Che Guevara é celebrado em Cuba e na Bolívia 50 anos após sua morte
Cuba homenageia, neste domingo (8), Ernesto "Che" Guevara, uma figura mítica da ação revolucionária armada durante a Guerra Fria, 50 anos após sua morte na Bolívia.
Na ilha, onde todos os alunos começam o dia prestando o sermão dos "pioneiros", prometendo "ser como Che", no mausoléu que abriga os restos mortais do "heroico guerrilheiro" desde 1997 em Santa Clara (centro), estão programadas cerimônias comemorativas.
O presidente Raúl Castro, sucessor de seu irmão Fidel, falecido no ano passado, deverá estar presente para homenagear o homem que era chamado de "O Argentino" nesta cidade, onde ganhou em 1967 uma decisiva batalha contra as tropas do ditador Fulgencio Batista (1952-1958).
Uma comitiva oficial cubana também partiu no sábado para a Bolívia, onde seus quatro filhos, Aleida, Celia, Camilo e Ernesto, nascidos e residentes em Cuba, visitarão La Higuera, vilarejo onde o guerrilheiro foi executado em 1967 no sul do país.
A comitiva é líderada pelo comandante Ramiro Valdés, muito próximo a Che em sua campanha militar em Cuba. Também fazem parte dois militares cubanos sobreviventes da guerrilha boliviana, o general Harry Villegas (Pombo) e o coronel Leonardo Tamayo (Urbano).
Ernesto Che Guevara foi capturado em 8 de outubro de 1967 pelo Exército boliviano depois de ser ferido em batalha, e executado no dia seguinte. As homenagens são, tradicionalmente, realizadas no dia de sua captura.
Mito vivo
Naquele 8 de outubro, acompanhado por dois agentes cubano-americanos da CIA, o Exército boliviano capturou Che. Ele liderava um punhado de guerrilheiros que haviam sobrevivendo a combates, fome e doenças.
Guevara foi levado para uma escola abandonada, onde passou sua última noite. Na tarde seguinte, o revolucionário foi executado sumariamente por Mario Teran, um sargento boliviano. Aos 39 anos, "Che" entrava para a História e se tornava um mito, enquanto seu corpo magro era exibido como um troféu.
A mitologia revolucionária da qual "Che" Guevara é símbolo, foi revivida em 1997 pela descoberta de seus restos mortais - cuja identificação continua controversa - e sua exumação solene no mausoléu de Santa Clara por Fidel Castro.
No mundo inteiro, a imagem-culto do guerrilheiro - a foto do cubano Alberto Korda tirada em 1960 e a mais difundida no mundo - continua sendo reproduzida em milhões de camisas, cartazes, bonés, ou bolsas, apreciados pela juventude dos cinco continentes, mas também por estrelas do futebol, ou da música.
A extrema-esquerda europeia nascida dos eventos de 1968 e uma parte da intelligentsia contribuíram amplamente para a popularização de um homem renomado por sua vontade de ferro, apesar de sua condição asmática.
Guerrilha de corpo e alma
Depois de estudar Medicina na Argentina e de várias jornadas que forjaram suas convicções,esse defensor declarado da violência política conheceu Raul e Fidel Castro no México, antes de participar da guerrilha que levou "os barbudos" ao poder em Havana em 1959.
De seus companheiros cubanos, ele guarda o apelido de "Che", uma interjeição característica argentina para atrair a atenção do interlocutor, cumprimentá-lo, ou expressar surpresa.
Após supervisionar por seis meses a repressão dos "contrarrevolucionários" - o que nunca negou - dirigiu por um tempo o Banco Central cubano e o Ministério da Indústria.
Mentor da aproximação da Revolução Cubana com Moscou, afastou-se posteriormente das posições soviéticas favoráveis à "convivência pacífica" com o bloco ocidental para defender uma estratégia de conquista do poder pelas armas, mais perto do maoísmo.
"Outras terras do mundo reclamam a contribuição de meus modestos esforços", escreveu para Fidel em 1965, ao pedir uma licença para levar a luta insurrecional para a África em particular.
Ele terminou essa carta com sua famosa frase: "Hasta la victoria, siempre" ("Até a vitória, sempre!").
Seguiram-se meses de "desaparecimento", enquanto esteve no Congo tentando - sem sucesso - impor uma revolução armada para, então, embarcar em sua última guerra na Bolívia.
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