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Visita da filósofa Judith Butler agita meios conservadores do Brasil

06/11/2017 20h16

São Paulo, 6 Nov 2017 (AFP) - Acusando-a de promover uma "ideologia nefasta", grupos conservadores brasileiros reuniram mais de 363.000 assinaturas em uma petição online para cancelar conferências da filósofa americana Judith Butler em São Paulo, enquanto outros coletivos se organizavam para defender a autora, referência no estudo da teoria de gênero.

"Judith Butler não é bem-vinda ao Brasil!(...) Seus livros querem nos fazer acreditar que a identidade é variável e fruto da cultura", consta na petição, que até a tarde desta segunda-feira (6) já possuía 363.420 assinaturas na plataforma digital CitizenGO.

"Nos preocupamos por nossos filhos e pelo futuro do nosso Brasil. #ForaButler", conclui o manifesto que exige o cancelamento de sua participação no colóquio "Os Fins da Democracia", organizado pela Universidade de São Paulo em conjunto com a californiana Berkeley, universidade onde a doutora em filosofia leciona, aos 61 anos, e que já lançou dezenas de livros.

A discussão seguia na página do Facebook do centro cultural responsável pelo evento, reunindo opiniões a favor e contra a segunda visita de Butler ao Brasil. A primeira, em 2015, apenas repercutiu no mundo acadêmico.

"Parabéns, SESC, por não se sujeitar às pressões de grupos obscuros! Continuem divulgando o pensamento de Judith Butler!", comentou uma internauta.

"Como promotora da destruição da família, não posso dar uma boa qualificação a esse tipo de instituição", ressaltou outro.

Um ato de "repúdio a maior propagadora da ideologia de gênero", convocado para antes da conferência de terça-feira, reunia 972 pessoas confirmadas no Facebook, enquanto outro a seu favor, programado para o mesmo lugar, já somava 1.265.

"Me sinto muito triste com tudo isso, já que a postura de ódio e censura está baseada no medo, medo das mudanças, medo de deixar os outros viverem de uma maneira diferente da sua. Porém, é essa habilidade de viver com a diferença entre todos nós o que irá nos sustentar a longo prazo", declarou a filósofa em declaração ao jornal O Estado de São Paulo.