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Câmara livra Temer de segunda denúncia

25/10/2017 22h28

Brasília, 26 Out 2017 (AFP) - A Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira o parecer que livra o presidente Michel Temer de ser investigado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por dirigir uma "organização criminosa" e obstruir a justiça, deixando o caminho aberto para o programa de ajustes do atual governo.

O parecer favorável a Temer, do relator Bonifácio Andrada (PSDB), foi aprovado por 251 votos contra 233. Para autorizar o Supremo Tribunal Federal a examinar a denúncia, era necessário o aval de 342 dos 513 deputados.

O dia foi particularmente tenso para o presidente, brevemente internado por um problema urológico, mas que já recebeu alta.

"Estou inteiro", declarou Temer, 77 anos, ao sair do Hospital do Exército em Brasília.

Apesar da vitória, Temer obteve um apoio inferior à votação de agosto, quando outra denúncia da PGR foi barrada por 263 votos contra 227.

Na atual denúncia, Temer e dois de seus principais ministros - o chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, e o Secretário Geral da Presidência, Moreira Franco - eram acusados pela PGR de formação de organização criminosa para espoliar o Estado.

O presidente seria o líder dessa organização, que teria recebido 587 milhões de reais em propina.

A votação "mostra a força do governo". "Enfrentamos um grande conjunto de forças que se uniram para tratar de derrubar o Presidente da República, e todos foram derrotados outra vez", declarou à AFP o deputado Carlos Marun, do PMDB.

O deputado Alessandro Molon, da Rede, avaliou que "o resultado foi muito ruim para o Brasil, porque a Câmara obstruiu a justiça, impedindo que alguém, nada menos que o Presidente da República, responda pelos crimes que cometeu, e isto é gravíssimo".

Resta saber se a relativa solidez da base governista será suficiente para Temer levar adiante as reformas reivindicadas pelos mercados, como a da Previdência Social.

- Concessões generosas -Para garantir a vitória, Temer passou os últimos dias negociando com deputados indecisos, aos quais telefonou pessoalmente ou recebeu em seu gabinete.

A oposição acusou Temer de utilizar todos os recursos, inclusive a liberação de verbas públicas e a distribuição de cargos, para "comprar" o apoio dos deputados.

Entre as concessões que fez está a retirada do lucrativo aeroporto de Congonhas, no coração de São Paulo, de uma lista de projetos de privatização, e a redução das multas por infrações às leis ambientais.

Grande parte dessas medidas beneficiou a bancada ruralista, representante do agronegócio e formada por mais de 200 deputados.

O jornal O Estado de S. Paulo avaliou em 32,1 bilhões de reais o custo das concessões feitas entre junho e outubro para superar as denúncias, entre liberação de verbas orçamentárias e outras "bondades".

Temer assumiu o poder em 2016 após o impeachment de Dilma. Desde então, este veterano político tem conseguido se manter em pé, apesar dos escândalos envolvendo vários de seus ministros, e promover ajustes que começam a dar resultado no relançamento da economia.

Os mercados apoiam sua política de ajustes para acertar as contas públicas e tirar o país da pior recessão de sua história.

Entre as medidas, a mais esperada é a reforma da Previdência, que endurece as condições para a aposentadoria e gera forte resistência, inclusive na base governista.

Segundo os especialistas, Temer e seu ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, terão de se contentar com uma reforma parcial, devido ao preço político que ela implica.

Depois dessa votação, o Brasil começa de fato a concentrar sua atenção nas eleições-gerais de 2018, e o apoio a Temer e suas reformas pode se revelar fatal para os políticos que querem ser reeleitos.

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