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Candidato contra imigração e UE é favorito em legislativas checas

20/10/2017 15h55

Praga, 20 Out 2017 (AFP) - Os checos votam nesta sexta (20) e sábado (21) em eleições legislativas que têm como favorito o partido populista do empresário bilionário Andrej Babis, contrário a abrir as portas à imigração e à ingerência europeia.

No entanto, a vitória do candidato, apelidado pela imprensa de "Trump Checo", poderia ser menos definitiva do que o previsto e, inclusive, levar a um período de "caos", adverte o analista independente Jiri Pehe.

Oito milhões de votantes elegem 200 deputados em um pleito que poderia catapultar ao Parlamento o partido SPD, contrário à União Europeia e à imigração, como ocorreu em outros países europeus.

Fundador da gigante agroalimentar, química e midiática Agrofert, Babis, de 63 anos, poderia alcançar, à frente de seu movimento populista ANO, entre 25% e 30% dos votos, segundo pesquisas de opinião.

Crítico da zona do euro e das diretrizes de Bruxelas por considerá-las uma limitação à soberania nacional, Babis não é nem hostil à UE como tal, nem partidário de um "Chexit".

"Os Estados devem ser dirigidos pelos presidentes e primeiros-ministros e não por (o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude) Juncker. Não quero que haja mais integração" que a atual, disse Babis na quinta-feira no último debate ao vivo na emissora privada TV Nova com o chanceler Lubomir Zaoralek, à frente do partido social-democrata CSSD, pró-europeu.

-"Nem vagas, nem migrantes"-"Não queremos vagas, não queremos migrantes aqui, queremos frear a imigração e queremos ter, por fim, um primeiro-ministro que diga à (chanceler alemã, Angela) Merkel e (ao presidente francês, Emmanuel) Macron que a solução está fora da Europa, acrescentou o líder do ANO.

Zaoralek está longe de opinar diferente. "Não haverá o vagas (de acolhida para imigrantes), posso assegurá-lo e prometê-lo", afirmou. E "ninguém pode nos obrigar a ingressar na zona do euro". Membro da UE desde 2004, a República Checa conservou sua moeda nacional, a coroa.

"Nossa postura (sobre a adoção do euro) é negativa. A zona do euro foi um projeto econômico que se tornou um projeto político", afirmou Babis, antes de se declarar hostil à ideia de "pagar as dívidas gregas".

Após uma campanha incomumente insossa, nove partidos poderiam alcançar o limiar de elegibilidade de 5%, o que corre o risco de abrir um período de incertezas antes de que se chegue a uma coalizão.

Pehe prevê "uma situação bastante complexa após as eleições, inclusive caótica, já que o resultado de Andrej Babis não será tão espetacular como se espera, devido aos escândalos" que ofuscam sua imagem. Segundo o analista, Babis será obrigado a negociar com formações como o CSSD, que não descartam uma coalizão com o ANO, embora sem seu líder.

Andrej Babis tem problemas com a Justiça, após um processo por fraude com fundos europeus, assim como acusações de colaboração com a polícia secreta comunista StB antes de 1989.

"Se pretende ser o primeiro-ministro e, ao mesmo tempo, for processado, ninguém da UE vai atendê-lo ao telefone", advertiu Zaoralek.

"Seu partido (CSSD) tem uma longa tradição de corrupção", replicou Babis.

As seções de votação estão abertas nesta sexta-feira entre as 12H00 e as 20H00 GMT (10h e 18h de Brasília) e no sábado, funcionarão entre as 06H00 e as 12H00 GMT (04h e 10h de Brasília). Na falta de pesquisas de boca de urna, os resultados serão conhecidos na noite de sábado.

O governo resultante das eleições substituirá o gabinete de centro esquerda do social-democrata Bohuslav Sobotka, no qual Andrej Babis foi ministro das Finanças entre janeiro de 2014 e maio de 2015.