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Venezuelanos elegem prefeitos em clima de ceticismo

Venezuelanos votam neste domingo para eleger prefeitos - Juan Barreto/AFP
Venezuelanos votam neste domingo para eleger prefeitos Imagem: Juan Barreto/AFP

Em Caracas

10/12/2017 17h26

Os venezuelanos votam neste domingo (10) para eleger prefeitos em um dia marcado pelo ceticismo, que observa uma nova vitória para o presidente Nicolás Maduro.

Sem a participação dos principais partidos opositores, trata-se do último teste eleitoral para o chefe de Estado antes das presidenciais de 2018, nas quais deve tentar a reeleição.

"Hoje todos temos o dever sagrado de nos expressarmos pelo voto", tuitou Maduro.

Com a crise econômica cada vez mais severa, o comparecimento de eleitores era baixo em Caracas e em cidades como San Cristóbal (fronteira com a Colômbia), observaram jornalistas da AFP.

"Estamos com uma boa participação", assegurou ministro da Comunicação e chefe de campanha do governante Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), Jorge Rodríguez.

O ministro da Defesa, general Vladimir Padrino, reportou "completa normalidade".

Na eleição, que começou às 6h locais (8h de Brasília), serão escolhidos 335 prefeitos, entre 1.568 candidatos, para um período de quatro anos. A situação governa atualmente 242 municípios e a oposição, 76. Os demais são administrados por dissidentes do governo, ou por independentes. A votação terminará às 16h locais (18h de Brasília), mas o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) costuma estendê-la enquanto houver eleitores na fila.

Com o desânimo estampado no rosto, Víctor Torres, motorista na cidade de Maracaibo (noroeste), acredita que votar não resolve o maior problema: a alta inflação, com preços subindo 2.000% este ano, segundo analistas.

"No outro dia, fui comprar banana. De manhã, custava 1.900 bolívares e, de tarde, 3.000. É impossível viver assim. Estou decepcionado com os políticos", disse Torres à AFP.

Após um aumento de 30% há um mês, a renda mínima dá apenas para comprar três quilos de carne, em meio a uma aguda escassez de alimentos, de remédios e de insumos no país com as maiores reservas de petróleo.

- Via livre -Maduro tem o caminho livre depois que os partidos de Henrique Capriles, Leopoldo López (em prisão domiciliar) e Henry Ramos Allup se negaram a participar das eleições.

Essas legendas, que dominam a coalizão Mesa da Unidade Democrática (MUD), ficaram à margem depois de denunciarem irregularidades nas eleições de 15 de outubro. Nelas, o chavismo venceu em 18 das 23 provínciais.

Mas outros opositores disputam por conta própria, agravando os rachas em uma oposição que mobilizou, na eleição anterior, dois milhões de pessoas a menos do que em 2015, quando teve um ótimo resultado nas legislativas.

"Queremos defender nosso município", disse à AFP Carmen Simosa, crítica de Maduro, que votou no município de Chacao, em Caracas, reduto opositor.

As diferenças na MUD parecem minguar, porém, a mobilização de seus eleitores.

"Se você não vota deve saber que amanhã sua casa valerá menos, que à frente podem colocar uma missão (programa social do governo)", advertiu a deputada opositora Delsa Solórzano, que convocou a participação em outro município da capital, Baruta.

Especialistas eleitorais como Eugenio Martínez acham "inviável" que a oposição possa manter metade de suas prefeituras com as deserções e a "pressão do maquinário chavista".

"Será uma vitória quase certa do governo, com alta abstenção", assinalou à AFP o cientista político Luis Salamanca.

As municipais não costumam ter muito comparecimento. Em 2013, houve 42% de participação.

Eleições presidenciais à vista

A MUD se concentra na disputa presidencial, prevista para o fim de 2018. Segundo opositores e analistas, a eleição pode ser antecipada para o primeiro trimestre, pois Maduro iria querer aproveitar a divisão de seus adversários.

Garantir "condições justas" é a sua prioridade nas negociações com o governo, na semana passada, que também dividem a MUD.

"Às vezes, deve-se sacrificar um peão pela rainha", justificou o deputado Freddy Guevara.

Maduro tem, por sua vez, o desafio de ampliar uma base eleitoral estagnada, embora bem aceita com "clientelismo", aponta Salamanca.

Após se esquivar dos protestos que queriam sua saída e deixaram 125 mortos entre abril e julho, o presidente - apoiado pelos militares - conseguiu a eleição de uma Assembleia Constituinte que rege com poderes absolutos, integrada apenas por governistas.

Desconhecida por vários países, a Assembleia ampliou o vasto poder institucional de Maduro, cuja aprovação subiu de 24,4% para 31,1%, como aponta uma pesquisa da empresa Venebarómetro realizada entre outubro e novembro.

Já a avaliação negativa da MUD aumentou de 46,1% para 65,7%.

"Temos que continuar com a revolução para não perder as ajudas que chegam. Por isso, voto e apoio a reeleição de Maduro", declarou à AFP Edie Mesa, de 55 anos, líder comunitário de Petare e beneficiário de produtos subsidiados que o governo vende para amenizar o desabastecimento.