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Líder do ELN ordena a tropas rebeldes histórico cessar-fogo na Colômbia

29/09/2017 20h14

Bogotá, 29 Set 2017 (AFP) - O líder máximo do ELN, Nicolás Rodríguez, ordenou a esta guerrilha suspender "todo tipo de ações ofensivas" na Colômbia a partir deste domingo, como parte do cessar-fogo temporário e recíproco pactuado com o governo.

O líder rebelde, também conhecido como Gabino, deu a instrução a suas tropas de acatar o compromisso assinado com os delegados do presidente Juan Manuel Santos em 4 de setembro, em Quito, sede das negociações de paz iniciadas em fevereiro.

"Ordeno a todas as tropas do território nacional cessar todo tipo de atividades ofensivas para cumprir cabalmente o cessar-fogo bilateral", disse o líder insurgente em um vídeo difundido pelo grupo guevarista em sua conta no Youtube.

O acordo, que começará a vigorar à 00H00 local de domingo (02H00 de Brasília), estará em vigor até 9 de janeiro, embora as partes tenham acertado examinar uma eventual prorrogação.

É a primeira vez que o Exército de Libertação Nacional (ELN) se compromete a suspender suas ações de forma recíproca desde que pegou em armas, em 4 de julho de 1964. Antes, já tinha suspenso suas ações de forma unilateral e por curtos períodos de tempo.

A ordem de Gabino chega ao fim de uma semana de ataques à infraestrutura petroleira e à força pública, que deixaram um militar morto e vazamentos de petróleo nos departamentos (estados) de Norte de Santander e Arauca, fronteiriços com a Venezuela.

Os militares atribuíram as ações ao ELN, a guerrilha mais forte em atividade na Colômbia após o desarmamento e transformação em partido político das Farc, a força rebelde mais poderosa do continente e que selou a paz em novembro de 2016.

O cessar-fogo é o maior avanço nas difíceis negociações de Quito, com as quais o governo Santos busca terminar de extinguir um conflito de 53 anos, que deixou 7,5 milhões de vítimas entre mortos, desaparecidos e deslocados.

Além das Farc e do ELN, o conflito envolveu militares e policiais, narcotraficantes e grupos paramilitares de extrema direita.

- Lealdade à prova - Ladeado pelas bandeiras da Colômbia e da guerrilha, Rodríguez apareceu em uma zona montanhosa, sentado em frente a uma mesa onde repousam um fuzil, um laptop e um telefone via rádio.

Vários guerrilheiros com o rosto coberto escoltavam Gabino enquanto ele se dirigia aos comandos da organização que, segundo cifras oficiais conta com 1.500 combatentes.

"Não tenho nenhuma dúvida de sua lealdade para cumprir com este compromisso até as últimas consequências", disse Rodríguez a suas tropas.

O compromisso alcançado em Quito prevê a suspensão do enfrentamento com os agentes do Estado, o fim dos sequestros, dos ataques a oleodutos e agressões à população civil.

O presidente Santos advertiu nesta sexta-feira que o cessar-fogo temporário obrigará o ELN a suspender estas atividades.

"O ELN tem que parar de sequestrar, de recrutar menores, de plantar minas, de atacar a nossa infraestrutura. E obviamente devem cessar toda ação ofensiva contra nossas forças armadas e da polícia", disse Santos, ao dar a ordem às tropas colombianas a se submeterem ao acordo.

O governo se comprometeu, por sua vez, a melhorar as condições carcerárias dos presos do ELN e a fortalecer a proteção a líderes sociais, alvo de ataques que deixam 190 mortos desde janeiro de 2016, segundo a Defensoria do Povo, entidade que zela pelos direitos humanos na Colômbia.

Mais cedo, as partes deixaram prontos os protocolos do cessar-fogo, segundo um comunicado conjunto.

Um mecanismo formado pela ONU, pelo governo, pelos rebeldes e pela Igreja católica verificará no terreno o cumprimento do pacto.

O componente internacional será o encarregado de facilitar o entendimento entre guerrilha e governo ante eventuais desacordos.

Analistas advertiram sobre o desafio que será para o ELN o cumprimento deste compromisso sem precedentes. Diferentemente das Farc, a organização guevarista tem uma estrutura federada na qual afloraram diferenças sobre os diálogos de paz.