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Pais fundadores da União Europeia assinaram 'em branco' o Tratado de Roma

23/03/2017 15h27

Roma, 23 Mar 2017 (AFP) - Os seis países fundadores da chamada Comunidade Europeia, que deu origem à atual União Europeia, assinaram em 1957 na realidade um documento em branco, em vez do Tratado de Roma, durante a histórica cerimônia na capital italiana.

A história foi revelada à AFP por um dos jornalistas que compareceram há 60 anos ao evento, David Willey, na época com 24 anos, que naquele dia começava a trabalhar para a agência de notícias inglesa Reuters, pouco interessada nas ideias europeístas.

"Eu era o mais jovem do escritório e a agência Reuters considerava que não era uma informação importante", contou Willey, atualmente aposentado, que trabalhou de Roma e do Vaticano por 35 anos como correspondente da BBC.

O Tratado de Roma significou um momento chave para a história do velho continente que, ante a impossibilidade de conquistar uma união política, iniciou um processo de integração gradual em diversos setores da economia.

O Tratado de Roma na realidade era composto por dois tratados, e eles foram assinados no dia 25 de março de 1957 no Capitólio de Roma por Alemanha Federal, Bélgica, França, Itália, Luxemburgo e Holanda.

Os signatários do acordo foram Paul-Henri Spaak, Antonio Segni, Konrad Adenauer, entre outros.

A Grã-Bretanha não formava parte do Tratado constitutivo da chamada Comunidade Econômica Europeia (CEE), nem da criação da Comunidade Europeia da Energia Atômica (Euratom), e os jornais britânicos cobriam o tema com ceticismo.

"O Times de Londres dedicou um terço de uma coluna na página oito", lembra Willey.

"O mais divertido é que nos demos conta depois de que o Tratado de Roma, de fato, era formado, sobretudo, por um monte de páginas em branco, já que havia sido negociado com pressa e a organização não havia sido perfeita, razão pela qual foram obrigados depois da assinatura a preencher as folhas em branco", contou o jornalista da AFP.

Albert Breuer, um dos organizadores da assinatura, confirmou a história no site da União Europeia.

"Conseguimos estampar apenas a primeira página e a última página para as assinaturas. No meio só havia páginas em branco", escreveu.

Uma séries de inconvenientes de última hora impediram a impressão dos vários pontos do documento, negociados até a madrugada.

O vagão de trem com todos os rascunhos já traduzidos sofreu um atraso provocado pelas autoridades suíças, responsáveis pela limpeza do prédio em Roma onde os especialistas trabalhavam jogaram fora a montanha de documentos com as modificações introduzidas de última hora, convencidos de que se tratava de lixo e, por último, os estudantes contratados para digitar as mudanças decidiram fazer uma greve.

Apesar disso, a cerimônia foi realizada na sala majestosa dos Horácios e Curiácios. Os ministros e chefes de delegação assinaram dois volumes grossos e ninguém suspeitou de nada.

"Todos estavam vestidos formalmente, de terno preto e gravata", lembra divertido Willey, que aos 84 anos reconhece que na época tudo era mais simples, não era necessário se credenciar para cobrir a cerimônia.

"Havia pouca segurança, e também pouca burocracia. Cheguei e acompanhei a assinatura", contou.

ob-kv.