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Coptas do Egito celebram a Páscoa em meio a tensões

15/04/2017 10h47

Cairo, 15 Abr 2017 (AFP) - Os coptas do Egito se prepararam para celebrar a Páscoa em meio à tristeza e sob vigilância depois dos ataques mortais que atingiram duas igrejas no domingo passado.

A Igreja anunciou que as celebrações da Páscoa se limitariam a uma missa simples, "dadas as circunstâncias atuais e em solidariedade com as famílias das vítimas".

O Papa copta Tawadros II deve presidir na Basílica de São Marcos, no Cairo, uma missa que começará à noite e que se estenderá até a madrugada.

Na segunda-feira, o governo egípcio introduziu um estado de emergência na sequência dos dois atentados suicidas que mataram 45 pessoas e que foram reivindicados pelo grupo Estado Islâmico (EI).

Para os coptas, os cristãos egípcios, a Páscoa, com o Natal, é a data mais importante em seu calendário.

Para esta ocasião, a polícia foi mobilizada em grande número e vai conduzir revistas minuciosas do lado de fora e na entrada das igrejas com detectores de metal, informaram autoridades do ministério do Interior. Os carros não poderão estacionar nas ruas adjacentes.

"As igrejas não serão decoradas e os locais geralmente reservados para a recepção dos fiéis que desejam trocar seus votos permanecerão fechados", declarou à AFP um funcionário do patriarcado copta.

Os atentados no domingo de Ramos atingiram as igrejas de Tanta e Alexandria e "provocaram grande choco, para todos no Egito", declarou Boulos Halim, porta-voz da Igreja copta.

'Inquietação'"A alegria da ressurreição nos ajuda a superar os sentimentos de dor", acrescentou Boulos Halim.

O EI ameaçou aumentar os ataques contra a comunidade cristã no Egito. Mas isso não deve impedir que os fiéis assistam à missa na noite de sábado, como afirma John que, no entanto, diz se sentir mais seguro no Cairo do que no resto do país.

"Fora do Cairo, em uma aldeia, por exemplo, não gostaria que minha família fosse (à missa), eu ficaria preocupado", explica este copta à AFP em uma igreja da capital, relativamente segura.

Foi em uma dessas aldeias, Koum el-Loufy, na província de Minya (sul), que muçulmanos atacaram na quinta-feira cristãos que tentavam celebrar seus ritos em um prédio abandonado, segundo a polícia.

Enquanto a cidade conta com várias mesquitas, os cristãos não foram autorizados a construir uma única igreja se quer, ressalta Ishak Ibrahim, um pesquisador da Egyptian Initiative for Personal Rights.

"É provável que eles não possam rezar neste sábado", disse à AFP.

"Há um clima geral de perseguição contra os coptas e, infelizmente, o Estado não ataca as causas do problema, mesmo que tente evitar que a violência se espalhe", lamenta.

Esses novos episódios de violência contra a comunidade copta três semanas antes da primeira visita do papa católico Francisco ao Egito, mantida para os dias 28 e 29 de abril apesar dos ataques, segundo o Vaticano.

Os coptas, que representam cerca de 10% dos 92 milhões de egípcios, foram alvos de vários ataques nos últimos meses. Em dezembro, um suicida do EI se explodiu em uma igreja no Cairo, matando 29 pessoas.