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Oposição venezuelana exige liberdade dos 'presos políticos'

28/04/2017 21h57

Caracas, 29 Abr 2017 (AFP) - Ao menos 2.000 venezuelanos seguiram, nesta sexta-feira (28), para os presídios, onde estão Leopoldo López e outros membros da oposição estão detidos, para reivindicar sua liberdade, ao completar um mês de intensos protestos pela saída do presidente Nicolás Maduro.

"Liberdade, liberdade!" - gritavam os manifestantes, usando camisetas com o rosto de López, nos arredores de Ramo Verde, periferia de Caracas, onde o líder opositor cumpre uma pena de quase 14 anos acusado de incitar à violência nos protestos de 2014.

Milhares de elementos da Guarda Nacional bloqueavam as vias com caminhões e uma barreira metálica.

"Não deixaram a gente passar para ver Leopoldo. Com uma sirene, não nos deixaram ouvi-lo. Estamos há um mês sem vê-lo, ou ouvi-lo. O que dizem é que está punido com isolamento. Liberdade para todos os presos políticos", declarou à imprensa Lilian Tintori, esposa do opositor, acompanhada da sogra, Antonieta Mendoza.

Perto do bloqueio, o deputado opositor Henry Ramos Allup afirmou que as forças de segurança têm ordem de não deixar os opositores passarem.

Grupos de opositores se concentraram em diferentes pontos de Caracas, chegando a San Antonio de Los Altos, de onde marcharam 14 quilômetros rumo a Los Teques.

Outro grupo protestou nos arredores do centro de reclusão do serviço de Inteligência El Helicoide, na capital, e houve pequenas mobilizações em outras cidades do país.

"Vim, porque quero voltar a viver na democracia. Aguentaremos o que for até conseguir eleições", disse à AFP Reina Romero, uma educadora aposentada de 71 anos.

Próximo dela, um homem segurava um cartaz que dizia: "Eleições já".

Um grupo de deputados fez uma sessão plenária do lado de fora do presídio, bem em frente ao cordão de segurança, em uma mesa colocada no meio da rua.

"Pedimos ao povo que continue na resistência", declarou à imprensa o vice-presidente do Parlamento, Freddy Guevara.

A oposição afirma que, com as prisões na onda de protestos contra Maduro que tiveram início em 1° de abril, subiu de 100 para 170 o número de presos políticos, a quem o governo trata como autores de atos de violência e conspiração.

Até agora, os confrontos entre as forças de segurança e os manifestantes, os distúrbios, os saques e os tiroteios que ocorreram neste mês deixaram 28 mortos e dezenas de feridos. Mais de mil pessoas foram detidas, a maioria temporária.

Nesta sexta-feira, os governadores chavistas dos Estados de Vargas e Táchira proibiram o uso de capuzes e máscaras nos protestos contra Maduro, seguindo a decisão adotada há uma semana pelo governo de Yaracuy.

Em meio à convulsão social, o Tribunal Supremo de Justiça decidiu flexibilizar as regras do processo de reinscrição dos partidos políticos iniciado em março, o que segundo analistas poderá retardar ainda mais a convocação de eleições, uma das exigências da oposição.

- Tensão internacional -A mobilização junto às prisões faz parte de uma ofensiva da oposição para exigir eleições gerais, respeito à autonomia do Parlamento, libertação dos ativistas presos e canal humanitário que alivie a escassez de alimentos e remédios sofrida pelo país.

Em plena tempestade política, o governo da Venezuela iniciou formalmente nesta sexta o processo de sua retirada da Organização de Estados Americanos (OEA), um fato sem precedentes na história do fórum regional.

Hoje, a representante da Venezuela na OEA, Carmen Luisa Velásquez, reuniu-se com o secretário-geral da Organização em Washington, o uruguaio Luis Almagro, a quem entregou a carta, na qual seu governo formalizou a denúncia do tratado constituinte do bloco regional.

"Tenho orgulho de dizer que tomei a decisão de retirar nossa pátria da OEA, de libertar nossa pátria do intervencionismo (...). Estamos livres da OEA e jamais voltaremos!" - anunciou ontem o presidente venezuelano, Nicolás Maduro.

A Venezuela pediu à Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) uma reunião para o dia 2 de maio para, segundo o governo, combater o "bullying diplomático" da OEA.

Maduro enfrenta há um mês uma onda de protestos que exige eleições gerais e que provocou violentos confrontos entre as forças de segurança e manifestantes, que já deixaram quase 30 mortos e centenas de feridos e detidos.

Maduro afirma que a "direita venezuelana faz terrorismo para provocar o caos", como parte de um plano com os Estados Unidos para derrubá-lo e propiciar uma intervenção estrangeira.

A oposição realizou na quinta uma sessão extraordinária do Parlamento em um estádio de Caracas. Nela, pediu à comunidade internacional que exija do governo Maduro a antecipação da eleição presidencial, prevista para dezembro de 2018.

Para 1º de Maio, sempre marcado por protestos chavistas, a oposição convocou uma "grande passeata", exatamente um mês após o início dos protestos.

Mais de 70% dos venezuelanos, segundo pesquisas de institutos privados, reprovam a gestão de Maduro.

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