Justiça chilena absolve mapuches acusados de homicídio de dois idosos
Santiago, 25 Out 2017 (AFP) - Onze indígenas mapuches, entre eles uma "machi", maior autoridade religiosa e médica desta etnia, acusados pelo assassinato de um casal de idosos em 2013, que morreram carbonizados em sua casa, foram absolvidos pela Justiça nesta quarta-feira (25).
Em um dos julgamentos mais emblemáticos da causa mapuche dos últimos anos, o juiz do Tribunal Oral de Temuco (sul), Ignacio Rau, decretou a absolvição dos 11 índios acusados do crime de "incêndio terrorista" com o resultado da morte do casal Luchsinger-Mckay.
A prova fornecida pelos acusadores se tornou "insuficiente" para demonstrar o caráter terrorista do crime, explicou o juiz Rau na audiência pública de leitura do veredito após quase quatro anos de investigação judicial.
"Ao não superar o padrão probatório exigido (...) será ditada sentença absolutória" aos acusados, disse o magistrado, desatando a euforia dos presentes na sala.
Entre eles estava a "machi" Francisca Linconao, que ficou nove meses em prisão preventiva por este caso, embora sempre tenha alegado a sua completa inocência.
"Eu não minto, sou machi e falo a verdade", disse Linconao ao fim da audiência, acusando a Promotoria de "racismo" por ter apresentado a acusação terrorista contra ela e outros membros de sua comunidade pedindo prisão perpétua para 10 dos 11 acusados.
Por este caso, o único condenado é o curandeiro mapuche Celestino Córdova, membro da mesma comunidade de Linconao.
Córdova foi sentenciado a 18 anos de prisão em fevereiro de 2014 após determinar a sua participação na ação que queimou completamente a casa habitada pelo agricultor Werner Luchsinger, de 75 anos, e sua esposa, Vivianne Mckay, membros de uma família de origem suíça que chegou a ter mais de 1.000 hectares na área.
O curandeiro foi preso quando fugia da fazenda, encapuzado e ferido por um tiro no tórax.
- Padrões de convicção inalcançáveis -O ataque no qual os idosos morreram, cometido em 4 de janeiro de 2013, foi imediatamente qualificado como um "ato terrorista" pelo governo do então presidente de direita Sebastián Piñera.
Os acusados foram perseguidos sob a severa lei antiterrorista, que triplica as penas por crimes iguais em relação à legislação ordinária e cuja aplicação a índios mapuches foi criticada por organizações como ONU e Anistia Internacional.
Nenhuma sentença judicial conseguiu até agora determinar a existência de organizações de caráter terrorista na área.
Especialistas no tema mapuche acreditam que o conflito esteja restrito a setores rurais onde existiram focos de violência há muitos anos, como consequência das demandas de reivindicação de terras que os mapuches consideram suas por direitos ancestrais.
O promotor Roberto Garrido criticou a decisão do tribunal, considerando que havia uma prova direta da participação dos acusados. "O tribunal não valorizou essa prova incendiária (confissão de uma testemunha que depois desmentiu) e o seu conjunto, impondo a eles um padrão de convicção praticamente inalcançável", expressou Garrido.
O tribunal exige "que apresentem testemunhas presenciais, fotografias ou vídeos de pessoas cometendo esses crimes. Nos parece que não é esse o padrão que consagra o Código Processual Penal e, definitivamente, o que faz é consagrar a impunidade para certos tipos de crimes", explicou Garrido.
Para o Promotor Nacional, Jorge Abbott, "a investigação poderia ter sido melhor".
"Discordamos do tribunal por ter descartado o caráter terrorista da conduta. É inexplicável que um grupo de pessoas se reúna para incendiar uma casa onde há pessoas dentro, deixe que morram, e não tenha o propósito de gerar terror no resto da comunidade. Simplesmente haver dolo de incêndio nos parece um pouco incompreensível", disse o chefe da Procuradoria Nacional.
O subsecretário do Interior, Mahmud Aleuy, lamentou a sentença. "Nós temos a impressão de que há uma participação importante (dos acusados)".
Piñera, que hoje lidera as pesquisas visando as eleições de 19 de novembro, também criticou a absolvição.
"É uma notícia ruim para o Chile. Um fracasso do Estado e do Poder Judiciário, porque um crime tão atroz merecia que houvesse responsáveis que pagassem", disse o ex-presidente, que aposta ser novamente eleito depois de um primeiro governo entre 2010 e 2014.
