Referendo, protestos, greve geral: relembre os principais fatos da crise entre Espanha e Catalunha
O referendo de independência organizado em 1º de outubro pelos líderes separatistas da Catalunha mergulhou a Espanha em sua maior crise política desde o fracassado golpe de Estado de 1981.
Relembre os principais acontecimentos desde então:
1º de outubro: referendo marcado pela violência
Depois de vários dias de tensões crescentes, milhares de catalães foram aos centros eleitorais para um referendo de autodeterminação, convocado em 6 de setembro, apesar da proibição do Tribunal Constitucional, que o declarou ilegal.
A polícia tenta evitar a votação. Durante o dia, as forças de segurança entram nas assembleias de voto, em alguns casos arrombando portas, para expulsar as pessoas presentes. Agridem manifestantes e disparam balas de borracha.
As imagens da repressão policial rodam o mundo. Pelo menos 92 pessoas ficaram feridas.
À noite, o presidente catalão, Carles Puigdemont, afirma que os cidadãos da Catalunha ganharam "o direito de ter um Estado independente sob a forma de uma República".
O chefe do governo espanhol, Mariano Rajoy, diz, por sua vez, que "não houve referendo" e afirma que as forças de segurança "cumpriram suas obrigações".
Comunidade internacional condena violência
O governo separatista afirma que o 'sim' ganhou com cerca de 90% dos votos dos 2,26 milhões de eleitores (42,3% de participação). Os partidos que se opõem à independência boicotaram o escrutínio.
A Comissão Europeia insta o governo central e o movimento de independência a acabar com a violência e a retomar o diálogo.
Carles Puigdemont pede mediação internacional e exige a retirada das forças de segurança.
Milhares de pessoas protestam em Barcelona e em outras cidades da região para defender o referendo e denunciar a violência policial.
Greve geral na Catalunha e discurso do rei
É realizada uma greve geral convocada por quarenta organizações sindicais, políticas e sociais.
Uma grande manifestação reúne 700 mil pessoas em Barcelona, segundo a polícia local, para protestar contra a violência policial.
À noite, o rei de Espanha, Felipe VI, declara, num discurso televisivo, que o Estado deve "garantir a ordem constitucional" e denuncia a "deslealidade inadmissível" dos líderes catalães.
Declaração de independência incerta
Puigdemont assegura à BBC que seu governo planeja declarar a independência da Catalunha nos próximos dias.
A Bolsa de Valores de Madri fecha em acentuada queda.
À noite, o presidente separatista acusa o rei de ter "ignorado deliberadamente milhões de catalães" escandalizados pela violência policial. Ele reitera o seu pedido a uma mediação internacional, o que Madri rejeita.
Ansiedade nos círculos econômicos
O Tribunal Constitucional suspende a sessão do Parlamento da Catalunha anunciada para segunda-feira, na qual se considerava a possibilidade de uma declaração de independência.
Enquanto o mercado de ações cai, o Banco Sabadell, segundo maior da Catalunha, anuncia a deslocalização de sua sede. Várias empresas, incluindo o terceiro banco na Espanha, a Caixabank, ou o grupo Gas Natural, fazem o mesmo no dia seguinte.
Tímidos gestos de apaziguamento
Carles Puigdemont anuncia o adiamento do seu discurso no Parlamento regional para terça-feira, enquanto a agenda inclui apenas um ponto sobre a "situação política".
Os resultados finais do referendo são anunciados: 90,18% dos votos apoiam a secessão, enquanto a taxa de participação foi de 43%.
O governo exorta os líderes catalães a dissolver seu Parlamento e convocar eleições regionais.
O delegado do Governo Na Catalunha pede desculpas, pela primeira vez, em nome das forças de segurança.
Em Madri, líderes separatistas são libertados depois de serem acusados pela Justiça de "sedição" durante as manifestações de 20 e 21 de setembro.
