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Primeiro-ministro holandês deseja 'desescalada' na crise com a Turquia

Primeiro-ministro da Holanda, Mark Rutte  - Michael Kooren/Reuters
Primeiro-ministro da Holanda, Mark Rutte Imagem: Michael Kooren/Reuters

Em Istambul

12/03/2017 08h45

O primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, expressou neste domingo (12) a sua intenção de favorecer uma "desescalada" na crise entre seu país e a Turquia, mas defendeu a decisão de seu governo de expulsar no sábado à noite uma ministra turca.

"Faremos o possível para uma desescalada da situação", declarou Rutte à Radio-télévision NOS. "Devemos ser a parte sensata", acrescentou, em plena campanha eleitoral antes das eleições legislativas na quarta-feira.

"O que aconteceu ontem foi inaceitável", afirmou, referindo-se à expulsão da ministra turca da Família, Fatma Betül Sayan Kaya, que ignorou os pedidos de Haia para não viajar a Roterdã.

Rutte também acusou a Turquia de querer tratar os holandeses de origem turca como cidadãos turcos. "São cidadãos holandeses", insistiu, assegurando "a Holanda é um país orgulhoso". Cerca de 400.000 pessoas de origem turca vivem na Holanda.

Neste contexto de tensões, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, deve discursar neste domingo, após o caso da ministra e a recusa da Holanda de receber o seu chefe da diplomacia, Mevlut Cavusoglu, que viajou à França.

'Tratamento inaceitável'

Enquanto manifestantes substituíram por um breve período, neste domingo, a bandeira holandesa por uma bandeira turca no consulado holandês em Istambul, fechado ontem por Ancara, a ministra Kaya denunciou em seu retorno à Turquia um tratamento "lamentável" por parte das autoridades holandesas.

Kaya tentou, no sábado à noite, ir ao consulado turco em Roterdã para se encontrar com a comunidade turca, no contexto da campanha pelo referendo de 16 de abril sobre o reforço dos poderes presidenciais turcos.

Foi em Roterdã que Cavusoglu planejava participar de um comício em apoio a Erdogan que acabou cancelado pela prefeitura local.

"Fomos submetidos a um tratamento desumano e imoral", declarou à imprensa Kaya, recebida neste domingo no aeroporto Ataturk de Istambul por uma multidão agitando bandeiras turcas.

"Como ministra, detentora de um passaporte diplomático, não preciso de permissão para entrar e encontrar meus concidadãos no nosso consulado, que é considerado território turco", acrescentou.

"Fomos parados a 30 metros do nosso consultado (...) e nosso cônsul não foi autorizado a sair do prédio para nos encontrar", explicou. "Ficamos retidos durante várias horas", relatou.

"Irresponsável"

Durante a noite, cerca de mil manifestantes se reuniram perto do consulado turco em Roterdã. A polícia holandesa dispersou o protesto com canhões de água e polícia montada.

A entrada de Kaya na Holanda foi considerada no sábado como "irresponsável" por Haia. "Informamos de maneira reiterada que a Sra. Kaya não era bem-vinda na Holanda (...) Mas ainda sim, decidiu fazer a viagem", lamentou o governo.

As tensões entre os dois países aumentaram nos últimos dias devido ao anúncio da visita do ministro turco das Relações Exteriores, com Haia recusando-se a endossar uma visita destinada a "fazer campanha política para um referendo".

Impedido de entrar na Holanda, o ministro turco se dirigiu, no sábado à noite, para a França, onde aterrissou em Metz (leste), para participar neste domingo de uma reunião organizada pela União dos Democratas Turcos Europeus (UETD), que organiza comícios eleitorais para o partido AKP do presidente Erdogan. O encontro estava previsto para começar às 14h00 local (10h00 de Brasília).

Cavusoglu também deveria participar em uma reunião em Zurique, mas o encontro foi cancelado após a recusa do hotel onde deveria acontecer o evento, de acordo com a Radio-télévision Suisse (RTS).

O ministro turco havia desafiado no sábado a Holanda, ameaçando com "sanções severas", caso fosse impedido de participar do comício. Por esta razão, Haia proibiu seu avião de pousar, irritando o presidente Erdogan, que falou de "vestígios do nazismo".

Ancara, em seguida, fechou a embaixada e o consulado holandeses, bem como as residências do responsável pelos assuntos da embaixada e do cônsul, por "razões de segurança".

A chancelaria da Turquia também convocou no sábado o responsável dos assuntos holandeses e informou "não querer que o embaixador holandês, atualmente fora do país, retornasse ao trabalho por tempo indeterminado".

A crise entre a Holanda e a Turquia acontece apenas alguns dias antes da eleição parlamentar holandesa na quarta-feira, depois de uma campanha marcada pela questão do Islã. Neste contexto, o partido do deputado anti-Islã Geert Wilders é apontado em segundo lugar nas últimas pesquisas.

A campanha pró-Erdogan na Europa também causou tensões com a Alemanha, onde várias cidades cancelaram comícios pró-Erdogan. O presidente turco acusou em 5 de março a Alemanha de "práticas nazistas", observações que indignaram Berlim e Bruxelas.