Primeiros habitantes do Chile e de parte da Argentina, os mapuches somam hoje 700.000 membros (entre os 16,5 milhões de habitantes do território chileno) e estão concentrados em uma reduzida zona do sul do país, com um nível de pobreza que duplica em relação ao resto da população.
Em um dos julgamentos mais emblemáticos da causa mapuche dos últimos anos, o juiz do Tribunal Oral de Temuco (sul), Ignacio Rau, decretou a absolvição dos 11 índios acusados do crime de "incêndio terrorista" com o resultado da morte do casal Luchsinger-Mckay.
A prova fornecida pelos acusadores se tornou "insuficiente" para demonstrar o caráter terrorista do crime, explicou o juiz Rau na audiência pública de leitura do veredito após quase quatro anos de investigação judicial.
"Ao não superar o padrão probatório exigido (...) será ditada sentença absolutória" aos acusados, disse o magistrado, desatando a euforia dos presentes na sala.
Entre eles estava a "machi" Francisca Linconao, que ficou nove meses em prisão preventiva por este caso, embora sempre tenha alegado a sua completa inocência.
"Eu não minto, sou machi e falo a verdade", disse Linconao ao fim da audiência, acusando a Promotoria de "racismo" por ter apresentado a acusação terrorista contra ela e outros membros de sua comunidade pedindo prisão perpétua para 10 dos 11 acusados.
Por este caso, o único condenado é o curandeiro mapuche Celestino Córdova, membro da mesma comunidade de Linconao.
Córdova foi sentenciado a 18 anos de prisão em fevereiro de 2014 após determinar a sua participação na ação que queimou completamente a casa habitada pelo agricultor Werner Luchsinger, de 75 anos, e sua esposa, Vivianne Mckay, membros de uma família de origem suíça que chegou a ter mais de 1.000 hectares na área.
O curandeiro foi preso quando fugia da fazenda, encapuzado e ferido por um tiro no tórax.
- Padrões de convicção inalcançáveis -O ataque no qual os idosos morreram, cometido em 4 de janeiro de 2013, foi imediatamente qualificado como um "ato terrorista" pelo governo do então presidente de direita Sebastián Piñera.
Os acusados foram perseguidos sob a severa lei antiterrorista, que triplica as penas por crimes iguais em relação à legislação ordinária e cuja aplicação a índios mapuches foi criticada por organizações como ONU e Anistia Internacional.
Nenhuma sentença judicial conseguiu até agora determinar a existência de organizações de caráter terrorista na área.
Especialistas no tema mapuche acreditam que o conflito esteja restrito a setores rurais onde existiram focos de violência há muitos anos, como consequência das demandas de reivindicação de terras que os mapuches consideram suas por direitos ancestrais.
O promotor Roberto Garrido criticou a decisão do tribunal, considerando que havia uma prova direta da participação dos acusados. "O tribunal não valorizou essa prova incendiária (confissão de uma testemunha que depois desmentiu) e o seu conjunto, impondo a eles um padrão de convicção praticamente inalcançável", expressou Garrido.
O tribunal exige "que apresentem testemunhas presenciais, fotografias ou vídeos de pessoas cometendo esses crimes. Nos parece que não é esse o padrão que consagra o Código Processual Penal e, definitivamente, o que faz é consagrar a impunidade para certos tipos de crimes", explicou Garrido.
Para o Promotor Nacional, Jorge Abbott, "a investigação poderia ter sido melhor".
"Discordamos do tribunal por ter descartado o caráter terrorista da conduta. É inexplicável que um grupo de pessoas se reúna para incendiar uma casa onde há pessoas dentro, deixe que morram, e não tenha o propósito de gerar terror no resto da comunidade. Simplesmente haver dolo de incêndio nos parece um pouco incompreensível", disse o chefe da Procuradoria Nacional.
O subsecretário do Interior, Mahmud Aleuy, lamentou a sentença. "Nós temos a impressão de que há uma participação importante (dos acusados)".
Piñera, que hoje lidera as pesquisas visando as eleições de 19 de novembro, também criticou a absolvição.
"É uma notícia ruim para o Chile. Um fracasso do Estado e do Poder Judiciário, porque um crime tão atroz merecia que houvesse responsáveis que pagassem", disse o ex-presidente, que aposta ser novamente eleito depois de um primeiro governo entre 2010 e 2014.
Primeiros habitantes do Chile e de parte da Argentina, os mapuches somam hoje 700.000 membros (entre os 16,5 milhões de habitantes do território chileno) e estão concentrados em uma reduzida zona do sul do país, com um nível de pobreza que duplica em relação ao resto da população.
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