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Jovens cubanos: expectativas e angústias na era pós-Castro

24/11/2017 11h16

Havana, 24 Nov 2017 (AFP) - São estudantes, funcionários públicos, integrantes do setor informal ou blogueiros e fazem parte de uma juventude disposta a encarar seu futuro em Cuba, embora a era pós-Castro que se aproxima alimente muitas preocupações.

Alguns se preocuparam pelo o que aconteceria depois da morte de Fidel Castro, mas sua morte há um ano não trouxe grandes mudanças para o país. Os irmãos Castro tomaram providências para garantir uma transição ordenada.

Fidel, doente, cedeu o poder a seu irmão em 2006. Dentro de três meses será o turno de Raúl, de 86 anos, de passar o bastião a uma nova geração pela primeira vez em quase seis décadas. Uma perspectiva que traz muitas incertezas inclusive entre os militantes comunistas.

Toda noite, a juventude "habanera" ao Malecón, onde bebem rum, cantam e conversam até o amanhecer. Mas sobretudo eles navegam na internet graças às zonas wifi instaladas em 2015.

Residente em cardiologia no hospital Calixto García, Ernesto Jiménez, de 29 anos, se diz otimista sobre futuras transformações, mas teme que isso tome "muito tempo". "As poucas mudanças nesses tempos desde que nasci, nesses 29 anos, foram com muito trabalho", recorda.

"O econômico é o que mais atinge a população cubana e acho que melhorando isso, melhoraríamos muito", explica este jovem, com um salário de 1.300 pesos ao mês (52 dólares).

Laisi Chi, estudante de 22 anos caminha em frente à Universidade de Havana, reduto de militantes do Partido Comunista de Cuba (PCC). O jovem proclama sua "confiança no socialismo cubano, na revolução, que continue, que se mantenha".

Laura León, de 18 anos, está na mesma órbita. "Temos grandes ideais e os temos bem arraigados, estamos bem definidos no que queremos (...) e a nova geração saberá cumprir com o legado", assegura a estudante.

No entanto, os dois admitem que serão necessárias reformas para modernizar o país e sobretudo o atual modelo econômico soviético já obsoleto, apesar da tímida abertura iniciada por Raúl Castro.

"A ilha vai sofrer transformações porque os momentos atuais exigem isso (...) tudo o que ocorre no mundo implica em que haja uma transformação no país", reconhece León, enquanto que Chi considera que a revolução deve se abrir "um pouco mais ao mundo".

- "Transição ou ilusão" -Engenheiro em uma empresa estatal, Mario (nome modificado a seu pedido) é um desses cubanos que recorrem ao setor informal da economia para fechar o mês.

Aos 36 anos, faz parte da vasta rede de vendedores do "pacote", uma compilação de conteúdos áudio-visuais estrangeiros e filmes americanos em memórias USB, que circula semanalmente de forma tolerada.

Ao contrário de muitos jovens, Mario diz à AFP que quer permanecer em Cuba, embora ache que a "ilha vai continuar igual". "Acho que vai continuar sendo da mesma linha, não acredito que haverá muitas mudanças", com os novos dirigentes, afirma.

Não importa a ele uma mudança de governo. Simplesmente sonha com "um melhor poder aquisitivo e mais oportunidades de trabalho privado", que emprega 20% da população ativa.

Yunior García (35), diretor de uma companhia de teatro em Holguín (nordeste) é outro dos poucos que não vê seu futuro fora da ilha, embora, diga que "em Cuba todo mundo sabe que as coisas não vão bem".

"Não podemos sentar e esperar passivamente que seja essa mudança feita pelos outros. Se não gosto de algo, acho que cabe a mim mudar", acrescenta o artista, criticado por sua sinceridade.

Abraham Jiménez, de 28 anos, lamenta que os jovens cubanos estejam hoje "mais empenhados em resolver seus problemas particulares do que nos problemas nacionais". "Só querem melhorar, ter um prato de comida, ter um par de Nike e viajar".

Este blogueiro, que dirige o site de informação independente "El Estornudo", não vê salvação nem na dissidência envelhecida que não é ouvida nem na juventude indiferente.

"Os únicos que se preocupam com isso (com a política) estão nos extremos: os que têm interesses mais pessoais do que políticos e os que são como clones dos que estão dirigindo o país", lamenta.

Finalmente, adverte, a transição de fevereiro do ano que vem não será realmente uma mudança, "porque no fim quem governa em Cuba é o chefe do PCC", já que Raúl Castro deve se manter até o próximo congresso do Partido em 2021.

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