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Gerry Adams anuncia que deixará a presidência do Sinn Féin em 2018

18/11/2017 20h04

Dublin, 18 Nov 2017 (AFP) - O irlandês Gerry Adams anunciou, aos 69 anos, que deixará a presidência do Sinn Féin em 2018, no encerramento, neste sábado, do congresso do partido em Dublin, pouco depois de ser reeleito como seu líder por mais um ano.

"A liderança significa saber quando chegou o momento da mudança e esse momento é agora", afirmou, visivelmente emocionado, o homem que preside o partido desde 1983 e que se tornou uma figura central da vida política da Irlanda.

Sua reputação é tão inquestionável como polêmica por suas supostas relações com o IRA, cujos atentados e assassinatos deixaram cerca de 1.700 mortos de um total de 3.500 vítimas entre os anos de 1960 e 1990.

Seu pai foi um membro ativo do IRA, mas Adams, o mais velho de dez irmãos, sempre negou ter pertencido ao grupo paramilitar apesar de repetidas acusações - nunca provadas - que lhe levaram várias vezes à prisão nos anos 1970.

As suspeitas se mantêm até hoje, já que o líder do Sinn Féin nunca condenou o IRA formalmente.

"Realmente ele quer defender a reputação do IRA e celebrar suas ações, embora isso seja politicamente embaraçoso", explica Malachi O'Doherty, autor de uma biografia recente.

Gerry Adams, que há anos usa barba, agora já branca, foi militante do Sinn Féin desde a adolescência e ascendeu rapidamente até se tornar o presidente do partido em 1983.

Neste mesmo ano ele foi eleito deputado do oeste de Belfast, mas, seguindo a posição do partido, não compareceu ao parlamento de Londres para não ter que jurar fidelidade à rainha da Inglaterra. Nessa época, o partido era considerado a vitrine política do IRA.

Durante o governo da primeira-ministra Margaret Thatcher as rédios e redes de televisão eram proibidas de difundir a voz de Adams, que sobreviveu a duas tentativas de assassinato dos paramilitares nos anos 1980, enquanto tentava promover a via política para a questão irlandesa.

O Sinn Féin aos poucos se consolidou no parlamento de Dublin enquanto que na Irlanda di Norte se aproximou dos nacionalistas moderados do SDLP, uma primeira etapa para a trégua de 1994 e para os acordos de paz de Belfast, em 1998.

Em Dublin, o partido passou a ter de um assento no parlamento em 1997 para 23 deputados de um total de 158 atualmente. Adams é deputado do condado de Louth, na fronteira com a Irlanda do Norte, desde 2011.

Adams contiou cercado pela polêmica. Em 2008, um ex-combatente do IRA o acusou de ter ordenado em 1972 o sequestro e assassinato de Jean McConville, mãe de dez filhas, suspeita de ter dado informação à polícia sobre a atividade dos nacionalistas.

Por esse caso, Adams foi detido e interrogado pela polícia em 2014.

Nos últimos anos passou uma imagem mais relacionada ao consenso, com campanhas a favor do casamento homossexual e da adesão à União Europeia. Em 2015 chegou a trocar um aperto de mãos com o príncipe Charles, que visitava a Irlanda, em um gesto simbólico de reconciliação.