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Alabama elege senador em meio a escândalos por republicano acusado de assédio

12/12/2017 06h01

Birmingham, Estados Unidos, 12 dez 2017 (AFP) - A campanha por uma cadeira no Senado pelo estado do Alabama chega ao fim nesta segunda-feira (11), com o presidente Donald Trump chamando a eleger o candidato republicano, o ultraconservador Roy Moore, que é acusado de assédio sexual contra menores de idade.

O desafio político e moral da eleição é tanto que o ex-presidente Barack Obama se envolveu nesta segunda-feira e convocou os eleitores a se mobilizarem a favor do candidato democrata, Doug Jones. "A situação é grave", disse em uma mensagem gravada ao telefone, segundo a mídia local. "Não se pode ficar em casa".

Os eleitores desse estado sulista tradicionalmente conservador irão escolher na terça-feira o seu segundo senador, em substituição a Jeff Sessions, designado secretário de Justiça no início do ano.

"Precisamos de Roy para que vote contra a imigração clandestina, por uma defesa mais forte e para proteger a segunda emenda (sobre armas de fogo) e nossos valores pró-vida (contra o aborto)", disse Trump em uma mensagem telefônica gravada.

"Roy Moore é o homem que nos falta para fazer a América grande de novo", completou.

O ex-assessor presidencial Stephen Bannon, autoproclamado guardião da revolução de Trump, desembarcou no Alabama para apoiar o candidato.

"É uma eleição nacional", disse em um comício na área rural de Midland City.

"A eleição é disputada entre o milagre Trump e o projeto de invalidação das eleições presidenciais", afirmou, estabelecendo Moore como um defensor do governo, que deve derrotar a imprensa chamada de "fake news".

"Estão tentando calar vocês", disse Bannon.

Além de rejeitar os direitos dos transgêneros e o casamento entre pessoas do mesmo sexo, o discurso de Moore também inclui a luta contra a imigração clandestina e uma defesa forte, duas prioridades de Trump.

Até recentemente era inimaginável que um republicano corresse o risco de perder uma eleição em um estado que não dá a vitória a um senador democrata desde 1992.

No entanto, Roy Moore é diferente de qualquer republicano. As pesquisas mostram que ele não tem mais a vantagem que registrava antes do jornal Washington Post publicar, há um mês, as primeiras acusações de mulheres que afirmam ter sido assediadas quando eram adolescentes, nos anos 1970 e 1980.

Uma pesquisa feita nesta segunda-feira pela Fox News registrava a sua derrota por uma diferença de 10 pontos. Mas outra, realizada pela Emerson, dava o resultado contrário.

- Apoio polêmico -Moore, de 70 anos, foi eleito duas vezes presidente da Suprema Corte do Alabama, mas foi deposto do cargo duas vezes: em 2003 por ter se recusado a retirar de um prédio oficial uma estátua de duas toneladas em homenagem aos Dez Mandamentos e em 2016 por ter desafiado a Suprema Corte dos Estados Unidos ao recusar-se a aplicar a decisão que legalizou o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Alguns líderes republicanos se distanciaram dele, pois rejeitam o extremismo religioso do ex-juiz, que é candidato ao Senado por ter vencido as disputadas primárias em agosto.

Mas o equilíbrio do Senado está em jogo e Trump deu apoio total ao "juiz Moore", como o chama, uma aliança pragmática entre o populismo econômico do presidente e o ativismo religioso do ex-magistrado.

"É chocante que um agressor sexual de menores seja apoiado pelo presidente", criticou a eleitora democrata em Birmingham, Zandy Moyo.

- Republicanos divididos -Para o estado-maior republicano em Washington, a eleição já representa uma derrota. Se Moore vencer, o partido teme ser prejudicado por associação; se ele perder, o partido também perderá a atual maioria no Senado, de 52 das 100 cadeiras.

"Roy Moore será um presente para os democratas", reconheceu o senador republicano Lindsey Graham. "Será um tema central nas eleições (legislativas) de 2018", disse à emissora CNN.

O candidato democrata Doug Jones, um ex-procurador federal de 63 anos, é conhecido por ter conseguido a condenação de membros da Ku Klux Klan envolvidos no incêndio de uma igreja frequentada por afro-americanos em Birmingham.

Jones aumentou o número de comícios para mobilizar a base democrata, majoritariamente negra.

"Faço política há 50 anos, vi o Alabama passar de democrata a republicano e nunca imaginei que teríamos uma oportunidade como esta, e agora temos", disse à AFP Richard Mauk, um funcionário democrata local.

O dilema republicano levará alguns a dar as costas a seu candidato, mas não necessariamente a apoiar Jones. A posição do democrata a favor do aborto é, por exemplo, um freio para muitos republicanos, que poderiam optar por eleger um terceiro candidato para salvar sua honra.