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Catalunha sob pressão máxima na véspera de discurso sobre independência

1°.out.2017 - Nacionalistas marcham com a bandeira da Espanha a favor da unidade espanhola e contra a separação da Catalunha - JAVIER SORIANO/AFP
1°.out.2017 - Nacionalistas marcham com a bandeira da Espanha a favor da unidade espanhola e contra a separação da Catalunha Imagem: JAVIER SORIANO/AFP

09/10/2017 11h03

A Catalunha vive nesta segunda-feira (9) horas de extrema incerteza, enquanto seu presidente ainda ameaça declarar a independência da região na terça-feira (10), após um fim de semana em que milhares de espanhóis pediram que voltasse atrás.

"Abrimos a porta para a mediação (...) Os dias passam e, se o Estado espanhol não responder positivamente, nós faremos o que viemos fazer", garantiu Carles Puigdemont em uma entrevista para a televisão pública catalã transmitida no domingo (8) à noite.

Submetido a uma enorme pressão, o presidente regional já havia prometido prosseguir, se o governo do conservador Mariano Rajoy não concordasse em negociar um referendo legal sobre a independência. A possibilidade sempre foi descartada por Madri.

"Se a independência for declarada unilateralmente, o governo não ficará sem resposta", insistiu nesta segunda-feira (9 )a vice-presidente do governo espanhol, Soraya Saenz de Santamaria, quando perguntada sobre a aplicação do artigo 155 da Constituição, que permite eliminar a autonomia da região.

Santamaria apelou diretamente aos "muitos separatistas que têm medo, porque nem as empresas nem a Europa os apoiam", para que façam Puigdemont --segundo ela, um "fanático" que procura "precipitar a Catalunha ao abismo"-- voltar atrás.

"Parem tudo", lançou Pedro Sanchez, líder da oposição socialista, dirigindo-se a Puigdemont em uma coletiva de imprensa em Barcelona, acrescentando que "apoiará a resposta do Estado".

Enquanto o mundo empresarial catalão expressa sua grande preocupação, a ministra francesa responsável pelos Assuntos Europeus, Nathalie Loiseau, lembrou que "a primeira consequência" de uma declaração de independência seria que a Catalunha "deixaria automaticamente a União Europeia".

A Europa acompanha com preocupação a evolução da crise catalã. A chanceler alemã, Angela Merkel, conversou por telefone com Rajoy e com o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, segundo o porta-voz do governo alemão.

'Temos medo'

Da decisão de Carles Puigdemont depende o destino de 16% da população espanhola que vive nessa região do nordeste da Espanha, grande como a Bélgica e que contribui com 19% do PIB do país.

O impulso separatista que vem crescendo há muitos anos divide a Espanha e a própria Catalunha.

"Prou! Recuperem el seny" ("Basta! Recobremos a razão"), proclamaram no domingo aqueles que se opõem à separação, que representam quase metade dos aproximadamente 7,5 milhões de habitantes da Catalunha.

Quase um milhão, segundo os organizadores, e 350 mil, de acordo com a Polícia municipal, foram às ruas de Barcelona ontem para defender a "unidade da Espanha" em um clima de extrema tensão e ansiedade.

"Temos medo. Vemos que será a ruína da Catalunha e da Espanha", disse à AFP Mercedes Sanz Cortinas, de 51 anos, uma dona de casa que foi protestar com toda família.

Em 1º de outubro, um referendo de autodeterminação proibido pela Justiça espanhola foi realizado na Catalunha. A consulta foi marcada pela violência policial, quando as forças de segurança enviadas por Madri tentaram evitar sua realização em diferentes 100 seções eleitorais.

Pressão das empresas

Os separatistas catalães afirmam que venceram a votação, que foi boicotada por seus adversários, com 90% dos votos e uma taxa de participação de 43%. O suficiente --alegam-- para declarar a independência.

E todos esperam que esta declaração, se ocorrer, aconteça durante uma sessão plenária no Parlamento catalão, onde Carles Puigdemont deve falar na terça-feira à noite.

Esse cenário parece possível para pelo menos 15 empresas, incluindo dois grandes bancos, CaixaBank e Banco de Sabadell, que decidiram mudar sua sede social para fora da Catalunha.

A expectativa é que a comunidade empresarial continue a exercer pressão sobre o Executivo catalão e, nesta segunda-feira, novas empresas podem decidir deixar a região. Entre elas, o grupo rodoviário Abertis, que reúne seu conselho administrativo na parte da tarde.

Se Carles Puigdemont avançar em sua determinação, uma suspensão da autonomia da Catalunha por parte do Estado poderia, por sua vez, levar a um conflito na região.

"Não empurrem o país para o precipício", implorou o ex-ministro socialista Josep Borrell, ex-presidente do Parlamento Europeu, em um discurso de encerramento da grande manifestação em Barcelona.

Apesar de toda pressão no sentido contrário, em um vídeo transmitido no domingo à noite, a Assembleia Nacional Catalã --uma das mais fortes associações separatistas da Catalunha-- assegurou: "Terça-feira, 10 de outubro, vamos declarar a independência".