de países não centro-americanos, que tentavam entrar ilegalmente ou que foram consideradas inadmissíveis, um aumento de 59% em relação ao ano anterior, segundo dados da autoridade fronteiriça (Customs and Border Protection, CBP).
A maioria deles vinha de Cuba (43.304) e do Haiti (6.503), seguidos pelo Brasil (4.665), Índia (3.622), Equador (2.996), China (2.595) e Romênia (2.569).
"Onda" de migrantes"Sempre representei pessoas introduzidas clandestinamente pela América Latina. O que era um gotejamento muitos anos atrás, agora é uma onda", disse John Lawit, advogado do Texas que representa Singh e dezenas de outros solicitantes de asilo.
O grupo inclui emigrantes de países citados em uma lista de países que inclui a Somália, Síria e Iraque, que não podem entrar nos Estados Unidos, considerados por Washington particularmente vulneráveis à atividade terrorista, assim como o Paquistão.
A maioria se apresentou em postos fronteiriços oficiais onde podiam solicitar asilo - em vez de tentar entrar ilegalmente. Até agora, nenhum incidente relacionado ao terror em solo americano foi associado a essas chegadas.
Mas uma ordem executiva emitida na semana passada por Trump, ordenando que as autoridades começassem a construir um muro na fronteira com o México, caracteriza a fronteira sul como "um perigo claro e atual", acrescentando que "entre aqueles que entram ilegalmente estão aqueles que procuram prejudicar os americanos através de atos de terror ou conduta criminosa".
Especialistas afirmam que redes criminosas e emigrantes sul-americanos estabeleceram nas últimas décadas rotas cada vez mais eficientes, e atribuem o aumento atual da emigração ao "boca a boca", a recrutamentos por parte de traficantes, assim como à recessão no Brasil e aos desastres naturais no Haiti.
"Pensei que ia morrer"A viagem de Singh põe em evidência os perigos no caminho dos que sonham em se estabelecer nos Estados Unidos.
Depois que seu pai vendeu terras e pagou cerca de US$ 40.000 a traficantes na Índia, ele voou através da Europa e da América do Sul até a Nicarágua.
Lá, foi escondido em sufocantes caminhões de carga, atravessou rios em botes periclitantes e caminhou através de florestas.
Um traficante roubou seu passaporte no Suriname, e militares de Honduras lhe exigiram propina, contou. Sendo vegetariano, era difícil encontrar comida, e ele passou longos períodos sem água.
"Acho que ninguém trata um animal assim. Pensei que ia morrer", lembra emocionado.
Singh chegou finalmente à cidade fronteiriça de El Paso, no Texas, onde solicitou asilo. Segundo a lei americana, os que entram no país sem visto se juntam aos que cruzam a fronteira ilegalmente nos processos de remoção acelerada.
No entanto, os funcionários entrevistam individualmente qualquer pessoa que expresse medo de perseguição em seu país de origem. Se seu depoimento é considerado verdadeiro, eles podem apelar contra a ordem de deportação, em um longo processo de asilo.
Aqueles que podem provar sua identidade e seus laços com uma comunidade - através de um parente ou empregador - também podem obter a realocação do seu caso.
O Serviço de imigração e naturalização americano registrou em 2016 o dobro de solicitações que no ano anterior, segundo um porta-voz.
Isto implicou em um aumento de 25% nas solicitações de asilo remetidas a tribunais de imigração, segundo dados do Departamento de Justiça.
Os tribunais dos estados fronteiriços do sul do país registraram um aumento de 21% nos casos de imigrantes não centro-americanos no ano passado, de acordo com a mesma fonte.
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