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Harvey, um teste de liderança para Trump

28.ago.2017 - Presidente dos EUA, Donald Trump, na Marinha "One", em Washington - BRENDAN SMIALOWSKI/AFP
28.ago.2017 - Presidente dos EUA, Donald Trump, na Marinha 'One', em Washington Imagem: BRENDAN SMIALOWSKI/AFP

28/08/2017 14h11

A forma como o presidente americano, Donald Trump, lidará com o furacão Harvey será um grande teste de sua capacidade de liderança, em meio a um retorno difícil de suas férias de verão.

Com fotografias tiradas em reuniões de emergência com sua equipe e enviando coordenadas durante o fim de semana, o presidente, que anunciou que visitará o Texas na terça-feira (29), mobilizou-se e divulgou seus passos.

De maneira incomum, Trump abandonou, com algumas exceções, as declarações provocadoras no Twitter para enviar uma série de mensagens mobilizadoras.

O governador republicano do Texas, Greg Abbott, elogiou nesta segunda-feira a resposta "notável" em nível federal da Casa Branca.

"Todas as vezes que o Texas fez um pedido, a resposta foi sim", disse ele à rede CBS.

A imagem contrasta de forma singular com outra crise de natureza diferente, ocorrida há 15 dias, quando a violência racista abalou a pequena cidade de Charlottesville, na Virgínia. Seu silêncio, suas declarações e, finalmente, sua indulgência com a extrema-direita chocaram e atingiram seu governo.

Os detalhes da visita ao Texas não foram anunciados. De acordo com Abbott, Trump não deve parar em Houston, a fim de evitar uma paralisação das operações de socorro, e sim, no interior do território.

Uma coisa é certa: o chefe de Estado parece determinado a evitar os erros de seu antecessor George W. Bush durante o Katrina, que atingiu Nova Orleans em 2005.

A imagem de Bush contemplando a área devastada da janela do Air Force One se tornou um símbolo da desconexão de um presidente com a realidade.

As catastróficas inundações que afetam o Texas também representam um desafio para a Casa Branca que terá, nos próximos dias, de trabalhar com o Congresso para desbloquear os fundos necessários para a reconstrução das áreas atingidas.

O impacto econômico de Harvey, impossível de estimar com precisão, será de vários milhões de dólares.

Mudança de tom 

A retomada das sessões do Congresso se anuncia complicada para o inquilino da Casa Branca, que enviou tuítes vingativos contra os homens fortes do Senado, Mitch McConnell, e da Câmara de Representantes, Paul Ryan, ambos seus correligionários.

Os debates devem terminar no final de setembro com a aprovação do orçamento para 2018 e o aumento do limite máximo da dívida.

Muitos se perguntam se Trump vai desistir de sua "chantagem orçamentária" diante da urgência representada por Harvey. O presidente ameaçou com um bloqueio, se os fundos não forem liberados para construir um muro na fronteira mexicana.

Em termos mais gerais, há dúvidas sobre se este presidente, acostumado a súbitas mudanças de humor e de tom, saberá manter uma posição presidencial e de mobilização.

No dia seguinte à sua viagem ao Texas, Trump planeja ir ao Missouri para destacar os méritos de sua reforma tributária (e denunciar o que ele considera uma obstrução sistemática dos democratas). O tom dessa reunião será estudado com atenção.

Seus críticos lembram que, na sexta-feira, quando o furacão Harvey se aproximava da costa dos Estados Unidos, Trump anunciou uma das medidas mais controversas de sua presidência: o perdão presidencial ao ex-prefeito Joe Arpaio, condenado por sua obsessiva perseguição a imigrantes em situação ilegal.

A decisão, bem como o momento escolhido para anunciá-la, não contribui para reforçar a imagem que a maioria dos americanos espera de um presidente em tempos de crise: um homem que controla a situação.