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Macron e Merkel afinam sintonia para liderança da UE

23/06/2017 17h14

Bruxelas, 23 Jun 2017 (AFP) - Emmanuel Macron e Angela Merkel usaram a esperada primeira cúpula europeia do presidente francês, nesta sexta-feira (23), para lançar uma clara mensagem: a dupla franco-alemã está pronta para liderar o impulso de uma União Europeia (UE) pós-Brexit.

"Quando França e Alemanha falam com uma única voz, a Europa pode avançar", garantiu o presidente em uma incomum entrevista coletiva ao lado da chanceler, diante de uma sala lotada de jornalistas ao fim de um encontro de dois dias com seus 26 sócios.

Para Merkel, essa coletiva mostra a vontade de "encontrarmos juntos soluções para os problemas".

"Não pode haver uma solução pertinente, se não for pertinente para França e Alemanha", completou Macron.

Amparados pelas bandeiras da UE, da França e da Alemanha, a entrevista foi dada exatamente no primeiro aniversário da vitória do Brexit em um referendo no Reino Unido que mergulhou o bloco em sua maior crise política recente.

Um ano depois, os europeus chegam a essa cúpula com a confiança renovada em relação a seu futuro a 27, após a vitória de Macron contra um dos símbolos do euroceticismo na Europa, Marine Le Pen, e em um contexto de recuperação econômica no bloco.

Reforço das capacidades militares no continente, luta antiterrorista, compromisso com o Acordo de Paris sobre o Clima, política comercial: esses são apenas alguns dos aspectos que a dupla quer levar adiante em parceria.

"É mais do que um símbolo. É uma verdadeira ética de trabalho", afirmou Macron, justificando sua aparição ao lado de Merkel, destacando o peso do eixo franco-alemão em um bloco atualmente com 28 membros, nascido dos escombros da Segunda Guerra Mundial.

Questionado sobre se esse vínculo deixa os demais países em segundo plano, o presidente do governo espanhol, Mariano Rajoy, respondeu que "ninguém" fica para trás. Segundo ele, a coletiva de imprensa apenas com os dois se deve ao fato de ser o primeiro Conselho Europeu para "o senhor Macron".

- 'A nova estrela da Europa'Para políticos, jornalistas e analistas, Macron é "a nova estrela da Europa", o centro de todos os olhares em sua primeira cúpula.

"Todos os europeístas o veem com bons olhos", garante o correspondente da Rádio Nacional da Espanha Antonio Delgado, comentando que "é um Obama à europeia, mas apenas para as elites".

Um diplomata europeu destacou a capacidade do presidente francês para "criticar seu próprio país" e reconhecer "a necessidade de fazer reformas na França, para manter sua credibilidade em relação a seus sócios".

Não há apenas elogios, porém. Os representantes da Europa Central e Oriental ainda reagiam a seus comentários em vários jornais europeus sobre que a Europa não é um "supermercado".

Para Kasia Szymanska-Borginon, da rádio privada polonesa RMF, "Macron é muito populista, nós o vemos como um Le Pen com um toque europeu, já que acusa os países do Leste de dumping social e de malversações".

Em reunião em paralelo da cúpula, a primeira-ministra da Polônia, Beata Syzdlo, pediu-lhe para deixar os "estereótipos" de lado - frequentemente vistos como "ofensivos" - e que adote uma maior prudência na escolha de suas palavras.

Mesmo com sua mais nova parceira, Merkel, Macron também mantém alguma diferença, em especial no que diz respeito à reforma da zona euro desejada por Paris, mas que preocupa os conservadores alemães.

"Não anunciamos antecipadamente coisas que não podemos manter", respondeu a chanceler, ao ser questionada sobre medidas concretas, antes das eleições legislativas previstas para setembro em seu país.

Apesar dos leves desencontros, a lua de mel entre os dirigentes das principais economias da zona euro poderá continuar nas próximas semanas. A agenda inclui o funeral de Helmut Kohl, a cúpula do G20, em Hamburgo, e um conselho de ministros franco-alemão em julho.

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