Espanhóis saem às ruas
Dezenas de milhares de pessoas, vestidas de branco, se manifestam em várias cidades da Espanha para pedir "diálogo" entre os catalães e o governo central.
Outra manifestação, "patriótica", reúne no centro de Madri cerca de 50.000 pessoas para "defender a unidade da Espanha".
Manifestação contra a independência
Centenas de milhares de pessoas - 350.000 de acordo com a polícia local, 950.000 segundo os organizadores - protestam em Barcelona contra a independência da Catalunha.
O escritor Mario Vargas Llosa, Nobel de Literatura, encerra a manifestação, assegurando que "a democracia espanhola está aqui para ficar, e nenhuma conjuração independentista irá destruí-la".
"Queremos que a Catalunha volte a ser a capital cultural da Espanha como era quando morei aqui", disse Vargas Llosa, que morou na capital catalã na década de 1970 e acusou o nacionalismo de causar os maiores estragos da História.
Tensa espera
O líder do Partido Socialista Espanhol (PSOE), Pedro Sanchez, pede a Puigdemont que renuncie a uma declaração de independência unilateral. A prefeita de Barcelona, Ada Colau, adverte contra esta proclamação.
A chanceler alemã, Angela Merkel, reafirma seu apoio a Rajoy, enquanto os nacionalistas escoceses pedem ao governo de Madri que respeite o resultado do referendo.
Independência?
Em uma confusa sessão do Parlamento da Catalunha, Puigdemont assumiu "o mandato da Catalunha para se tornar um Estado independente sob a forma de uma República", mas pediu a suspensão "dos efeitos da declaração de independência".
O governo espanhol repudia a declaração implícita de independência.
Ameaça de Madri
Rajoy envia um "requerimento" a Puigdemont para que esclareça oficialmente se proclamou a independência, um primeiro passo para a aplicação do artigo 155 da Constituição, que permite a intervenção em um governo autônomo se este desobedecer a lei.
A Comissão Europeia pede o "pleno respeito pela ordem constitucional espanhola". Paris, Berlim e Roma rejeitam uma eventual declaração de independência.
Feriado nacional
Dezenas de milhares de pessoas marcham em favor da unidade da Espanha em Barcelona por ocasião do feriado nacional. Em Madri, o Rei Felipe VI e Rajoy presidem o tradicional desfile das forças armadas.
Impacto econômico
O governo espanhol adverte que a crise catalã afetará a economia, antecipando uma redução em sua previsão de crescimento até 2018. O Fundo Monetário Internacional (FMI) também expressa preocupação.
O partido de extrema-esquerda CUP, principal aliado do governo separatista catalão, pede a Puigdemont que levante a suspensão da declaração de independência.
Detenções
O presidente catalão se esquiva e não responde se declarou a independência, propondo um prazo de dois meses de negociações.
Rajoy determina um último prazo, até quinta-feira (19), para que responde à questão evitando o risco de intervenção na autonomia de sua região.
Os líderes das duas principais organizações separatistas, Jordi Sánchez e Jordi Cuixart, são enviados à prisão pelo crime de sedição.
Protesto pelos 'Jordis'
Cerca de 200 mil pessoas exigem em Barcelona a libertação de Cuixart e Sanchez, considerados "prisioneiros políticos".
Fim do ultimato
Puigdemont confirma a Rajoy que o Parlamento catalão não votou a independência, mas adverte que poderia fazê-lo se a "repressão" do governo central continuar.
O governo de Rajoy responde que prosseguirá com os procedimentos para aplicar o artigo 155.
Artigo 155
Rajoy anuncia que pedirá ao Senado que cesse o governo catalão e o poder para convocar eleições regionais em no máximo 6 meses.
Cerca de meio milhão de separatistas protestam em Barcelona.
Puigdemont denuncia "o pior ataque às instituições e ao povo da Catalunha desde os decretos do ditador militar Francisco Franco".
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