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Delegação do governo sírio se reúne com enviado da ONU para falar da paz

29/11/2017 18h43

Genebra, 29 Nov 2017 (AFP) - A delegação oficial do governo sírio se reuniu nesta quarta-feira (29), em Genebra, com o enviado especial da ONU, Staffan de Mistura, o que representou um pequeno passo nas complexas negociações de paz.

O governo sírio, fortalecido pelas vitórias militares dos últimos meses, tinha anunciado no domingo que não iria a Genebra, devido às declarações da oposição, que voltou a reivindicar a renúncia do presidente Bashar al-Assad.

A Rússia, aliada militar e política da Síria, acabou convencendo o governo sírio a participar das discussões e a delegação oficial de Damasco chegou a Genebra com 24 horas de atraso.

Anteriormente, Moscou fez um gesto de boa vontade, anunciando em uma reunião dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança, realizada na cidade suíça, um cessar-fogo entre os exército sírio e os rebeldes na Guta Oriental, região rebelde próxima a Damasco onde um acordo de distensão já havia sido instaurado.

A reunião com a delegação síria foi "construtiva e profissional", explicou Staffan de Mistura em um hotel de Genebra. Em seguida, informou aos jornalistas que esta rodada de negociações poderia se prolongar até a semana que vem.

O governo sírio aceitou participar com a condição de que não se negocie o destino de Al Assad.

Na véspera, De Mistura, que já organizou - sem sucesso - sete ciclos de negociações em Genebra desde 2016, manteve seu programa e abriu o oitavo ciclo com um encontro com a delegação da oposição síria.

Na semana passada, em um encontro em Riad com todas as tendências da oposição síria, decidiu-se enviar, pela primeira vez, uma delegação única para negociar com o governo.

Na segunda-feira, em Genebra, o chefe da delegação opositora, Nasr Hariri, jogou lenha na fogueira, reafirmando que a saída de Al Assad era uma condição prévia a qualquer transição para a realização de eleições.

O mediador da ONU é consciente de que as provocações perante as câmeras não ajudam ao avanço das negociações.

Em setembro, De Mistura pediu que a oposição síria fosse "muito realista para entender que não ganhou a guerra", o que significa não estabelecer a saída do chefe de Estado como pré-condição.

"Esperamos que a oposição seja pragmática e flexível" em relação ao futuro político de Assad, declarou um diplomata europeu que acompanha as negociações.

Agora que a guerra chega ao fim, a Rússia, cuja intervenção militar em novembro de 2015 salvou o regime sírio, busca uma solução política.

O presidente russo, Vladimir Putin, sabe que precisa da ONU para fazer avançar seus peões e salvaguardar seus interesses na Síria.

"Acredito que tenham algumas cartas na mão, mas não todas", declarou o diplomata europeu, referindo-se aos russos.

"Apenas Genebra é legítima e apenas Genebra desbloqueará a ajuda internacional necessária para reerguer a Síria", acrescentou.

Após seis anos de conflito, que deixaram até agora 340 mil mortos e milhões de deslocados e refugiados, a ONU estima que serão necessários ao menos 250 bilhões de dólares para reconstruir o país.

Aproveitando a inércia diplomática dos Estados Unidos, após a eleição do presidente Donald Trump, Vladimir Putin multiplicou com êxito as iniciativas diplomáticas.

Com a ajuda do Irã, outro aliado da Síria, e da Turquia, que por sua vez ajuda alguns setores da oposição, organizou em Astana, capital do Cazaquistão, várias reuniões com integrantes da oposição e do governo sírio, que permitiram estabelecer quatro zonas de distensão, o que a ONU não conseguiu.

Após uma cúpula com os presidentes de Turquia e Irã, Putin pretende organizar em 2018 um "Congresso do diálogo nacional" sírio com a participação de todos os atores do conflito.

Nesse sentido, o secretário de Estado americano, Rex Tillerson, declarou que as negociações de Genebra "são a única base possível para a reconstrução do país e para a implementação de uma solução política que não dê qualquer papel ao regime de Assad".

De Mistura, que se autodenomina de um "otimista incorrigível", espera poder concentrar as discussões na redação de uma nova Constituição e na organização de eleições sob a égide da ONU, dois pontos que Al Assad considera aceitáveis.

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