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Objetos de Auschwitz saem da Polônia para exposição mundial itinerante

29/11/2017 16h06

Madri, 29 Nov 2017 (AFP) - Centenas de objetos saíram da Polônia com motivo da primeira exposição itinerante internacional dedicada ao campo de concentração e extermínio de Auschwitz, que começará em Madri na sexta-feira.

Os objetos levados à capital espanhola são variados: cartas lançadas dos trens, um vagão do mesmo modelo dos que transportaram os deportados, um pedaço da cerca elétrica do campo, desenhos de prisioneiros conservados em uma garrafa escondida em Auschwitz e os sapatos de uma criança.

A exposição "Auschwitz. Não faz muito tempo. Não está muito longe" abre suas portas nesta sexta-feira em Madri. A partir de 17 de junho, viajará por mais de dez cidades da Europa, América, Ásia e Oceania, embora a lista ainda não tenha sido divulgada.

Auschwitz-Birkenau, o maior campo de concentração, trabalho forçado e extermínio construído pela Alemanha nazista na Polônia ocupada, foi liberado há 72 anos. Nele morreram 1,1 milhão de pessoas entre 1940 e 1945, em sua imensa maioria judeus.

No ano passado, recebeu dois milhões de pessoas. No entanto, nem todo mundo pode fazer a viagem, e os sobreviventes estão desaparecendo devido à idade avançada.

"É muito importante que Auschwitz saia ao mundo", disse à AFP Luis Ferreiro, diretor do projeto e dirigente da sociedade espanhola Musealia, que criou a exposição com uma equipe de especialistas liderada pelo historiador holandês Robert Jan van Pelt.

"Esta é a primeira vez na história que uma coleção importante de objetos originais saem do museu estatal de Auschwitz-Birkenau, que saem da Polônia, para uma exposição itinerante", acrescentou Ferreiro. Além disso, "a maioria dos objetos expostos aqui nunca foi mostrada ao público".

Alguns dos objetos foram fornecidos por outras instituições e por colecionadores privados de diferentes países.

A exposição, documentada e didática, revela, entre outras coisas, o processo de seleção das vítimas. O médico nazista Joseph Mengele assistia à chegada dos trens em "busca de gêmeos", com os quais realizava experimentos macabros, segundo um texto da exposição.

Como prova, há uma mesa de operações, embora "não seja possível afirmar com certeza que esta é a mesa que Mengele utilizou", aponta Luis Ferreiro.

- Como mostrar as câmaras de gás? -"Cada coisa, cada detalhe, gerou um debate: como expor?", explica Fernando Arlandis, coordenador de exposições no Centro Arte Canal de Madri, que recebe a primeira etapa desta mostra itinerante.

"Pode-se recriar uma câmara de gás", para que os visitantes entrem nela - "como em um jogo", acrescenta. "Mas aqui não quisemos fazer isso, queríamos mostrar as provas físicas do que aconteceu".

O que se mostra, por exemplo, é uma máscara de gás, junto com um pote de Zyklon B, o pesticida à base de cianeto utilizado nas câmaras.

Na parede pode-se ler frases do comandante das SS de Auschwitz, Rudolf Höss, que em 1946 disse: "Observei as mortes do barracão II protegido com uma máscara de gás. Na verdade, a primeira execução com gás não me marcou muito".

Os desenhos do prisioneiro polonês Jan Komski (1915-2002) ilustram as cremações dos corpos e as humilhações diárias. Em um deles aparece um "kapo" em uma carroça movida por prisioneiros, que ele chicoteia para que continuem avançando.

Em outra sala, pode-se ver um dos barracões de madeira onde os prisioneiros ficavam amontoados.

Um milhão de judeus foram exterminados em Auschwitz a partir de 1940.

Também morreram ali poloneses não judeus, ciganos, prisioneiros de guerra soviéticos, homossexuais e pessoas de outras nacionalidades, consideradas "elementos indesejáveis" pelo Terceiro Reich de Adolf Hitler.

Piotr M. A. Cywinski, historiador polonês que dirige o museu estatal de Auschwitz, diz que agora "se sente uma presença crescente do racismo, do antissemitismo e da xenofobia".

Por isso, pensa que a exposição, gratuita para todos os alunos de centros educativos espanhóis, "pode desempenhar um papel essencial" neste momento.